Prefeitura abre consulta para definir futuro do Minhocão
Site coletará sugestões para o projeto, que deve ficar pronto em seis meses
A Prefeitura de São Paulo inicia nesta sexta-feira (17) consulta pública referente à implantação do parque Minhocão. É a primeira etapa do processo participativo do Projeto de Intervenção Urbana (PIU) Minhocão.
Em fevereiro, a prefeitura anunciou que 900 m, entre a praça Roosevelt e o largo do Arouche, equivalente a cerca de um terço da extensão do elevado Presidente João Goulart (região central), serão desativados para carros e transformados em parque, até o fim do ano que vem, a custo estimado de R$ 38 milhões.
Esse trecho é o objeto da discussão em curso e deve servir como laboratório para o resto.
Ao longo de 30 dias, no site Gestão Urbana (gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br), os munícipes poderão fazer contribuições para o projeto.
A base para a discussão será o diagnóstico elaborado pelo grupo de trabalho que envolveu representantes das secretarias de Governo, Desenvolvimento Urbano, Transportes, Verde, Obras e Subprefeituras.
Haverá outra consulta, em data a definir, além de audiências públicas e reuniões temáticas, visando consolidar o projeto. Todas serão abertas à população e suas datas serão publicadas no site Gestão Urbana. A previsão é que todo o processo dure seis meses.
No diagnóstico apresentado na consulta, estão contempladas medidas prévias que dizem respeito a trânsito, segurança, lazer, poluição sonora e ambiental, manutenção da estrutura e zeladoria.
A primeira das oposições populares que o parque enfrenta tem a ver com o trânsito. Embora 76% dos paulistanos, segundo pesquisa Datafolha de 2014, fossem contra demolir o elevado, 53% deles achavam que ele deveria continuar voltado para carros.
A desativação, porém, foi prevista pelo Plano Diretor daquele ano, e uma lei foi criada para tornar a via gradualmente parque.
Cerca de 78 mil veículos usam o elevado nos seus trajetos. Porém um estudo preliminar da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), de fevereiro de 2019, diz que o impacto da implantação do primeiro trecho nas vias próximas é baixo. A velocidade média passaria de 26,8 km/h para 26,6 km/h, e o tempo médio gasto pelos usuários de automóveis passaria de 15,32 minutos para 15,41 minutos —os dados são do pico da manhã.
Ações recomendadas pela CET incluem mudanças nos semáforos e obras pontuais —como alargamento de ruas. Um plano detalhado foi solicitado pelo grupo de trabalho à empresa de tráfego, o que deve vir em 90 dias.
Entre outras medidas requeridas pelo futuro parque, estão a necessidade de implantar câmeras de segurança e de aumentar o policiamento por guardas-civis.
O diagnóstico submetido à consulta lista ainda equipamentos para a estrutura. Alguns básicos, como ciclovia, mas até quadra de basquete se aventou, num espaço limitado que, hoje, é disputado sem separação por pedestres, bikes e outros meios com rodinhas
Fernando Chucre, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, freia as expectativas. “Pode ter qualquer coisa e pode não ter absolutamente nada. O que é desejável que tenha lá? É desejável que tenha pista de skate? Não sei. A gente vai discutir agora.”
O que desagrada a muitos críticos da criação do parque é que sob o viaduto ainda fiquem muitos moradores de rua. Parte dos moradores da região, sobretudo os reunidos na associação Desmonte Minhocão, também não vê vantagem em trocar o som dos carros por boladas na janela.
Neste ano, pela primeira vez pesquisa da associação Pro Acústica incluiu estudo dos níveis de ruído atuais no Minhocão. A conclusão foi que ele pode cair à metade sem os carros. Agora, sensores estão sendo instalados em apartamentos para medir também os níveis sonoros decorrentes do uso como parque.
Vistoria feita em fevereiro eliminou a necessidade de obras emergenciais na estrutura. Será feito novo laudo para definir onde e como podem ser abertos vãos no elevado e como se daria seu desmonte parcial. O grupo de trabalho aponta o corredor de ônibus como responsável pela maior parte da poluição na via.
Por ora, está em andamento a implantação de medidas de segurança e acesso em todo o Minhocão. Elas atendem à recomendação do Ministério Público para o funcionamento atual do espaço como área de lazer à noite e nos fins de semana. Terão custo de R$ 13 milhões e devem estar instaladas até o fim do ano.
Serão instalados gradis e criados oito estruturas de acesso, com escadas e elevadores, ao longo do elevado, o que se justifica pela necessidade de poder fechar o parque e garantir o descanso dos moradores.