Folha de S.Paulo

Mulher joga filha do 5º andar de prédio em SP e se atira em seguida

Criança teve ferimentos leves; mãe se atirou em seguida e está em estado grave

- -Thaiza Pauluze e Alfredo Henrique Colaborara­m Priscila Camazano e Dhiego Maia

Uma criança de três anos caiu, na madrugada desta sexta-feira (24), do quinto andar de um prédio na na avenida Corifeu de Azevedo Marques, zona oeste de São Paulo.

A suspeita é que a mãe da menina, Fernanda Fernandes, 29, tenha atirado a criança. A rede de proteção da janela foi cortada, segundo a Polícia Militar.

A mulher ateou fogo à cortina do apartament­o antes de também se atirar pela janela e está internada em estado grave. Fernanda teve a prisão decretada por tentativa de homicídio e incêndio.

Conforme a PM, a criança sobreviveu porque sua queda foi amortecida por um carro que entrava no edifício.

A menina levantou sozinha após bater no para-brisa do carro de Nadieje Macedo, 42, e Carlos Agili, 44, e cair no chão. O casal, que voltava do supermerca­do, não imaginou que era uma criança quando ouviu o barulho da queda que estraçalho­u o vidro.

“Ela estava enrolada num lençol, devia estar dormindo, porque não entendia o que tinha acontecido e veio direto pro meu colo”, conta Nadieje. Consciente e com pequenos arranhões nas costas, a menina chorou pedindo um casaco, pois estava com frio. “Fiquei sem voz na hora. Foi uma coisa de Deus.”

A criança foi levada com ferimentos leves ao Hospital das Clínicas. Morador do 4º andar, o casal não conhecia a mãe e a garota, que se mudaram para o prédio há apenas três meses.

O Corpo de Bombeiros criou um grupo de negociação para socorrer Fernanda que estava trancada no interior da moradia. A tentativa de abordagem durou cerca de duas horas, mas a mulher se negouaabri­raporta.Emaparente quadro de surto, ateou fogo nas cortinas.

Os bombeiros tiveram que arrombar a porta da residência. Ao vê-los, Fernanda se jogou do apartament­o. Ela foi resgatada inconscien­te e levada ao Hospital das Clínicas. O estado de saúde dela é grave, porém estável.

De infância simples no extremo sul paulistano, filha de jardineiro e esteticist­a, Fernanda sempre chamou atenção pela inteligênc­ia.

Ela é aluna de geografia na USP, onde foi integrante do Núcleo de Direito à Cidade. Também estagiou na Secretaria do Meio Ambiente do Estado e assumiu uma monitoria no Parque de Ciências e Tecnologia da USP.

Recentemen­te, se equilibrav­a entre os estudos e a filha, após vários anos de relacionam­ento com seu único namorado, o professor e músico Evandro Barbosa.

O casal morava num sobrado construído sobre a casa da mãe de Fernandinh­a, como é conhecida. Eles se davam bem e se mostravam apegados à menina, conta a vizinha de frente, amiga da família há 30 anos, Zina Dantas, 57.

Em 12 de fevereiro, no entanto, Fernanda registrou um boletim de ocorrência de violência doméstica e ameaça contra Evandro. Segundo o documento policial, ela afirma que o professor não aceitava o fim da relação, ocorrido em novembro de 2018.

Há três meses, Fernanda foi morar na zona oeste da cidade, a poucos quilômetro­s da universida­de. Evandro, segundo seu perfil no Facebook, mora no País de Gales.

Cerca de um mês atrás, teve o que foi descrito como um surto numa visita à casa da mãe. Às 7h, balançava a filha no colo na varanda do sobrado e gritava “Jesus!” e frases desconexas.

Zina conta que viu a mulher, alterada e vermelha, não atender aos pedidos da família para largar a criança. Segundo a vizinha, após esse episódio, além do tratamento psicológic­o que já fazia, Fernanda ficou internada por alguns dias.

Na quarta-feira (22), esteve de novo no bairro. Vestia um blusão do avesso e andava de um lado para o outro sem parar. Perguntou para a vizinha, que é educadora, o que fazer com a filha, que não estaria se adaptando à nova escolinha.

“Como ela teve coragem de jogar a menina e se jogar?”, se pergunta Zina.

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