Contêineres recortados e empilhados se transformam em casa sustentável
Modelo de construção exige menos material e tempo de obra, mas requer manutenção atenta
Morar em um contêiner não significa viver em um espaço apertado ou ter de lidar com o calor. As caixas de metal são uma alternativa cada vez mais em uso para quem procura uma moradia sustentável e mais barata do que a de alvenaria.
Os contêineres utilizados nesses imóveis costumam ter 3, 6 ou 12 metros de comprimento e cerca de 2,5 metros de largura. As caixas podem ser unidas como blocos de montar, formando estruturas diversas em que funcionam desde pequenos escritórios a apartamentos de luxo.
A instalação de uma casacontêiner não requer fundação, por isso é mais simples e exige menos material do que uma obra tradicional. Um contêiner in natura, sem os tratamentos necessários para ser usado como imóvel, custa de R$ 15 mil a R$ 17 mil, segundo a especialista em arquitetura sustentável Fabíola Costa e Silva, que desenha projetos com o material.
Dependendo do projeto interno, a economia pode chegar a até 50% do valor de uma casa similar de alvenaria. Já a construção pode ficar pronta em apenas um mês, segundo a arquiteta. “E sem produzir lixo nenhum. Se você faz algum corte no contêiner, pode aproveitar o material para fazer o terraço ou a porta.”
A arquiteta participou no mês passado da feira Expo Container City, que discutiu em São Paulo temas como conforto térmico, segurança e legalização dessas estruturas.
Projetos residenciais ou comerciais adaptam dois tipos de contêineres: o marítimo e o modular. O primeiro, usado para armazenamento e transporte de mercadorias, é mais resistente, mas demanda um preparo prévio que inclui limpeza, funilaria, pintura, revestimentos e acabamentos.
O segundo, com paredes encaixadas, é mais flexível e pode ser fabricado em larga escala na indústria.
O arquiteto Felipe Savassi, especializado nesse modelo, diz que o principal receio em usar contêineres é o conforto térmico. Um projeto mal executado pode fazer com que a estrutura de metal funcione como um forno.
Para que isso não aconteça, diz Savassi, a orientação do contêiner deve ser contrária ao sol poente. Além disso, é preciso tomar cuidado com passagens de ar, já que vãos permitem maior incidência dos raios solares.
Para melhor durabilidade, a estrutura do contêiner exige manutenção constante, principalmente com a pintura externa, que deve ser reparada ao menor sinal de amarelamento ou pontos de corrosão.
Foi no porto do Caju, no Rio de Janeiro, que a empresária Carlota Carvalho, 44, buscou a matéria-prima para construir a sua casa. Comprou três contêineres marítimos por R$ 9.500 cada um.
A obra em Nova Friburgo (RJ) durou cinco meses. A documentação é si mil arà de uma casa de alvenaria, exige aprovação prévia do projeto na prefeitura.
Para unir os contêineres e criar os espaços, também foi utilizado steel frame —estruturas de aço galvanizado revestidas por placas. Isso possibilitou fazer cômodos mais amplos e dar aparência de alvenaria às caixas. A estrutura recebeu impermeabilização emantas térmicas, e as paredes foram forradas de gesso.
Não foi preciso contratar mão de obra especializada, afirma Carlota, que trabalha no ramo de construção. “O importante mesmo éter um bom serralheiro para fazer os cortes e as soldas.”
A empresária não quis revelar o custo da casa de 274 m², mas diz que foi equivalente ao de uma construção de alvenaria, por conta dos materiais utilizados. Para ela, as vantagens foram a sustentabilidade e a rapidez da obra. “É um produto que seria descartado eque já vem com piso, teto e paredes.”