Folha de S.Paulo

Carros aventureir­os chegam aos 20 como opção mais barata aos jipinhos

Suspensão mais alta e robusta e adereços ao estilo off-road são as marcas do modelo compacto

- Eduardo Sodré

Antes da chegada dos jipinhos urbanos, vieram os carros aventureir­os. A moda teve início há 20 anos, com o Fiat Palio Adventure. Hoje, as oito marcas que lideram as vendas no Brasil têm ao menos uma opção desse segmento em seu portfólio.

Ricardo Dilser, assessor técnico do grupo FCA Fiat Chrysler, explica que as diferenças dos automóveis de estilo aventureir­o para suas versões convencion­ais estão na suspensão mais alta e robusta, nos adereços que remetem ao uso off-road e, em alguns casos, nos pneus.

“Antes não era possível desenvolve­r um veículo com apelo fora de estrada a partir dos modelos convencion­ais, mas a evolução de pneus, chassis e suspensões permitiu isso, a indústria foi se especializ­ando”, afirma Dilser, que cita também as condições das estradas como motivo de compra. “O Brasil tem os melhores buracos do mundo.”

Mas essas mudanças têm um preço. Os carros aventureir­os custam, em média, 5% a mais que uma versão convencion­al igualmente equipada.

Já o desempenho sofre pouca alteração e pode até ser melhor. O Instituto Mauá de Tecnologia conferiu os números das versões aventureir­as dos compactos mais vendidos do país.

O Hyundai HB20X Premium 1.6 automático (R$ 72,6 mil) percorreu, em média, 12,5 quilômetro­s com um litro de etanol na estrada. A versão equivalent­e, mas sem apelo off-road (R$ 69 mil) obteve média ligeiramen­te superior: 12,9 km/l. Na prova de aceleração (0 a 100 km/h), vantagem para o modelo mais caro: 10,5s contra 11,9s.

No caso do Chevrolet Onix Activ 1.4 automático (R$ 67,7 mil), a vantagem da versão aventureir­a é maior. O modelo chegou aos 100 km/h em 12,5s e percorreu 12,5 quilômetro­s com um litro de etanol na estrada. Já a versão LTZ (R$ 65 mil) registrou as médias de 13,4s e 10,3 km/l nas mesmas provas de desempenho.

Em ambos os casos, as mudanças envolveram mais do que pacotes visuais. HB20X e Onix têm maior altura em relação ao solo proporcion­ada por mudanças nos pneus e na suspensão, o que ajuda a transpor os desníveis das ruas.

Outras montadoras investem mais na aparência. O Toyota Yaris X-Way (R$ 80,3 mil) não tem nenhuma diferença mecânica em relação às demais versões do hatch com motor 1.5 flex. O que a marca japonesa fez foi caprichar na embalagem. Há rack de teto, rodas pintadas de preto e molduras nas laterais.

O modelo de origem japonesa é uma das três novidades do segmento no primeiro semestre de 2019. Os outros lançamento­s são o Renault Kwid 1.0 Outsider (R$ 43 mil) e o Fiat Argo 1.3 Trekking (R$ 59 mil).

A nova versão do popular da marca francesa não tem mudanças na suspensão, e isso nem seria necessário.

A altura em relação ao solo do Kwid equivale à de utilitário­s bem mais parrudos. Ricardo Gondo, presidente da Renault Brasil, afirma que a opção mais aventureir­a já estava nos planos da marca desde o lançamento do compacto.

“Essas versões devem continuar em alta por ter caracterís­ticas valorizada­s pelos consumidor­es, como os ângulos de entrada e de saída”, afirma Gondo. O executivo calcula que o Outsider será responsáve­l por uma fatia de 15% a 20% das vendas do Kwid.

Para manter a tradição de seus modelos Adventure, a Fiat elevou a suspensão do Argo em 4 cm na versão Trekking. Os pneus são de uso misto, indicados para trechos de terra.

Em comparação com o pioneiro Palio Adventure, o Fiat atual só perde no quesito porta-malas: são 300 litros contra 460 litros do modelo antigo.

Embora tenha menor cilindrada, o motor 1.3 flex do Argo Trekking atinge 109 cv de potência quando abastecido com etanol. São 16 cv a mais que o 1.6 do carro de 1999, movido apenas por gasolina.

A princípio, a fabricante de origem italiana calculou que as vendas da nova versão representa­riam 10% do total. Porém as primeiras semanas de vendas mostram que o compacto terá procura bem maior.

O sucesso tem a ver com o preço. Apesar de custarem mais que suas versões convencion­ais equivalent­es, os aventureir­os são vendidos por valores bem inferiores àqueles dos jipinhos urbanos.

Na linha Ford, o Ka Freestyle 1.5 custa a partir de R$ 64,1 mil. Caso opte por um EcoSport equipado com o mesmo motor e também na versão Freestyle, o motorista terá de pagar R$ 85,9 mil.

A menor diferença entre modelos de mesma motorizaçã­o está na linha Renault. Enquanto o compacto Sandero Stepway 1.6 custa R$ 60,8 mil, o Duster com pacote similar de equipament­os é comerciali­zado por R$ 66,6 mil.

A principal vantagem dos jipinhos urbanos ante os aventureir­os está no espaço na cabine. A diferença mais significat­iva é vista na comparação entre os modelos da Hyundai HB20X e Creta (a partir de R$ 84,5 mil na versão 1.6 automática). A explicação está nas diferentes plataforma­s utilizadas: o jipinho urbano é montado sobre a mesma base do sedã médio Elantra.

Em um futuro próximo, porém, o aperto irá diminuir. Uma nova geração de automóveis compactos está a caminho, com melhor aproveitam­ento da cabine.

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Fotos Divulgação Renault Kwid Outsider tem calotas pretas e rack no teto
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Greg Salibian - 16.fev.00/Folhapress Fiat Argo Trekking (esq.) chega às lojas 20 anos após o lançamento do pioneiro Palio Adventure (dir.)
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Chevrolet Onix Activ (esq.) e Hyundai HB20X (dir.) são as versões aventureir­as dos carros mais vendidos do Brasil
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