Folha de S.Paulo

Pelé pode perder homenagem em estádio para Marta

Projeto que tramita na Assembleia alagoana renomeia maior arena de Maceió, única a celebrar o ex-jogador

- Alex Sabino

O único estádio utilizado para futebol profission­al no Brasil com homenagem a Pelé pode mudar de nome.

Está na Comissão de Constituiç­ão e Justiça da Assembleia Legislativ­a de Alagoas um projeto que retira a homenagem ao ex-jogador no maior estádio de Maceió. A ideia do deputado estadual Antonio Albuquerqu­e (PTB) é que o local seja rebatizado como Rainha Marta, em homenagem à atleta nascida no estado.

O governador Renan Filho (MDB) não se manifestou, mas dirigentes locais não são entusiasta­s da ideia. Alguns afirmaram à Folha que Pelé é contrário à mudança e não ficou contente. Porém, consultado pela reportagem, ele disse apoiar a alteração.

“A Marta é o Pelé de saias. Acho muito justa a homenagem. É uma pena que não poderei fazer uma tabelinha com ela na reinaugura­ção”, brincou ele, em declaração enviada por sua assessoria.

Marta nasceu em Dois Riachos, a 191 km de Maceió, onde ainda mora sua família. Ela esteve no estádio na estreia do CSA em casa no Brasileiro, no último dia 1º, contra o Palmeiras. Antes da partida, a jogadora da seleção deu uma volta ao redor do gramado e posou para fotos com torcedores.

No ano passado, ela já havia comparecid­o em partidas na Série B. Uma delas em Caxias do Sul, contra o Juventude, sacramento­u o acesso do time para a elite do país.

Marta disse em entrevista­s que, quando está fora do país, procura pela internet por transmissõ­es do CSA.

“A escolha de Pelé para o nome do estádio foi por causa do êxtase no país após a conquista da Copa de 1970. Mas não havia nenhum laço entre ele e o estado”, afirma Antonio Albuquerqu­e, autor do projeto.

O estádio foi inaugurado quatro meses após a conquista da seleção no México, em outubro de 1970. Mas a construção havia sido iniciada dois anos antes. Pelé participou da primeira partida no campo, entre o Santos e um combinado de times alagoanos.

Em 2010, ele também fez parte da reinaugura­ção do estádio após reforma.

Marta, eleita pela Fifa seis vezes a melhor jogadora do planeta, nunca atuou profission­almente no local nem defendeu uma equipe do estado natal. Seu primeiro time foi o Vasco, no Rio.

Não é a primeira vez que existe a tentativa de rebatizar o estádio para Rainha Marta.

Em 2008 já havia sido apresentad­o projeto idêntico ao de Albuquerqu­e, feito pelo deputado Temóteo Correa (DEM) e aprovado na Assembleia por 15 votos a 6. Mas o governador Teotônio Vilela Filho (PSDB) vetou, sob a alegação que seria uma descortesi­a com Pelé alterar o nome do estádio.

“É deselegant­e com o maior atleta da história”, disse.

Se desta vez a mudança emplacar, Marta será a primeira jogadora de futebol do país homenagead­a com um nome de estádio.

“Tem um longo caminho para isso [o projeto de lei] percorrer, mas não acredito que vai dar certo [a mudança de nome]. É uma história antiga”, diz Rafael Tenório, presidente do CSA, que manda seus jogos do Campeonato Brasileiro no campo. Tenório é suplente do senador Renan Calheiros (MDB-AL), pai do governador Renan Filho.

O estádio da capital alagoana é o único usado profission­almente no país a homenagear Pelé. Isso se deve em parte ao fato de o governo estadual ignorar uma lei —o que pode ser lembrado em caso de alteração para Rainha Marta.

A lei federal 6.454, promulgada em 1977, proíbe a utilização de nomes de pessoas vivas para batizar qualquer bem público. Na época, o estádio alagoano já existia como Rei Pelé; ele vai continuar assim, a não ser que o governo estadual decida mesmo por homenagear Marta.

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