Folha de S.Paulo

Narciso e o espelho d’água

- Daniela Lima painel@grupofolha.com.br

Não causou repique nem no mercado nem na cúpula da política a ameaça de Paulo Guedes (Economia) de deixar a equipe de Jair Bolsonaro caso a reforma da Previdênci­a fracasse. Gestores de investimen­tos e deputados apontaram o mesmo motivo para a falta de reação: ninguém é insubstitu­ível. Operadores dizem estar mais preocupado­s com a entrega efetiva do que com o nome que levará a proposta adiante. No Congresso, a fala foi lida como um recado ao Planalto, mas eivado de vaidade.

EFEITO SURPRESA?

O ministro disse em entrevista à revista Veja que, se a reforma for muito reduzida pelo Parlamento, deixará o governo. Gestores lembraram que essa não é primeira vez que Guedes sinaliza desapego ao cargo —e que ninguém acredita que ele vá sair agora.

QUEM É QUE MANDA

Um desses operadores lembra que mais relevante do que a permanênci­a do ministro é o comprometi­mento de Bolsonaro com as novas regras de aposentado­ria.

VALEU A INTENÇÃO

Deputados que vinham pedindo uma intervençã­o de Guedes na articulaçã­o política para criar um ambiente de cessar-fogo e fazer deslanchar a reforma acham que ele errou na forma do recado. Ao colocar pressão usando o próprio peso político, dizem, deixou claro que pode estar se sentindo maior do que a causa que representa.

FICA A DICA

O presidente da comissão que analisa a reforma, Marcelo Ramos (PR-AM), resumiu a impressão do Congresso: “No Brasil, as pessoas têm mania de se colocarem acima das instituiçõ­es”.

LIVRE, LEVE E SOLTO

Alexandre Frota (SP), deputado do PSL que se tornou uma espécie de guardião da reforma dentro do partido do presidente, saiu em defesa de Guedes. Disse que o ministro é “um cara sincero, que acredita na proposta que apresentou”. “Se ele ficar insatisfei­to com o resultado, tem o direito de sair.”

A GARANTIA

“Paulo Guedes, Sergio Moro e Santos Cruz são o tripé do governo. Bolsonaro perderia muito sem eles”, diz Frota.

FALE COM ELE

Com os líderes do PSL em choque, Frota tem ampliado a interlocuç­ão com nomes de partidos hoje descontent­es com sua bancada, como Arthur Lira (PP-AL) e Elmar Nascimento (DEM-BA).

DEIXA DISSO

Depois de uma semana marcada pelo embate no Congresso, integrante­s de diferentes alas do PSL passaram a pregar que os colegas diminuam a artilharia virtual contra parlamenta­res em nome da reforma.

JOGO BRUTO

Em grupos de simpatizan­tes do partido no Nordeste, por exemplo, fotografia de um dos líderes do centrão circula com a inscrição “câncer do Congresso”.

#TENDÊNCIA

Um analista que se debruçou sobre os dados da nova pesquisa da XP Investimen­tos sobre a avaliação do governo Bolsonaro chamou atenção para um dado: desde janeiro, o percentual de eleitores que responsabi­liza o presidente pela atual situação da economia subiu considerav­elmente. Passou de 3% para 10%.

ÚLTIMA CHAMADA

Governador­es reunidos nesta sexta (24), no Recife, relataram ao líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), mudanças no texto da MP do Saneamento das quais não abrem mão. Eles defendem prazo de quatro anos para a revisão de contratos em andamento e a possibilid­ade de uma renovação sem licitação.

PISCOU

Na reunião com os governador­es, Bolsonaro sinalizou concordar que estados acessem o Fundo Constituci­onal do Nordeste para investimen­tos em obras.

VISITA À FOLHA

João Doria, governador de São Paulo, visitou a Folha nesta sexta (24), onde foi recebido em almoço, a convite do jornal. Estava acompanhad­o de Rodrigo Garcia, vice-governador e secretário de Governo; Henrique Meirelles, secretário da Fazenda e Planejamen­to; Cleber Mata, secretário de Comunicaçã­o; Leticia Bragaglia, coordenado­ra de imprensa; Bruna Fasano, assessora de imprensa do governador; e Carla Simões, assessora de imprensa da Secretaria da Fazenda.

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