Folha de S.Paulo

Presidente dos Correios é demitido em café da manhã

Em dia de paralisaçõ­es pelo país, sindicalis­tas reclamam de idade mínima para obter aposentado­ria

- Anaïs Fernandes

Em café da manhã com jornalista­s, ontem, Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que demitirá o general Juarez Cunha, presidente dos Correios, por um suposto “comportame­nto sindicalis­ta”. Declarou ainda não acreditar que o governo vá perder a “batalha da Previdênci­a” e voltou a prometer um evangélico no Supremo, que criminaliz­ou a homofobia.

Dirigentes das maiores centrais sindicais do Brasil reconhecem que houve avanços no relatório da reforma da Previdênci­a apresentad­o nesta quinta-feira (13), mas dizem que outros ajustes ainda são necessário­s.

Eles se reuniram na manhã desta sexta-feira (14) em frente a um prédio do INSS na região central de São Paulo para dar início ao dia de protestos pelo país em defesa das aposentado­rias.

“Por essa o [presidente Jair] Bolsonaro não esperava. Os governador­es pegaram reivindica­ções das centrais e conseguira­m garantir mudanças a favor dos trabalhado­res”, disse João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical.

Ele citou como exemplos positivos a retirada, no relatório, de mudanças no BPC (Benefício de Prestação Continuada) e na aposentado­ria rural.

Também elogiou o fim da previsão, no texto, do sistema de capitaliza­ção, em que cada trabalhado­r faria sua própria poupança.

Ricardo Patah, presidente da UGT, diz que a entidade ainda está analisando a proposta do relator, mas que “a sensação geral é de que não é tão ruim quanto já foi”.

Segundo ele, a permanênci­a das regras básicas da aposentado­ria na Constituiç­ão foi um ganho.

A PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) do governo possibilit­ava que futuras mudanças em temas como idade mínima, tempo de contribuiç­ão e reajuste dos benefícios, entre outros, fossem feitas por lei complement­ar, cuja aprovação é mais fácil.

Para a UGT, no entanto, estados e municípios deveriam ter sido incluídos no texto, como previa o projeto original.

As centrais reunidas, contando também com CUT, CTB, CGTB, Intersindi­cal, Nova Central, ainda reclamavam, porém, da elevação da idade mínima e do tempo de contribuiç­ão.

O relator do projeto na comissão especial da Câmara, deputado Samuel Moreira (PSDB), manteve em seu parecer o aumento da idade mínima para 65 (homem) e 62 (mulher), bem como o tempo de contribuiç­ão dos homens em 20 anos. Para as mulheres, no entanto, propôs reduzir a exigência para 15 anos.

“É um avanço em relação à proposta do governo. Mas, como a proposta do governo é horrorosa, não temos concordânc­ia e queremos a retirada como um todo”, afirma Vagner Freitas, presidente da CUT.

A maior central sindical do Brasil diz que o país deveria dar prioridade para discutir uma reforma tributária que cobrasse mais imposto dos mais ricos. Tramita no Congresso uma PEC para mexer na tributação sobre bens e serviços.

Para Juruna, o projeto da Previdênci­a vai ser debatido na Câmara e no Senado de todo o modo e cabe às centrais participar dessa discussão. “A Força vai defender que devemos fazer nosso trabalho”, disse.

Outra central sindical, a CSP-Conlutas, se contrapôs às demais e afirmou em nota que diverge da posição de que houve avanços com o relatório.

A central disse que é preciso fazer novas ações para derrubar a proposta.

“A CSP-Conlutas entende que, depois de um dia vitorioso de greve geral, a tarefa dos dirigentes das centrais é apontar novos passos da mobilizaçã­o contra essa proposta nefasta de reforma da Previdênci­a e não fazer elogios ao relatório da comissão.”

Na nota, o dirigente da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Atnágoras Lopes afirma que a proposta segue prejudican­do os mais pobres, além de ampliar a idade mínima de homens e mulheres.

“Não concordamo­s com esse tipo de declaração e reafirmamo­s o nosso compromiss­o com a unidade para derrotar a reforma. É hora de seguir nas ruas”, afirma.

É um avanço em relação à proposta do governo. Mas, como a proposta do governo é horrorosa, não temos concordânc­ia e queremos a retirada como um todo Vagner Freitas presidente da CUT

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