Acionistas da Netshoes aceitam proposta do Magazine Luiza
Varejista acerta compra do ecommerce após guerra de lances com a Centauro
Assembleia de acionistas da varejista virtual Netshoes decidiu nesta sexta-feira (14) pela proposta de aquisição feita pelo Magazine Luiza, que avalia a companhia em R$ 445 milhões.
A empresa vinha sendo desde abril alvo de uma disputa que também contava com a participação do Grupo SBF, dono da rede de lojas Centauro, com sucessivas propostas das duas interessadas.
Devido ao interesse das duas, o valor oferecido mais do que dobrou no período. A proposta do Magazine Luiza foi aprovada por 90,32% dos acionistas votantes.
A proposta inicial, do Magazine Luiza, oferecia US$ 2 (R$ 7,76) por ação da Netshoes.
Na quinta-feira (13), o Magazine Luiza ofereceu US$ 3,70 por ação da companhia, igualando o que era até então a última proposta da Centauro, o equivalente a US$ 115 milhões (R$ 445 milhões).
A Centauro contra-atacou na noite do mesmo dia, propondo desembolsar US$ 4,10 por ação, mais que o dobro da proposta inicial,mas foi vencida na votação dos acionistas.
Na própria noite de quinta, a Netshoes comunicou ao mercado ter recebido a nova proposta da SBF, mais alta, mas que seu conselho de administração mantinha a recomendação de aceite da proposta do Magazine Luiza.
A empresa disse que uma negociação com a dona da Centauro exigiria mais tempo de negociação e para aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
A Netshoes abriu capital há dois anos, mas desde então vinha sendo punida por investidores por seu endividamento elevado e crescimento do prejuízo. Desde o IPO, os papéis recuaram 85,3% na Bolsa.
No primeiro trimestre deste ano, a companhia registrou perdas de R$ 66,7 milhões.
Pedro Guasti, presidente do conselho de comércio eletrônico da FecomércioSP, diz acreditar que, mesmo com os resultados negativos, a companhia seguiu interessante para compradores por ter uma marca forte, uma operação consistente (com eficiência e agilidade nas entregas) e uma grande base de consumidores.
A companhia afirmou em relatório de resultados do primeiro trimestre ter 23,9 milhões de consumidores cadastrados em suas plataformas.
Na avaliação de Guasti, as dificuldades financeiras da Netshoes são decorrência de ela não ter feito a transição para um modelo de multicanalidade, que se tornou tendência no comércio eletrônico nos últimos anos.
A partir dele, consumidores podem, por exemplo, comprar um item no site e retirar na loja, experimentar produtos em espaços físicos e fechar a compra no site ou trocar produtos adquiridos em um canal a partir de outro.
Para Guasti, a falta de integração de canais tornou a Netshoes dependente de altos investimentos em publicidade para conseguir clientes na internet, usando plataformas como Google, Facebook, Instagram, comparadores de preços ou programas de afiliados (que recompensam quem direciona clientes para uma loja).
Renan Mota, cofundador da CoreBiz, consultoria especializada em comércio eletrônico, diz acreditar que a estratégia da Netshoes de priorizar crescimento em detrimento da rentabilidade pressionou os resultados da empresa.
Em sua avaliação, a negociação fortalece a Netshoes, em razão da oportunidade de integrar seu canal de vendas digital com as lojas físicas do Magazine Luiza.
“Estão comprando algo que tem potencial muito grande, mas que, na minha opinião, seria impossível de realizar apenas no mundo online.”