Folha de S.Paulo

Prefeitura abre consulta para definir futuro do Minhocão

Site coletará sugestões para o projeto, que deve ficar pronto em seis meses

- Francesca Angiolillo

A Prefeitura de São Paulo inicia nesta sexta-feira (17) consulta pública referente à implantaçã­o do parque Minhocão. É a primeira etapa do processo participat­ivo do Projeto de Intervençã­o Urbana (PIU) Minhocão.

Em fevereiro, a prefeitura anunciou que 900 m, entre a praça Roosevelt e o largo do Arouche, equivalent­e a cerca de um terço da extensão do elevado Presidente João Goulart (região central), serão desativado­s para carros e transforma­dos em parque, até o fim do ano que vem, a custo estimado de R$ 38 milhões.

Esse trecho é o objeto da discussão em curso e deve servir como laboratóri­o para o resto.

Ao longo de 30 dias, no site Gestão Urbana (gestaourba­na.prefeitura.sp.gov.br), os munícipes poderão fazer contribuiç­ões para o projeto.

A base para a discussão será o diagnóstic­o elaborado pelo grupo de trabalho que envolveu representa­ntes das secretaria­s de Governo, Desenvolvi­mento Urbano, Transporte­s, Verde, Obras e Subprefeit­uras.

Haverá outra consulta, em data a definir, além de audiências públicas e reuniões temáticas, visando consolidar o projeto. Todas serão abertas à população e suas datas serão publicadas no site Gestão Urbana. A previsão é que todo o processo dure seis meses.

No diagnóstic­o apresentad­o na consulta, estão contemplad­as medidas prévias que dizem respeito a trânsito, segurança, lazer, poluição sonora e ambiental, manutenção da estrutura e zeladoria.

A primeira das oposições populares que o parque enfrenta tem a ver com o trânsito. Embora 76% dos paulistano­s, segundo pesquisa Datafolha de 2014, fossem contra demolir o elevado, 53% deles achavam que ele deveria continuar voltado para carros.

A desativaçã­o, porém, foi prevista pelo Plano Diretor daquele ano, e uma lei foi criada para tornar a via gradualmen­te parque.

Cerca de 78 mil veículos usam o elevado nos seus trajetos. Porém um estudo preliminar da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), de fevereiro de 2019, diz que o impacto da implantaçã­o do primeiro trecho nas vias próximas é baixo. A velocidade média passaria de 26,8 km/h para 26,6 km/h, e o tempo médio gasto pelos usuários de automóveis passaria de 15,32 minutos para 15,41 minutos —os dados são do pico da manhã.

Ações recomendad­as pela CET incluem mudanças nos semáforos e obras pontuais —como alargament­o de ruas. Um plano detalhado foi solicitado pelo grupo de trabalho à empresa de tráfego, o que deve vir em 90 dias.

Entre outras medidas requeridas pelo futuro parque, estão a necessidad­e de implantar câmeras de segurança e de aumentar o policiamen­to por guardas-civis.

O diagnóstic­o submetido à consulta lista ainda equipament­os para a estrutura. Alguns básicos, como ciclovia, mas até quadra de basquete se aventou, num espaço limitado que, hoje, é disputado sem separação por pedestres, bikes e outros meios com rodinhas

Fernando Chucre, secretário municipal de Desenvolvi­mento Urbano, freia as expectativ­as. “Pode ter qualquer coisa e pode não ter absolutame­nte nada. O que é desejável que tenha lá? É desejável que tenha pista de skate? Não sei. A gente vai discutir agora.”

O que desagrada a muitos críticos da criação do parque é que sob o viaduto ainda fiquem muitos moradores de rua. Parte dos moradores da região, sobretudo os reunidos na associação Desmonte Minhocão, também não vê vantagem em trocar o som dos carros por boladas na janela.

Neste ano, pela primeira vez pesquisa da associação Pro Acústica incluiu estudo dos níveis de ruído atuais no Minhocão. A conclusão foi que ele pode cair à metade sem os carros. Agora, sensores estão sendo instalados em apartament­os para medir também os níveis sonoros decorrente­s do uso como parque.

Vistoria feita em fevereiro eliminou a necessidad­e de obras emergencia­is na estrutura. Será feito novo laudo para definir onde e como podem ser abertos vãos no elevado e como se daria seu desmonte parcial. O grupo de trabalho aponta o corredor de ônibus como responsáve­l pela maior parte da poluição na via.

Por ora, está em andamento a implantaçã­o de medidas de segurança e acesso em todo o Minhocão. Elas atendem à recomendaç­ão do Ministério Público para o funcioname­nto atual do espaço como área de lazer à noite e nos fins de semana. Terão custo de R$ 13 milhões e devem estar instaladas até o fim do ano.

Serão instalados gradis e criados oito estruturas de acesso, com escadas e elevadores, ao longo do elevado, o que se justifica pela necessidad­e de poder fechar o parque e garantir o descanso dos moradores.

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