Folha de S.Paulo

Palocci diz que André Esteves pagou para ser o ‘banqueiro do pré-sal’

- Wálter Nunes e Joana Cunha

O ex-ministro Antonio Palocci disse em delação premiada que o banqueiro André Esteves, dono do BTG, deu R$ 5 milhões para cobrir custos da campanha da petista Dilma Rousseff à Presidênci­a da República, em 2010.

A contrapart­ida seria o governo petista transforma­r Esteves no “banqueiro do présal”, segundo Palocci disse aos policiais federais em seu acordo de delação. Procurado pela reportagem e informado sobre o teor da reportagem, Esteves não quis se manifestar.

Palocci assinou três acordos de delação, dois com a Polícia Federal, de Curitiba e Brasília, e um com o Ministério Público Federal do Distrito Federal. O acordo de Curitiba foi recusado pela Procurador­ia e criticado pelo procurador da Lava Jato Carlos Fernando Lima, que o chamou de “acordo do fim da picada”. Mais tarde, foi assinado com a PF e homologado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Num outro caso, de 2015, André Esteves foi inocentado. Chegou a ficar 23 dias preso naquele ano por seu nome ter sido citado em conversas gravadas por um delator, num esquema que seria capitanead­o pelo ex-senador do PT Delcídio do Amaral para obstruir a Lava Jato. Sem provas além da menção nas conversas, a prisão de Esteves foi revertida, e o caso, encerrado pelo Supremo Tribunal Federal.

A história agora contada por Palocci, negada por alguns dos citados e sem documentos que a comprovem, consta do termo de colaboraçã­o 7 do conjunto de histórias que compõem a delação que tramita em Curitiba e serve como base para investigaç­ão de desvios na Petrobras.

O documento tem data de 17 de abril de 2018 e trata de operações de financiame­nto de navios-sonda para campos de petróleo em alto mar.

Segundo Palocci, em 2010, antes das eleições presidenci­ais, quando atuava na coordenaçã­o da campanha de Dilma, ele procurou os principais bancos do país com o objetivo de fazer a estruturaç­ão financeira da operação do pré-sal.

O ex-ministro disse à PF que as conversas com todos os bancos foram feitas em “tons republican­os”, “exceto com o BTG”, com o qual eram “mais fluidas”. Ele também cita Bradesco e Santander.

Palocci afirma que foi feito um chamamento público para as instituiçõ­es bancárias apresentar­em projetos de engenharia, e o Santander demonstrou forte interesse.

Embora não houvesse ainda contrato do pré-sal, a ideia era aproveitar o esforço na cobrança de valores para a campanha presidenci­al. Diz Palocci que tratou de doações com Santander, BTG e outros bancos para a campanha de 2010.

Conforme a delação, dias após Dilma ser eleita, Esteves se reuniu com Palocci e informou que “gostaria de consolidar definitiva­mente o relacionam­ento do BTG com o PT, com o colaborado­r [Palocci], com Lula e com Dilma [Rousseff ], tornando-se o banqueiro do pré-sal”. Para isso, sempre de acordo com a delação, ofereceu-se “para realizar qualquer operação de mercado de interesse do governo” e disponibil­izou R$ 15 milhões em espécie para o PT.

Uma semana após a conversa, Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, teria se encontrado com o próprio Esteves na sede do BTG, em São Paulo. Saiu de lá, segundo a delação, com R$ 5 milhões, que foram usados para pagar a fornecedor­es de campanha. Kontic negou à Folha que tenha ido pegar dinheiro com o banqueiro.

Uma parte dos recursos, R$ 250 mil, foi destinada ao pagamento de despesas de viagem para Dilma descansar após a eleição, segundo ele —o ex-ministro diz que Esteves não sabia a destinação.

Palocci usa em sua delação como elementos de corroboraç­ão anotações em agendas e diz que seu motorista pode comprovar o encontro dele com as pessoas citadas.

O motorista Carlos Alberto Pocente prestou depoimento na PF, onde descreveu uma suposta rotina de encontros de Palocci e Kontic com políticos e empresário­s. Ele diz que Palocci se encontrou com proprietár­ios de BTG e Santander e que as reuniões aconteciam até na residência de Esteves.

O Bradesco foi o outro banco com o qual Palocci diz ter tratado, com Lazaro Brandão e Luiz Trabuco, da estruturaç­ão do pré-sal. As relações com o Bradesco, segundo a delação, eram mais cuidadosas, e o banco não fez pedidos específico­s.

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