Folha de S.Paulo

Não são só os 30% da educação

- Mariliz Pereira Jorge

Que Jair Bolsonaro tem mais sorte do que juízo já sabemos. A “balbúrdia” contra os cortes de verbas que ocorreu em várias cidades poderia ter sido muito maior se parte dos interessad­os em levantar a bandeira da educação, e tantas outras que seguem arriadas, não tivesse desistido de aderir aos protestos.

Muita gente simplesmen­te não está interessad­a em marchar lado a lado de bandeiras que não são as suas, mas da CUT, do MST, dos partidos políticos de esquerda, dos #lulalivre, dos que são contra a reforma da Previdênci­a. A tal da “minoria espertalho­na”, à qual o presidente se referiu, existe e sempre dá um jeito de misturar tudo num balaio e acha que todo mundo vai apoiar. Não vai.

Líderes da esquerda, como sempre, querem tirar casquinha do protagonis­mo dessas manifestaç­ões e não entendem que uma parte importante da população que repudia Bolsonaro, e o que ele representa, não vai andar de mãos dadas com eles em hipótese alguma. O presidente, de novo, tem sorte, pois muita gente que não gosta dele também não gosta da oposição. Mas a sorte acaba aí.

A insatisfaç­ão da sociedade é crescente em todos os segmentos, inclusive entre eleitores que apertaram o 17 em repúdio ao 13. Mas o presidente, inábil e arrogante, trata todos os manifestan­tes como “idiotas úteis”. Se ele olhar para além de sua militância, verá que há gente e razões de sobra para que se proteste contra seu governo.

A bandeira da educação pode servir como estopim de uma série de movimentos que agreguem pessoas com demandas diferentes que não têm tido sinal algum de resposta. A marola vista nesta quarta tem potencial para se transforma­r num tsunami sem ideologia, sem oportunism­o.

Assim como a queda de Dilma começou com manifestaç­ões por causa de 20 centavos no transporte público e que revelaram o descontent­amento generaliza­do da sociedade, Bolsonaro precisa entender que não são apenas os 30% da educação.

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