Foi descuido, afirma Moro sobre pistas no caso Lula
Informações enviadas a procurador por meio de aplicativo não foram formalizadas nos autos do inquérito, como estabelece a lei
O ministro da Justiça disse que foi um “descuido” repassar pistas de apuração contra o ex-presidente Lula ao procurador Deltan Dallagnol. “Eu recebi aquela informação e passei pelo aplicativo. Mas não tem nenhuma anormalidade, não havia ação penal em curso.” As informações não foram formalizadas nos autos do inquérito, como prevê a lei.
O ministro Sergio Moro (Justiça) afirmou nesta sexta-feira (14) que foi um “descuido” repassar pistas de apuração contra o ex-presidente Lula por um aplicativo de mensagens ao procurador Deltan Dallagnol.
Os dados enviados não foram formalizados nos autos do inquérito, como prevê a lei.
Mensagens atribuídas ao ex-juiz e ao procurador, divulgadas desde domingo (9) pelo site The Intercept Brasil, mostram que os dois trocavam colaborações quando integravam a força-tarefa da Operação Lava Jato.
Em um desses diálogos, de dezembro de 2015, Moro informou a Deltan que havia uma pessoa incomodada por ter “sido a ela solicitada a lavratura de minutas de escrituras para transferências de propriedade de um dos filhos do ex-presidente” e que, por isso, estaria disposta a colaborar com as investigações.
Moro negou irregularidade nessa conduta.
“Nós lá na 13ª Vara Federal, pela notoriedade das investigações, nós recebíamos várias dessas por dia. Eu recebi aquela informação e, aí assim, vamos dizer, foi até um descuido meu, apenas passei pelo aplicativo. Mas não tem nenhuma anormalidade nisso. Não havia nem ação penal em curso”, disse, na sede da Polícia Rodoviária Federal, em Brasília, para anunciar o início da operação de segurança da Copa América.
“Eventualmente pode ter havido um descuido formal, mas isso não é nenhum ilícito. Eu não cometi nenhum ilícito e estou absolutamente tranquilo de todos os atos que cometi enquanto juiz da Lava Jato”, completou.
No diálogo vazado, Deltan responde mais tarde que o denunciante com a suposta pista sobre o ex-presidente se recusou a falar a respeito com o Ministério Público e afirma a Moro que pensava em fazer intimação oficial com base em noticia apócrifa.
Moro consente e diz: “Melhor formalizar então”.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta sexta, Moro afirmou que a tradição jurídica brasileira não impede o contato pessoal entre juízes, advogados, delegados e procuradores.
Segundo ele, o aplicativo de mensagens era apenas um “meio” de comunicação para coisas urgentes e esse tipo de conversa não compromete as provas e as acusações. “Até ouvi uma expressão lá de que eu era ‘chefe da Lava Jato’, isso é uma falsidade”, disse.
As conversas publicadas pelo Intercept incluem mensagens privadas e de grupos da força-tarefa no aplicativo Telegram, de 2015 a 2018. O site informou que obteve o material de uma fonte anônima, que pediu sigilo.