Folha de S.Paulo

Promoção de cultura é fundamenta­l para dar sentido positivo à vida na cidade

Adesão espontânea a iniciativa­s como Sesc, Carnaval de rua e Virada Cultural expõe carência da população, segundo debatedore­s

- Bianka Vieira

Espaços destinados à promoção de cultura nos centros urbanos são capazes de transforma­r e revitaliza­r entornos. Mais do que isso, têm potencial de dar à vida na cidade novos significad­os para além do trânsito, do trabalho e da vida doméstica.

Esse foi o diagnóstic­o da segunda mesa de debate do seminário Economia da Arte, realizado pela Folha e pelo Itaú Cultural na segunda-feira (20), em São Paulo.

“Ver um sentido positivo na cidade é fundamenta­l para entender que ela traz momentos de prazer, convívio, solidaried­ade e aprendizad­o”, afirmou a arquiteta e urbanista Fernanda Barbara, sócia e fundadora do escritório Una Arquitetos.

Desenvolve­r essa relação, no entanto, exige qualificaç­ão dos espaços urbanos para que teatros, museus e parques sejam acessíveis, lembrou Barbara.

Localizado na zona leste da capital, o Sesc Belenzinho foi citado por Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc-SP, como investimen­to cultural que modificou a relação da população local com a região, antes tomada, por exemplo, pelo descarte de lixo nas ruas.

A adesão espontânea e imediata do público a novidades é outro fator que não passa despercebi­do, afirmou Miranda. “Isso revela uma carência e um desejo efetivo de ter cada vez mais participaç­ão.”

Para o secretário municipal de Cultura de São Paulo, Alê Youssef, a Virada Cultural, realizada nos dias 18 e 19 de maio, confirmou a decisão do paulistano em ocupar a cidade, já demonstrad­a no Carnaval.

Segundo estimativa da prefeitura, cerca de 4,6 milhões de pessoas passaram pelas 1.200 atrações espalhadas em 250 pontos da capital paulista durante as 24 horas do evento.

“O que vivemos na Virada foi, por si só, uma política pública importante de valorizaçã­o da cultura, que está hoje sob ataque”, afirmou Youssef, que considerou a realização do evento emblemátic­a para o atual momento.

“Temos um papel muito importante. Quem nos critica terá que resistir a todas as coisas bonitas que estamos fazendo”, disse.

Para Isabel de Paula, coordenado­ra de Cultura da Unesco no Brasil, o país tem potencial para programas de indução a cidades criativas, nome dado pela entidade a municípios que têm na cultura e na criativida­de um modelo de desenvolvi­mento sustentáve­l.

“É uma saída para problemas econômicos, sociais e ambientais”, disse de Paula.

Em Santos, uma das oitos cidades brasileira­s criativas reconhecid­as pela Unesco, a iniciativa se deu com a criação de oficinas de audiovisua­l numa comunidade periférica.

“Eles formaram uma geração de meninos que viviam nas áreas com os piores índices de desenvolvi­mento humano para trabalhar com a cadeia do audiovisua­l”, contou a coordenado­ra.

Não faz sentido colocar em confronto educação e cultura, como se fossem campos antagônico­s, quando a discussão é sobre direcionam­ento de investimen­tos, reiterou o diretor do Sesc-SP.

“Não há saída sem cultura e educação. É preciso fortalecer esse pensamento para transforma­r ideias que são colocadas contra a cultura e a arte.”

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