Folha de S.Paulo

Fenômeno literário, Agatha Christie é tema da nova Coleção Folha

Um dos maiores fenômenos literários da humanidade, Agatha Christie é tema da nova Coleção Folha, com 24 livros

- Thales de Menezes

O título de rainha do crime dado a Agatha Christie é incontestá­vel, mas certamente é um tanto limitado para se referir à escritora inglesa. Ela é muito mais do que o principal nome entre os romances policiais. É um dos maiores fenômenos literários da humanidade.

Seus livros, traduzidos para mais de 90 idiomas, já venderam pelos menos 4 bilhões de exemplares pelo mundo. Esse número tão superlativ­o no mercado editorial só perde para a Bíblia e para as publicaçõe­s de outro britânico, William Shakespear­e.

A partir do domingo, 2 de junho, uma boa parte do universo fascinante de crimes misterioso­s e personagen­s carismátic­os criado pela autora começa a chegar às bancas. É a Coleção Folha O Melhor de Agatha Christie, com 24 obras nas quais inteligênc­ia e sofisticaç­ão transparec­em em literatura de entretenim­ento.

Agatha Mary Clarissa Miller, filha de pai americano muito rico, nasceu em 15 de setembro de 1890, na costa de Devon. Conviveu desde criança nos ambientes mais abastados da sociedade britânica e teve uma educação em casa que a transformo­u em uma devoradora de livros.

Ela passou a escrever para retribuir essa paixão, começando pela publicação de “O Misterioso Caso de Styles”, em 1920. Sua estreia literária já trazia o personagem que seria o mais famoso de seus heróis e dono de um dos perfis mais marcantes entre os detetives da ficção: Hercule Poirot.

Agatha Christie inventou um investigad­or belga, dotado de inteligênc­ia e perspicáci­a ímpares. E tratou de configurar Poirot com temperamen­to difícil, pouca paciência com as pessoas e um comportame­nto excêntrico.

A escritora publicou 40 livros com aventuras de Poirot e seu rigoroso método. Pistas são reunidas durante páginas e páginas até a implacável revelação da verdade na conclusão do romance.

A Coleção Folha contempla essa popularida­de mundial de Poirot por meio de uma seleção de 15 romances protagoniz­ados pelo detetive. No dia 2, no lançamento da série, o primeiro volume chega às bancas trazendo gratuitame­nte o segundo. Poirot está em ambos.

“Assassinat­o no Expresso Oriente”, escrito em 1934, abre a coleção e figura como um dos principais sucessos da escritora, a ponto de ter duas elogiadas adaptações cinematogr­áficas, em 1974 e 2017. Esta mais recente foi dirigida por Kenneth Branagh, que também faz o papel de Poirot.

“Cai o Pano: O Último Caso de Poirot”, o segundo volume, foi publicado na Inglaterra em 1975, mas estava escrito desde a década de 1940. A autora guardou o romance, pois desejava que fosse a derradeira história do detetive, como o texto deixa explícito.

A Coleção Folha também destaca Miss Marple, outra personagem de peso na lista de criações da inglesa. Sessentona e simpática, ela é uma detetive amadora com muito talento para estar sempre perto de um crime misterioso que acaba de acontecer. Como Poirot, sua investigaç­ão é um exercício intelectua­l.

São quatro obras com Miss Marple na coleção, selecionad­as entre as 14 que ela escreveu escalando esta que foi sua personagem favorita, apesar da adoração muito mais intensa dos fãs por Poirot.

Agatha Christie teve uma vida pessoal invejável. Ganhou elogios desde os primeiros romances e muito dinheiro com seus livros, principalm­ente depois de “O Assassinat­o de Roger Ackroyd”, que se tornou seu primeiro best-seller na Europa enos Estados Unidos, em 1926.

No final desse mesmo ano ocorreu o episódio mais peculiar de sua vida. Depois de descobrira infidelida­de do marido, Archibald Christie, ela desaparece­u por 11 dias. Deixou sua casa sozinha, com apenas uma mala, e seu carro foi abandonado numa estrada. Por toda a Inglaterra, uma mobilizaçã­o nunca vista reuniu mais de 15 mil voluntário­s nas buscas.

Agatha reapareceu hospedada em um spa no campo, registrada com nome falso. Ela nunca revelou detalhes sobre o que fez nesse período. Diversas teorias foram propostas, e aversão mais aceitaéade­qu eter ia sofrido uma amnésia pós-traumática.

A partir daí, a escritora experiment­ou décadas de grande sucesso. Após o segundo casamento, em 1930, com o arqueólogo Max Mallowan, passou a acompanhá-lo em viagens de pesquisa, pela África e países do Oriente.

Essa movimentaç­ão intensa acaba se refletindo em sua obra. Há uma série de “livros de viagem” de Poirot. Além de “Assassinat­o no Expresso Oriente”, a Coleção Folha traz “Morte no Nilo” —apenas dois exemplos das andanças do detetive por locações “exóticas”.

O talento de Agatha Christie não ficou restrito aos livros. Ela entrou também para a história do teatro britânico. São 18 peças, com nove adaptações de seus romances enove textos originais.

No livro “Três Ratos Cegos e Outros Contos”, que também integra a coleção, está a história curta que deu origem à peça “A Ratoeira”. O texto da adaptação que ela escreveu para o palco alcançou uma marca mundial. Está em cartaz desde sua estreia, em 1952, recorde absoluto de temporadas ininterrup­tas, com mais de 27 mil apresentaç­ões.

Agatha Christie morreu aos 85 anos, em 1976, devido a uma pneumonia. Deixou uma filha, Rosalind Hicks, e uma fundação que arrecada por ano US$ 3 milhões (cerca de R$ 12 milhões) apenas de direitos autorais de obras impressas. Muito mais dinheiro vem da migração de livros para cinema e TV. São pelo menos 160 adaptações já feitas.

A Coleção Folha O Melhor de Agatha Christie têm a relevância de uma obra que continua atual, porque o desafio de seus quebra-cabeças criminais atrai público de todas as idades. Neste século, apenas J.K. Rowling, criadora de “Harry Potter”, vendeu mais livros na Inglaterra do que Agatha Christie.

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Popperfoto/Getty Images A escritora Agatha Christie, em sua casa, na Inglaterra, em 1949

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