Guedes e Bolsonaro veem caos em 2020 se reforma não sair
Ministro declara que pode renunciar se Previdência não for aprovada pelo Congresso, e presidente ecoa tom alarmista
Jair Bolsonaro (PSL) elevou o tom ontem do discurso em torno da urgência da aprovação da reforma da Previdência, após o ministro Paulo Guedes afirmar que renunciará se a proposta do governo virar uma “reforminha”.
A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) prevê uma economia de mais de R$ 1 trilhão em dez anos.
Guedes, em entrevista à revista Veja, também disse que o país pode quebrar já em 2020 sem as mudanças.
No Recife, em sua primeira visita ao Nordeste, Bolsonaro declarou que o ministro tem o direito de deixar o governo, pois “está vendo uma catástrofe” caso o projeto não avance. Voltou ao tema outras vezes no dia.
O presidente da comissão especial da reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PRAM), afirmou que, com ou sem Guedes no governo, a proposta vai ser aprovada.
“A Câmara tem compromisso com a reforma independentemente desse discurso que beira a chantagem. Com ele ou sem ele, vai ter reforma.”
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) elevou nesta sexta-feira (24) o tom do discurso em torno da urgência da aprovação da reforma da Previdência, após o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmar que renunciará se a proposta do governo virar uma “reforminha”.
Guedes alertou também, em entrevista publicada no site da revista Veja, para o fato de que o país pode quebrar já em 2020 sem as mudanças nas aposentadorias e pensões.
A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) prevê uma economia de mais de R$ 1 trilhão em dez anos.
No Recife, em sua primeira visita ao Nordeste como presidente da República, Bolsonaro disse que o ministro tem o direito de deixar o governo e o entende porque “está vendo uma catástrofe” caso a reforma não avance.
Ao longo do dia, o presidente reagiu à declaração do ministro e tratou da importância da reforma por diversas vezes, em entrevistas e em redes sociais.
O Ministério da Economia emitiu uma nota, à noite, para reafirmar “o total compromisso” de Guedes “com a retomada do crescimento econômico do país”. “[A pasta] rechaça qualquer hipótese de que [o ministro] posso se afastar desse propósito”, afirmou.
O vaivém de declarações começou depois da publicação da entrevista de Guedes. “Pego um avião e vou morar lá fora. Já tenho idade para me aposentar”, disse ele a Veja.
“Se não fizermos a reforma, o Brasil pega fogo. Vai ser o caos no setor público, tanto no governo federal como nos estados e municípios”, afirmou.
Guedes disse que pode deixar o governo, mas afirmou não ser irresponsável.
“Eu não sou inconsequente. Ah, não aprovou a reforma, vou embora no dia seguinte. Não existe isso”, afirmou.
“Agora, posso perfeitamente dizer assim: ‘Olha, já fiz o que tinha de ter sido feito. Não estou com vontade de ficar, vou dar uns meses, justamente para não criar problemas, mas não dá para permanecer no cargo’. Se só eu quero a reforma, vou embora para casa”, disse Guedes.
Segundo a Veja, Guedes afirmou que Bolsonaro está totalmente empenhado em aprovar a reforma nos moldes do texto original enviado ao Congresso Nacional.
Ele reconheceu, porém, que há uma margem de negociação. Guedes disse que o limite de concessão da reforma da Previdência com os congressistas é para uma economia de R$ 800 bilhões.
Na nota, contudo, o ministério disse que ele reitera “absoluta confiança no trabalho do Congresso Nacional, instituição com a qual mantém excelente diálogo, para garantir a aprovação da Nova Previdência com economia superior a R$ 1 trilhão”.
No Rio de Janeiro, em agendas oficiais, o ministro não falou com a imprensa sobre a repercussão da entrevista ao site da revista Veja nem sobre as declarações do presidente.
Bolsonaro, desde cedo, teve de tratar do assunto.
“É um direito dele [sair], ninguém é obrigado a continuar como ministro meu”, afirmou no Recife.
Na capital de Pernambuco, ele discutiu o Plano de Desenvolvimento do Nordeste, que tem o objetivo de estimular a economia na região, em reunião da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). O governo disse que quer enviar o projeto para aprovação do Congresso até agosto.
“O que Paulo Guedes vê, e ele não é nenhum vidente, nem precisa ser, para entender que o Brasil vai viver um caos econômico sem essa reforma”, disse o presidente.
Na abertura da reunião Bolsonaro fez um “apelo” aos governadores pela Previdência.
“Nós temos um desafio pela frente, e não é meu, é também dos senhores, governadores e prefeitos, independentemente da questão partidária, é a reforma da Previdência, sem a qual não podemos sonhar em botar em prática parte do que nós estamos acertando aqui nesse momento”, disse.
Paulo Guedes ministro da Economia à Veja Jair Bolsonaro presidente da República Marcelo Ramos (PR-AM) presidente da comissão especial da reforma da Previdência
Após o compromisso no Recife, o presidente viajou para Petrolina, no sertão pernambucano. Lá, Bolsonaro voltou a falar de Guedes.
Ele disse que o Brasil não precisará mais de ministro da Economia se a reforma da Previdência não for aprovada como o governo deseja. “Se não tiver reforma, ele tem de ir para a praia. Não precisa mais de ministro da Economia. Vai fazer o que em Brasília?”, questionou.
Bolsonaro usou um tom alarmista, disse que o Brasil entraria em caos econômico caso as mudanças não sejam realizadas e tentou ser irônico. “Se for uma reforma de japonês, ele [Guedes] vai embora. Lá [no Japão], tudo é miniatura”, disse o presidente.
Antes de falar com jornalistas, o presidente participou da solenidade de inauguração de um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida.
Bolsonaro foi também para as redes sociais para reafirmar a força do seu bom relacionamento com Guedes.
Segundo o presidente, a relação segue “mais forte do que nunca” e brincou que, caso não consiga aprovar a reforma previdenciária, precisará de um ministro da Alquimia.
No Twitter, ele tentou minimizar a repercussão de declaração de Guedes a Veja.
“Peço desculpas por frustrar a tentativa de parte da mídia de criar um virtual atrito entre eu [sic] e Paulo Guedes. Nosso casamento segue mais forte do que nunca. No mais, caso não aprovemos a Previdência, creio que deva trocar o ministro da Economia pelo da Alquimia, só assim resolve”, escreveu.
Guedes, que tem o apoio do mercado financeiro, é considerado um dos fiadores da gestão do presidente.
Ele tem enfrentado dificuldades em viabilizar a votação da proposta, que já foi desidratada em sua tramitação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Agora, o texto está em discussão em comissão especial.
Pego um avião e vou morar lá fora. Já tenho idade para me aposentar
Se não fizermos a reforma, o Brasil pega fogo. Vai ser o caos no setor público, tanto no governo federal como nos estados e municípios
Se for uma reforma de japonês, ele [Guedes] vai embora. Lá [no Japão], tudo é miniatura
A Câmara tem compromisso com a reforma independentemente desse discurso [de Guedes] que beira à chantagem. Ele é importante, mas, com ele ou sem ele, vai ter reforma