Variedade de atrações no litoral da Austrália requer desapego do viajante
Em seus 243 km, Great Ocean Road passa por falésias, montanhas, praias e pequenas cidades
Estrada é um lugar diferente. De tudo. Os 243 quilômetros no sudeste da Austrália —que fazem da Great Ocean Road uma das mais bonitas rodovias costeiras do mundo— poderiam ser percorridos em poucas horas. Levei dois dias. E foi pouco.
Serpenteando o mar, as montanhas e as falésias, esse é daqueles caminhos que te fazem parar várias vezes. Saindo de Torquay (a 105 quilômetros da cosmopolita Melbourne, capital do estado de Victoria) até Allansford, um dos pontos mais setentrionais do país, três dias é o tempo ideal para conhecê-la. E qualquer rodovia com esse tamanho que necessite de mais de... vamos lá... um dia para ser visitada já mereceria atenção.
Logo de cara, o que se abriu aos meus olhos foi um mar de ondas perfeitas, prenunciando o que estava pela frente: a Surf Coast. Não por acaso, em Torquay está o Museu Nacional do Surfe, uma marca da cultura australiana, e a apenas dez minutos de carro, Bells Beach, uma das praias mais famosas da Austrália, que recebe todos os anos uma das etapas do Campeonato Mundial de Surfe.
Carro, aliás, é uma das melhores formas de viajar por ali. Em Melbourne, agências de turismo oferecem viagens em ônibus e vans. Mas, como estradas são lugares diferentes, umas mais, outras menos, esse é um dos casos em que vale a pena ter liberdade para fazer seu próprio itinerário —ou, no máximo, de carona com um pequeno e democrático grupo.
Se optar pelo carro, tenha em mente que é sempre bom treinar um pouco e deixar seus reflexos se acostumarem com a mão inglesa antes de pegar a estrada.
Os pontos de parada à beira da Great Ocean Road ajudam a explicar o porquê de dois dias terem sido pouco. Seguros, e com vistas incríveis, é meio impossível passar por um deles e não se sentir culpado. Sério. Seguir viagem sem estacionar e checar se é tudo isso mesmo que o local promete, ou só para sentir o vento do mar de um lado e ouvir o barulho da natureza do outro, é certeza de que vai bater um arrependimento. Mas, se você não for perfeccionista, dá para aguentar, basta se deixar levar.
E se deixando levar, mesmo sem planejar, topa-se com tesouros pelo caminho.
A cerca de 40 quilômetros de Bells Beach está Lorne, uma cidadezinha à beira-mar com menos de 2.000 habitantes e charme inversamente proporcional ao seu tamanho. Uma sequência de cafés, lojas e restaurantes dão vida ao lugar. Não espere muvuca, a cidade segue o ritmo da viagem. Devagar e intensa.
Dali até o ponto alto do caminho, os Doze Apóstolos, que todo viajante espera conhecer quando coloca o pé nessa estrada, são mais 134 quilômetros. Desnecessário medir o tempo.
Ainda era dia quando vi os primeiros contornos dessa formação que o próprio tempo se incumbiu de separar das falésias e deixar isolada no mar. Resultado de milhares de anos de erosão, restam 8 das 12 torres de calcário originais.
Não havia dúvidas, era o ponto alto da viagem, que seguiu mais 76 quilômetros até Warrnambool, conhecida por seus pontos para avistamento de baleias, passando Allansford e, portanto, o ponto final da Great Ocean Road.
Mas como estradas são lugares muito diferentes, o ponto alto foi o caminho tingido de vermelho pela luz do fim do dia que se abriu a minha frente quando deixei os Doze Apóstolos. Nessa hora, uma nova estrada apareceu, uma nova viagem começou.