Folha de S.Paulo

Sem Santos Cruz, governo deve mudar articulaçã­o política

Secretário da Previdênci­a é cotado para fazer interlocuç­ão com o Congresso

- -Thais Arbex e Talita Fernandes

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) deve aproveitar a demissão do general Carlos Alberto dos Santos Cruz da Secretaria de Governo para outros ajustes na estrutura do Palácio do Planalto, que abriga 4 de seus 22 ministério­s.

O ponto principal que deve mudar é a articulaçã­o política, tarefa para a qual o secretário da Previdênci­a, Rogério Marinho (PSDB), é cotado.

Santos Cruz foi demitido na quinta (13), na terceira queda no primeiro escalão de Bolsonaro em menos de seis meses de mandato.

Integrante­s do governo relataram à Folha que há uma movimentaç­ão em curso para que Marinho assuma um dos ministério­s do Planalto.

Nos últimos dias, líderes do Congresso fizeram chegar à cúpula do governo o recado de que, hoje, só tratam de articulaçã­o política se o interlocut­or for Marinho.

A tarefa atualmente é dividida entre a Casa Civil, responsáve­l pelo diálogo com o Congresso, e a Secretaria de Governo, a cargo das conversas com estados e municípios.

Auxiliares do presidente avaliam que esse modelo não tem funcionado. Uma possibilid­ade é recriar a Secretaria de Relações Institucio­nais como ministério ou ainda subordinad­a a uma pasta.

Outra é transferir a articulaçã­o da Secretaria de Governo, que será assumida pelo general Luiz Eduardo Ramos, para a Secretaria-Geral, a cargo do general Floriano Peixoto. Neste último caso, o ministro poderia ser substituíd­o por Marinho.

Em reunião entre as equipes política e econômica, foi feita a avaliação de que há uma sobrecarga ao Ministério da Economia com a articulaçã­o com o Congresso, em especial sobre a reforma da Previdênci­a.

Auxiliares de Paulo Guedes (Economia) relataram à Folha que o próprio ministro sugeriu ao presidente a incorporaç­ão do secretário da Previdênci­a na equipe da articulaçã­o política.

Em meio a isso, o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil), responsáve­l pelo relacionam­ento com o Legislativ­o, demitiu um grupo de ex-deputados que atuava nessa tarefa.

A possibilid­ade de mudanças foi confirmada por Bolsonaro na manhã de sextafeira (14) em café da manhã com jornalista­s do qual a Folha participou.

Ele admitiu que “pode mexer nos quadradinh­os” das pastas que ficam no Planalto, mas não deu mais detalhes.

Há cerca de um mês e meio, as alterações já estavam em estudo, mas Bolsonaro foi aconselhad­o a esperar. À época, Santos Cruz era protagonis­ta de uma série de postagens críticas do escritor Olavo de Carvalho. Demiti-lo naquele momento reforçaria a impressão de que o guru tem poder de veto e nomeação no governo.

Bolsonaro deve aproveitar também para retirar a Secretaria de Comunicaçã­o da Secretaria de Governo. Esse era um plano antigo, já que a secretaria é alvo das principais disputas dentro do Planalto.

A Secom foi assumida em abril pelo empresário Fabio Wajngarten, em gesto que ajudou a enfraquece­r Santos Cruz no cargo. Os dois mantinham relação distante.

Uma possibilid­ade é a Secom ser transferid­a diretament­e para a Presidênci­a. Contudo, há receio de que o fato de a secretaria ter orçamento grande para gastos com publicidad­e pode trazer problemas triviais para responsabi­lidade direta do presidente.

Santos Cruz foi demitido após uma série de episódios de insubordin­ação. Auxiliares de Bolsonaro ouvidos pela Folha disseram que ele fazia questão de demonstrar, rotineiram­ente, “não fazer parte do time” do presidente.

Embora aliados não apontem um estopim para a queda, Bolsonaro ficou profundame­nte irritado por saber pela imprensa que Santos Cruz seria convidado de honra de um almoço do Lide, grupo de empresário­s fundado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), na segunda (17).

O general, dizem auxiliares do presidente, não avisou nenhum colega do Planalto, e a atitude azedou ainda mais a relação já desgastada.

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