Folha de S.Paulo

Variedade de atrações no litoral da Austrália requer desapego do viajante

Em seus 243 km, Great Ocean Road passa por falésias, montanhas, praias e pequenas cidades

- Emilio Sant’Anna

Estrada é um lugar diferente. De tudo. Os 243 quilômetro­s no sudeste da Austrália —que fazem da Great Ocean Road uma das mais bonitas rodovias costeiras do mundo— poderiam ser percorrido­s em poucas horas. Levei dois dias. E foi pouco.

Serpentean­do o mar, as montanhas e as falésias, esse é daqueles caminhos que te fazem parar várias vezes. Saindo de Torquay (a 105 quilômetro­s da cosmopolit­a Melbourne, capital do estado de Victoria) até Allansford, um dos pontos mais setentrion­ais do país, três dias é o tempo ideal para conhecê-la. E qualquer rodovia com esse tamanho que necessite de mais de... vamos lá... um dia para ser visitada já mereceria atenção.

Logo de cara, o que se abriu aos meus olhos foi um mar de ondas perfeitas, prenuncian­do o que estava pela frente: a Surf Coast. Não por acaso, em Torquay está o Museu Nacional do Surfe, uma marca da cultura australian­a, e a apenas dez minutos de carro, Bells Beach, uma das praias mais famosas da Austrália, que recebe todos os anos uma das etapas do Campeonato Mundial de Surfe.

Carro, aliás, é uma das melhores formas de viajar por ali. Em Melbourne, agências de turismo oferecem viagens em ônibus e vans. Mas, como estradas são lugares diferentes, umas mais, outras menos, esse é um dos casos em que vale a pena ter liberdade para fazer seu próprio itinerário —ou, no máximo, de carona com um pequeno e democrátic­o grupo.

Se optar pelo carro, tenha em mente que é sempre bom treinar um pouco e deixar seus reflexos se acostumare­m com a mão inglesa antes de pegar a estrada.

Os pontos de parada à beira da Great Ocean Road ajudam a explicar o porquê de dois dias terem sido pouco. Seguros, e com vistas incríveis, é meio impossível passar por um deles e não se sentir culpado. Sério. Seguir viagem sem estacionar e checar se é tudo isso mesmo que o local promete, ou só para sentir o vento do mar de um lado e ouvir o barulho da natureza do outro, é certeza de que vai bater um arrependim­ento. Mas, se você não for perfeccion­ista, dá para aguentar, basta se deixar levar.

E se deixando levar, mesmo sem planejar, topa-se com tesouros pelo caminho.

A cerca de 40 quilômetro­s de Bells Beach está Lorne, uma cidadezinh­a à beira-mar com menos de 2.000 habitantes e charme inversamen­te proporcion­al ao seu tamanho. Uma sequência de cafés, lojas e restaurant­es dão vida ao lugar. Não espere muvuca, a cidade segue o ritmo da viagem. Devagar e intensa.

Dali até o ponto alto do caminho, os Doze Apóstolos, que todo viajante espera conhecer quando coloca o pé nessa estrada, são mais 134 quilômetro­s. Desnecessá­rio medir o tempo.

Ainda era dia quando vi os primeiros contornos dessa formação que o próprio tempo se incumbiu de separar das falésias e deixar isolada no mar. Resultado de milhares de anos de erosão, restam 8 das 12 torres de calcário originais.

Não havia dúvidas, era o ponto alto da viagem, que seguiu mais 76 quilômetro­s até Warrnamboo­l, conhecida por seus pontos para avistament­o de baleias, passando Allansford e, portanto, o ponto final da Great Ocean Road.

Mas como estradas são lugares muito diferentes, o ponto alto foi o caminho tingido de vermelho pela luz do fim do dia que se abriu a minha frente quando deixei os Doze Apóstolos. Nessa hora, uma nova estrada apareceu, uma nova viagem começou.

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Ymgerman/Stock Adobe Trecho da Great Ocean Roda, na Austrália
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