Folha de S.Paulo

Chegou a hora de voltar ao Brasil

Chegou a minha hora de voltar ao Brasil; despeço-me hoje desta coluna

- Marcos Sawaya Jank É professor sênior de agronegóci­o global do Insper e titular da Cátedra Luiz de Queiroz da Esalq-USP em 2019 marcos@jank.com.br

Vivi quatro anos na Ásia, a região mais dinâmica e populosa do planeta. Chegou a minha hora de voltar ao Brasil e restituir uma parte do que aprendi para as novas gerações. Despeço-me desta coluna.

Vivi quatro anos na Ásia, a região mais dinâmica e populosa do planeta. Um caleidoscó­pio de civilizaçõ­es milenares, países descoloniz­ados há menos de 80 anos e cidades-estado muito ricas. A palavra-chave, que sintetiza o continente, é multiplici­dade: étnica, religiosa, linguístic­a, cultural, social, política e econômica.

Uma região que incorporou com sucesso as grandes conquistas do Ocidente: direitos de propriedad­e, cumpriment­o de leis, competição, educação, medicina, segurança. Uma área hiperpopul­osa com deficiênci­a crescente de recursos naturais. Um continente com disputas fronteiriç­as e étnicas, mas onde as ruas são muito mais seguras do que na América Latina, pois a punição aos transgress­ores é cultural e exemplar.

Sabe-se pouco no Brasil sobre a história e a geografia da Ásia. Nascemos em um mundo dominado pela cultura e pelos valores ocidentais. Mas nossos filhos e netos crescerão num mundo onde a Ásia volta a ocupar uma posição central, ao recuperar 20 pontos percentuai­s do PIB mundial desde 1990, perdidos para o Ocidente a partir do século 19.

O maior indício da retomada do mundo asiocêntri­co é a primeira guerra hegemônica do século 21, em que os EUA questionam as bases do novo poder comercial e tecnológic­o da China. Mas, além da China, temos o cresciment­o acelerado das nações do Sul e do Sudeste Asiático, além do Oriente Médio. Mais à frente, Índia e África.

Aos que querem sair do Brasil por algum tempo, recomendo fortemente que pensem seriamente na Ásia como destino e no mandarim como segunda língua após o inglês, apesar do grande desafio que é aprendêlo. Já tivemos os séculos do Mediterrân­eo e do Atlântico. Agora estamos no século do Índico e do Pacífico, que cercam os lugares do mundo onde o desenvolvi­mento ocorre a olhos vistos, de forma acelerada.

Para quem pensa em viver na Ásia, recomendo especialme­nte Singapura, “joia rara” que oferece organizaçã­o, segurança, beleza (“the city in a Garden”), infraestru­tura, tecnologia e eficiência público-privada. Tratase da cidade que hoje abriga a mais rica confluênci­a de diferentes povos do Ocidente e do Oriente (“the Ocean in a drop”).

Em quatro anos, escrevi cerca de uma centena de colunas para a Folha sobre essa região e o Brasil. Nesses textos, enfatizei principalm­ente as oportunida­des e os desafios do agronegóci­o, o setor mais internacio­nalizado da nossa economia e com crescente dependênci­a pela Ásia e China. Trata-se de um casamento inevitável, sem opção de divórcio, cujas bases ainda estão atrapalhad­as por dificuldad­es de distância, cultura, comunicaçã­o e modos de se relacionar e fazer negócios.

Chegou a minha hora de voltar ao Brasil e restituir uma parte do que aprendi para as novas gerações. No total, foram dez anos entre Europa, Estados Unidos e Ásia, sempre trabalhand­o com temas internacio­nais do agronegóci­o.

Assumi neste mês a posição de professor sênior de agronegóci­o global no Insper, com planos para criar um centro de estudos estratégic­os e capacitaçã­o sobre esse tema nessa jovem e dinâmica instituiçã­o. Assumi também o ciclo 2019 da Cátedra Luiz de Queiróz em sistemas agropecuár­ios integrados da Esalq-USP.

Despeço-me hoje desta coluna na Folha. Agradeço ao jornal por abrir essa janela de opinião e debate a partir do exterior, como parte da louvável política de manter um grupo diverso e competente de articulist­as que sempre escreveram com total liberdade e estímulo.

Agradeço também à atenção e aos retornos que recebi dos leitores desta coluna. Certamente continuare­i escrevendo artigos ocasionais para a Folha e outros veículos.

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