Folha de S.Paulo

Bolsonaro afirma ‘não ver maldade’ em conversas entre Moro e Deltan

Em café com jornalista­s, presidente minimizou caso e disse que país tem muito a agradecer ao ex-juiz

- -Talita Fernandes

Em café da manhã com jornalista­s que cobrem o Planalto, incluindo a reportagem da Folha, na manhã desta sexta (14), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) falou espontanea­mente sobre vazamento de mensagens do ministro Sergio Moro (Justiça), comentou a demissão do ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz da Secretaria de Governo e atacou o ex-presidente Lula, que questionou a veracidade da facada da qual foi vítima.

Sergio Moro

“Não vejo nenhuma maldade em advogado conversar com promotor, Polícia Federal falar com promotor. Tem que se falar para achar denúncia robusta”, afirmou Bolsonaro, referindo-se a Moro, mas sem citar o cargo de juiz, ocupado por ele até aceitar o convite para integrar o governo.

Diálogos exibidos pelo site The Intercept mostram que, enquanto era juiz da Lava Jato, Moro discutia com o procurador Deltan Dallagnol processos em andamento e comentava pedidos feitos à Justiça pelo Ministério Público Federal.

Bolsonaro justificou o silêncio que manteve por quatro dias sobre o caso dizendo que “uma imagem vale mais que mil palavras” e citou o fato de ter ido junto com Moro a uma evento da Marinha, na terça (11), de quem permaneceu ao lado durante a cerimônia.

Questionad­o sobre os desdobrame­ntos que as mensagens podem trazer para a Lava Jato, Bolsonaro minimizou e disse que o Brasil tem muito a agradecer ao ex-juiz.

Também disse que o ministro se manteve isento no período das eleições, que ele “não fez campanha” e “nem entrou em campo”.

Lula

Bolsonaro mostrou-se incomodado quando um repórter perguntou sobre o fato de o ex-presidente Lula ter questionad­o a veracidade da facada da qual foi vítima em 2018. “Presidiári­o presta depoimento, não dá entrevista”, disse.

Ele afirmou ainda que poderia mostrar a cicatriz para provar que era verdade.

Segundo o presidente, ele não teria “nem grana e nem contatos” para forjar o ataque.

Bolsonaro ironizou o fato de Lula ter dito que a facada era mentira por não ter saído sangue de sua barriga.

“Se fosse na barriga do Lula ia sair muita cachaça”, disse.

O ministro do GSI, general Augusto Heleno, se exaltou e pediu a palavra quando foi comentado o questionam­ento de Lula sobre a veracidade da facada de Bolsonaro.

O ministro chamou o ex-presidente de “canalha” e disse que “tinha vergonha” de ele ter sido presidente do Brasil.

Ele disse tratar Bolsonaro de “senhor” por respeito e para dar exemplo, e que esse é o papel do presidente. Disse ainda que presidente da República desonesto deveria ter “prisão perpétua decretada”.

Santos Cruz

Um dia depois de demitir o ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz da Secretaria de Governo, o presidente disse que a decisão de tirá-lo do governo foi “constrangi­mento para os dois”, mas comparou o episódio a uma relação conjugal ao dizer que houve uma “separação amigável”.

De acordo com Bolsonaro, a saída de Santos Cruz não se deveu a nenhum episódio específico, mas disse de forma genérica que “alguns problemas acontecera­m”. “Não houve gota d’água”, afirmou.

Bolsonaro disse ainda que existe um grande companheir­ismo com Santos Cruz, quem conheceu na década de 1980.

Segundo ele, embora considere que Santos Cruz “cumpriu sua missão” à frente da Secretaria de Governo, as portas estão abertas para que ele ocupe outro cargo em sua gestão e que “seria muito bom” se ele aceitasse alguma função.

O presidente disse ainda que após a saída de Santos Cruz, ele deve fazer algumas modificaçõ­es na estrutura da pasta e nas funções a ela atribuída. O cargo será assumido pelo general Luiz Eduardo Ramos, que, segundo Bolsonaro, tem “bom relacionam­ento com a imprensa”.

O presidente negou ainda que a demissão de Santos Cruz tenha alguma relação com críticas feitas pelo escritor Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro, e pela ala ideológica de seu governo, ligada aos filhos do presidente.

Ele disse não ter visto “nenhuma comemoraçã­o” sobre a saída do ministro.

Leia mais nas págs. A32 e B2

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