Bovinos errantes destroem plantações e causam perdas
Um efeito colateral do endurecimento das medidas contra o abate é a epidemia de vacas errantes. Na zona rural, onde vive 66% da população, os animais que vagam pelos campos se transformaram em um pesadelo.
Eles pisoteiam plantações, comprometendo as colheitas. Muitos agricultores passam a noite em claro, vigiando os campos e espantando as vacas com pedras. A maioria não tem dinheiro para comprar arame farpado, cujo preço explodiu.
Antes, quando os animais deixavam de produzir leite, muitos os vendiam para abatedouros ou comerciantes, normalmente muçulmanos, que não os consideram sagrados. Esses, por sua vez, exportavam a carne ou o couro para Bangladesh —era ilegal, mas o governo fazia vista grossa.
Agora, as vacas não são mais vendidas. Para não ter que alimentá-las, agricultores simplesmente as soltam. Por ano, 3 milhões delas deixam de produzir leite.
Um porta-voz do BJP disse à Reuters que o governo está apenas cumprindo a lei ao fechar abatedouros clandestinos e combater os contrabandistas, e que o objetivo não é prejudicar os agricultores.
Uma opção seria deixar as vacas nos abrigos, os gaushalas —mas há apenas 1.821 no país, e a maioria em condições precárias, levando muitos animais a morrer de fome.
Não só agricultores e muçulmanos são afetados. Os dalits, que pertencem à casta mais baixa, tradicionalmente comercializam o couro dos animais mortos. Além disso, dalits e muçulmanos pobres comiam carne de vaca, mais barata.
No final, a explosão no número de vacas errantes no campo pode afetar o apoio de Modi bem no chamado “cinturão da vaca”, bloco de estados da região norte que rende milhões de votos cativos ao BJP.
Na última eleição, em 2014, a sigla levou 73 dos 80 assentos de Uttar Pradesh, o estado mais populoso da Índia — com 204 milhões de habitantes, tem quase a população de todo o Brasil.