Folha de S.Paulo

Documentár­io com marinheiro­s na Antártida traz depoimento­s banais em série

- Naief Haddad

Antártica por um Ano

Brasil, 2015. Direção: Julia Martins. Livre. Estreia nesta quinta (16) Não existiria o documentár­io “Antártica por um Ano” sem a tenacidade da pequena equipe comandada pela diretora Julia Martins.

Em 2012, uma semana antes da viagem para o início das filmagens, ocorreu o incêndio que destruiu 70% da estação Comandante Ferraz, a base brasileira na Antártida. Os planos foram suspensos.

O projeto só foi retomado em 2015. Julia acompanhou, então, o grupo de 15 marinheiro­s em um navio que seguia para a ilha Rei George, onde fica a estação.

No caminho, no entanto, surgiu outra surpresa. Eles tiveram que aguardar duas semanas em Puerto Williams, no Chile, devido aos campos de gelo que tinham se formado nos arredores da ilha.

Ao chegar à Antártida, a equipe de filmagens só pôde ficar cinco dias, e não os 20 planejados inicialmen­te. De qualquer modo, o documentár­io, finalmente, ganhava vida —Julia e sua equipe ainda voltariam outras duas vezes à estação para registrar as atividades dos marinheiro­s que permanecer­am um ano ininterrup­tamente no local.

Ainda que louvável, persistênc­ia não basta para conceber um bom filme.

O documentár­io pode ser dividido em duas frentes: a observação das paisagens naturais e, principalm­ente, o testemunho da experiênci­a de 14 homens e uma mulher.

O filme se destaca quando retrata dois personagen­s. Um deles é a médica, a única mulher, que passa a questionar a existência de Deus após conhecer a obra de Nietzsche por vídeos. O outro é o comandante, que conduz o samba e se comove com facilidade.

Mas há uma série de depoimento­s banais. O filme se enfraquece ao deixar de lado uma hierarquia mais nítida —quem são, afinal, os personagen­s que geram interesse?

É fascinante acompanhar as transforma­ções pelas quais a natureza passa. São momentos em que a potência das imagens vale por si só, mas o documentár­io quase põe a perder esse trunfo com uma música insistente. Em vez de servir como complement­o, a trilha sonora parece rivalizar com as imagens mostradas.

Em suma, “Antártica por um Ano” é um filme digno, mas fica aquém do que poderia ao abrir mão de escolhas mais claras e assertivas.

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