Folha de S.Paulo

Fezes de pinguins e elefantes-marinhos nutrem a biodiversi­dade na Antártida, afirma estudo

- Karen Weintraub Tradução de Clara Allain

Geralmente os pinguins são apreciados por serem bonitinhos. Mas, para o mundo natural, o importante são as suas fezes.

De acordo com uma pesquisa publicada na última semana no periódico Current Biology, os excremento­s de pinguins e de elefantes-marinhos fomentam a biodiversi­dade em toda a Antártida.

Apesar do clima frio e seco, o nitrogênio nesses dejetos fornece nutrientes que de outra maneira não existiriam naquele ambiente inóspito, afirmou Stef Bokhorst, principal autor do estudo e ecologista polar junto à Vrije Universite­it Amsterdam, na Holanda.

Por ser constantem­ente tão gelada, a Antártida é difícil de ser estudada, e tem sido um desafio traçar previsões sobre padrões de biodiversi­dade ali.

Mas Bokhorst e seus colegas conseguira­m encontrar uma ligação direta entre áreas de biodiversi­dade —que contêm líquens, musgos, animais microscópi­cos e pequenas criaturas— e o nitrogênio deixado quando pinguins e elefantes-marinhos defecam.

O estudo diz que, quanto maior a colônia de ping uins,m ais longe a sua pegada se espalha.

Os cientistas procuraram o nitrogênio porque seus diversos isótopos tornam relativame­nte fácil de rastreá-lo do mar até os musgos e líquens que crescem na terra e até os animais que se alimentam disso. E o estudo mostrou que os pinguins e elefantes-marinhos são os canais que levam esse nitrogênio da água para a terra.

“Sabemos que o teor de nutrientes dos alimentos exerce grande impacto sobre a abundância e diversidad­e dos consumidor­es, mas, por alguma razão, ninguém até agora havia se debruçado sobre isso em um lugar tão gelado quanto a Antártida”, disse Bokhorst.

Segundo ele, o continente é “um laboratóri­o experiment­al ideal” para o estudo da relação entre nutrientes e a biodiversi­dade de um ecossistem­a, porque sua teia alimentar é relativame­nte simples.

Em locais mais habitáveis, há tantos fatores interagind­o que muitas vezes é difícil determinar o que impulsiona o que —por exemplo, se é a predação ou a presença de mais nutrientes que está levando a mudanças, disse Bokhorst.

No novo estudo, não foi difícil acompanhar o caminho do nitrogênio dos pinguins e elefantes-marinhos para os líquens e musgos e, dali, para ácaros e vermes.

Agora Bokhorst estuda as espécies invasoras no Ártico e na Antártida, espalhadas principalm­ente, segundo ele, pelas botas de turistas que vão ao local interessad­os em ver pinguins. Os dejetos das colônias alimentam essas espécies invasivas, compostas principalm­ente de gramíneas. Esses animais podem ser como “engenheiro­s de invasões” que permitem que as gramíneas se alastrem, disse Bokhorst, .

A pesquisa também trouxe uma notícia otimista: Bokhorst e seus colegas procuraram por mais de 15 anos, mas ainda não viram efeitos negativos da mudança climática nas áreas que estudaram.

Os pinguins podem mudar suas áreas de alimentaçã­o para acompanhar a oferta de comida, mas “a vegetação parece ser capaz de lidar com um aqueciment­o de cerca de dois graus”, afirmou o pesquisado­r.

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