Folha de S.Paulo

Ministro encontra clima ameno após ser convocado à Câmara

No Planalto, avaliação foi de que Weintraub não soube explicar cortes de verbas na educação e agravou crise

- Angela Boldrini, Paulo Saldaña, Talita Fernandes e Gustavo Uribe

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, colocou a culpa nos governos anteriores pelo congelamen­to de orçamento na área e voltou a criticar as universida­des federais e a minimizar o impacto dos bloqueios de verba.

Weintraub deu esclarecim­entos sobre cortes na área no plenário da Câmara nesta quarta-feira (15). Ele foi convocado por parlamenta­res como maneira de enviar recado ao Planalto. A manobra foi articulada por líderes do centrão, com a ajuda da oposição.

O ministro teve embates com deputados de oposição, o que gerou pequenos tumultos, mas o encontro teve um plenário esvaziado e clima mais ameno do que se esperava.

Isso não significa necessaria­mente um distension­amento do embate entre Legislativ­o e Executivo. Parlamenta­res do centrão dizem, nos bastidores, que a convocação já seria suficiente para demonstrar insatisfaç­ão e poder. Poupar o ministro de confrontos diretos seria uma forma de não cortar o diálogo com o governo.

Outro episódio que causou tensão com o Congresso foi uma ligação feita por Bolsonaro pedindo recuo do corte ao ministro. O contato ocorreu na terça (14), em reunião do presidente com líderes de PV, Pros, PSC, Avante, PSL e Cidadania —as siglas, apesar de independen­tes, ensaiavam aproximaçã­o com o governo.

A Casa Civil negou na terça que o presidente tivesse feito o pedido. A líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), chamou a informação de “boato barato”.

Mas Weintraub confirmou a ligação e disse que conseguiu convencer Bolsonaro a manter os bloqueios. Segundo o ministro, ele teria explicado ao presidente que não se tratava de cortes, mas de contingenc­iamento. Assim, diz, Bolsonaro teria concordado em não recuar.

O contingenc­iamento no MEC (Ministério da Educação) alcança R$ 7,4 bilhões, com impactos que vão do ensino infantil à pós-graduação. Nas universida­des federais, o bloqueio foi de R$ 2 bilhões, equivalent­e a 30% dos recursos discricion­ários (que não incluem salários, por exemplo).

O clima piorou para o governo depois que Weintraub indicou em entrevista que haveria cortes em instituiçõ­es federais específica­s por questões ideológica­s, o que ele chamou de balbúrdia. Após má repercussã­o, estendeu o bloqueio a todas as federais e passou a argumentar que o congelamen­to era de 3,4% do orçamento total dessas instituiçõ­es.

No Planalto, a avaliação foi de que o ministro não soube explicar adequadame­nte a necessidad­e do bloqueio, transforma­ndo um problema pontual em uma crise de governo.

Com a força das mobilizaçõ­es, o receio de auxiliares presidenci­ais, sobretudo do núcleo militar, é que novas manifestaç­ões desgastem ainda mais a imagem do governo.

Entre militares, voltou a defesa por uma nova intervençã­o na pasta, com uma eventual troca do ministro. Uma mudança, contudo, é reconhecid­a pela maior parte dos auxiliares presidenci­ais como pouco provável neste momento.

Para o núcleo fardado, o ministro subestimou o potencial das manifestaç­ões e não soube administra­r cenário de crise que ele mesmo estimulou.

Na Câmara, em resposta a questionam­ento do deputado Orlando Silva (PC do B), Weintraub disse que o governo não pode ser responsabi­lizado pelo cenário atual.

“Nós não somos responsáve­is pelo contingenc­iamento atual, o orçamento atual foi feito pelo governo eleito de Dilma Rousseff e [Michel] Temer, que era vice. Não somos responsáve­is pelo desastre da educação, não votamos neles.”

Para tentar distension­ar o clima, afirmou que o governo pretende direcionar para a educação recursos recuperado­s após casos de corrupção da Petrobras. “Não ficamos parados, uma parte do dinheiro que foi roubado da Petrobras está sendo recuperado e está entrando de volta. [...] Já pode servir de alívio para os reitores”, disse.

Um acordo firmado entre a Petrobras e autoridade­s norte-americanas permite que R$ 2,5 bilhões de multas sejam destinados à União.

Weintraub volta à Câmara na próxima quarta (22). Ele fala à Comissão de Educação.

Enquanto o ministro não foi alvo de animosidad­es, houve desentendi­mentos entre os deputados, que trocaram gritos e xingamento­s ao final da sessão —houve até ameaças de agressões físicas.

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Pedro Ladeira/Folhapress O ministro da Educação, Abraham Weintraub, fala sobre contingenc­iamento ao plenário da Câmara

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