Desafios do país vão dos Poderes às ruas, dizem pesquisadores
Diagnosticar crises e aventar soluções para a democracia brasileira, como propõe o seminário que celebra os 50 anos do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), exige perpassar áreas que vão do topo da macropolítica ao chão da mobilização social.
Os debates desta quarta (15), à altura desta ambição, colocaram em pauta os conflitos entre Poderes que, para o cientista político Fernando Limongi, estão no cerne da estrutura constitucional brasileira.
Segundo ele, o fortalecimento dos Poderes Executivo e Judiciário, heranças do período autoritário, abriu espaço para um ativismo judicial no qual o Supremo Tribunal Federal tem se outorgado a prerrogativa de interferir no funcionamento dos outros Poderes.
Um exemplo foi quando decidiu contra uma medida que criava cláusula de barreira contra legendas nanicas. “Partidos que estavam preparados para desaparecer receberam do Supremo a vida eterna”, afirmou.
As instituições brasileiras, como lembrou Maria Hermínia Tavares de Almeida, cientista política e colunista da Folha, vêm amargando período de impopularidade. Segundo ela, o parco apoio à democracia pode ser mobilizado de forma positiva ou negativa pelas lideranças do país.
A cientista política chama de “oposições desleais” aquelas que não têm compromisso com o jogo democrático e podem fazer de tudo para minálo —como, segundo ela, pode ser o caso do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
A relação com as ruas é uma peça fundamental do tabuleiro de qualquer governante, como lembraram os sociólogos Adrian Lavalle e Angela Alonso. Se o ex-presidente Lula foi hábil em incorporar movimentos sociais, Dilma falhou em manter esse diálogo vivo.
Já para o sociólogo Alvaro Comin, o problema mais difícil de resolver no Brasil “é uma elite econômica que não tem interesse no desenvolvimento do país”.
O seminário de 50 anos do Cebrap segue no Sesc Vila Mariana nesta quinta (16).