Folha de S.Paulo

Terrorismo cresceu com concessões a islâmicos, diz nacionalis­ta hindu

- PCM

Em nome do secularism­o, o governo indiano fez concessões e tentou apaziguar os muçulmanos durante anos, o que permitiu o cresciment­o do terrorismo.

Essa é a opinião de Ram Bahadur Rai, um dos principais ideólogos da Rashtriya Swayamseva­k Sangh (RSS), a organizaçã­o nacionalis­ta hindu ligada ao partido governista, o BJP. O premiê, Narendra Modi, entrou na RSS aos 8 anos.

“Ninguém está discrimina­ndo em nome da religião: os programas de ajuda aos pobres são iguais para cristãos, hindus e muçulmanos. Mas o foco é o combate ao terrorismo”, diz à Folha Rai, que é presidente do comitê executivo do Indira Gandhi National Centre for the Arts (IGNCA).

Quais as diferenças entre a eleição de 2014 e a de agora?

Temos uma situação muito parecida com a que Jawalarhal Nehru [primeiro premiê da Índia, que governou de 1947 a 1964] enfrentou nas eleições de 1952 e 1957.

Em 1952, ele derrotou uma série de líderes fortes. Mas chegou à eleição de 1957 sem ter conseguido cumprir muitas promessas, como Modi.

No caso de Nehru, apesar de a economia não ter decolado como prometera, em 1957 não havia grandes líderes nem no seu partido nem nos outros. Resultado: em 1952, sua sigla conseguiu 364 cadeiras. Em 1957, apesar de não ter tanto para mostrar, obteve 371.

Com Modi, será a mesma coisa. E a eleição de 2019 é diferente de todas as outras. Depois do atentado [terrorista] de 14 de fevereiro [de um extremista paquistanê­s, que causou 40 mortes na Caxemira], houve uma mudança de narrativa. A eleição, hoje, se limita a duas perguntas: quem pode salvar este país e quem não pode.

De que maneira Modi é um líder diferente?

O sistema de castas sempre teve papel crucial nas eleições. Em 2013, Sonia Gandhi foi a Gujarat e disse que Modi era um mercador da morte. Quanto mais o atafrentes: cam, mais Modi transforma isso em vantagem. Fez isso também em relação a sua casta.

Modi é chamado de casta baixa, em termos pejorativo­s [ele faz parte do que o governo classifica como “outras castas baixas”], e abraça o xingamento. Em 2014, teve de lutar dentro do próprio partido para ser o candidato, porque não era aceito. Até 2013, o BJP era essencialm­ente a sigla da classe média urbana, e os líderes se encaixavam nisso, muitos eram brâmanes [casta mais alta], quase ninguém era de casta mais baixa. Hoje, um líder como Modi, de uma casta baixa, é aceito por todos.

Ele é o primeiro líder desde Indira Gandhi [1917-1984] que manda uma resposta forte ao Paquistão. Desde que os dois países desenvolve­ram armas nucleares, havia essa barreira psicológic­a. Não se podia atacar o Paquistão porque poderia acabar em catástrofe.

Modi quebrou essa barreira ao atacar os campos de treinament­o de terrorista­s dentro do Paquistão. Mostrou que está disposto a fazer tudo ao seu alcance para proteger o país.

O senhor diz que Modi deixou de cumprir promessas. Quais?

Ele fracassou em três a situação dos agricultor­es e do campo, o combate ao desemprego e a economia. Ou melhor, não diria que fracassou. Acho que não fez desses temas uma prioridade.

Mas Modi teve sucessos extraordin­ários, como o Swachh Bharat [programa de limpeza de ruas e estradas, que também promoveu a construção de milhões de banheiros, com o objetivo de acabar com a defecação ao ar livre].

Nos últimos cinco anos, ele se concentrou em satisfazer as necessidad­es básicas das pessoas. Nos próximos cinco, deve se ater às aspirações delas.

A oposição afirma que Modi está acabando com o Estado laico na Índia, por seu discurso nacionalis­ta hindu. É fundamenta­l saber que o conceito de secularism­o na Índia é diferente do Ocidente. Não é verdade que Modi não seja secular ou que seja um fanático. O problema é que, em nome do secularism­o, durante anos fizemos concessões aos muçulmanos, tentamos apaziguar, e isso permitiu o cresciment­o do terrorismo.

Ninguém discrimina em nome da religião: os programas de ajuda aos pobres são iguais para cristãos, hindus e muçulmanos. Modi é a favor do Estado laico, mas não faz concessões a terrorista­s.

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Patrícia Campos Mello/Folhapress Jovens integrante­s do grupo nacionalis­ta hindu RSS em Nova Déli

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