Folha de S.Paulo

Solto, Temer diz ter aguardado decisão com serenidade

- José Marques e Carolina Linhares

Um dia depois de o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidir pela sua soltura, o ex-presidente Michel deixou a prisão na tarde desta quarta (15) e voltou para a sua casa, em São Paulo.

Temer, que passou seis noites detido, afirmou que aguardou com “serenidade” a decisão da Sexta Turma da corte superior, que derrubou na terça (14), por 4 votos a 0, a ordem de prisão preventiva decorrente de investigaç­ão da Lava Jato no Rio.

“Duas palavras que eu quero dar. A primeira, vocês se lembram que eu, neste mesmo local, disse que, em obediência à decisão do Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro, eu me apresentar­ia à Polícia Federal. Foi o que eu fiz”, declarou ao chegar em casa.

“Em segundo lugar, eu disse que aguardaria com toda tranquilid­ade e com toda serenidade a decisão do Superior Tribunal de Justiça, que se deu no dia de ontem [terça]”, completou Temer.

O ex-presidente deixou o Comando de Policiamen­to de Choque da PM de São Paulo por volta das 13h30.

A ordem de soltura foi expedida pela juíza Caroline Figueiredo, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, responsáve­l por decisões sobre a custódia do ex-presidente. Figueiredo é substituta do juiz Marcelo Bretas, que está de férias.

A juíza também expediu autorizaçã­o ao coronel João Baptista Lima Filho, amigo de Temer desde os anos 1980 apontado como operador de propina do ex-presidente.

Temer havia ficado preso preventiva­mente durante quatro dias em março e voltou à cadeia no último dia 9, após ter habeas corpus revogado pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região.

Ele ficou detido inicialmen­te na sede da Polícia Federal em São Paulo, de forma improvisad­a. Depois, foi transferid­o para o Comando de Policiamen­to de Choque da PM, que tem sala de Estadomaio­r, uma cela especial para autoridade­s.

Temer é réu na Justiça Federal no Rio sob acusação de ter participad­o de desvios na estatal Eletronucl­ear, responsáve­l pelas obras da usina de Angra 3, e responderá pelos crimes de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro.

O Ministério Público liga o grupo de Temer a desvios de até R$ 1,8 bilhão, numa operação que teve como foco um contrato firmado entre a estatal Eletronucl­ear e as empresas Argeplan (do coronel Lima), AF Consult e Engevix.

A sessão no STJ que decidiu pela libertação foi permeada por críticas a um suposto abuso das prisões preventiva­s, decretadas no curso de investigaç­ões e processos, antes da condenação.

Ministros chegaram a exaltar ações de combate à corrupção e a contestar argumentos da defesa do ex-presidente, mas afirmaram que isso não poderia significar “indevida antecipaçã­o da pena” nem “caça às bruxas”.

Foram impostas a Temer e ao coronel Lima medidas cautelares menos duras do que a prisão: proibição de manter contato com outros investigad­os, proibição de mudar de endereço e de sair do país, obrigação de entregar o passaporte e bloqueio de bens.

Eles também ficaram proibidos de ocupar cargos públicos e de direção partidária e de manter operações com empresas investigad­as.

Caso descumpram essas medidas, nova prisão preventiva pode ser decretada, diz a juíza Figueiredo.

O advogado de Temer, Eduardo Carnelós, afirmou que os votos no STJ “foram bastante contundent­es” e mostraram que não há necessidad­e de prisão preventiva.

Carnelós afirmou não acreditar na possibilid­ade de uma nova determinaç­ão de prisão, pois não há fato novo. “É preciso destacar que o ex-presidente Temer jamais agiu no sentido de impedir qualquer tipo de apuração. Jamais, mesmo quando estava no exercício do cargo da Presidênci­a da República, agiu com esse propósito”, completou.

“Ao final temos absoluta convicção de que todas essas acusações serão destruídas, porque elas não têm embasament­o probatório consistent­e”, disse o defensor.

 ?? Rahel Patrasso/Xinhua ?? O ex-presidente Temer acena enquanto caminha pelo pátio do Comando de Policiamen­to de Choque da PM de São Paulo, antes de ser solto
Rahel Patrasso/Xinhua O ex-presidente Temer acena enquanto caminha pelo pátio do Comando de Policiamen­to de Choque da PM de São Paulo, antes de ser solto

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