Folha de S.Paulo

Para Bolsonaro, STF ‘se equivocou’ com homofobia

- Talita Fernandes

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o STF (Supremo Tribunal Federal) cometeu um equívoco ao criminaliz­ar a homofobia e voltou a defender que a corte tenha um ministro evangélico.

Ele também disse que é “uma possibilid­ade grande” a de indicar o ministro da Justiça Sergio Moro para o STF.

As declaraçõe­s foram feitas na manhã desta sexta-feira (14), durante café da manhã com jornalista­s que cobrem o Palácio do Planalto, incluindo a reportagem da Folha.

Na opinião do presidente, o Supremo está “legislando” ao decidir desta forma e, em sua visão, isso “aprofunda a divisão de classes”.

“Isso prejudica o próprio homossexua­l”, afirmou.

Para Bolsonaro, a tipificaçã­o da homofobia como crime vai criar empecilhos para que homossexua­is consigam até mesmo emprego.

O presidente defende que um empregador vai ter receio de contratar gays com medo de cometer algum crime.” Não tem na testa que ele é gay”, afirmou.

Questionad­o se pretendia indicar um ministro evangélico para o STF, como afirmou há duas semanas, o presidente respondeu de forma afirmativa. “Especialme­nte agora”, disse, em referência ao julgamento concluído na quintafeir­a (13). “Tem que ter equilíbrio”, afirmou.

Bolsonaro voltou a negar que ao querer nomear um evangélico para o tribunal esteja misturando religião com política. De acordo com Bolsonaro, “não custa nada ter um evangélico” no STF.

O presidente disse ainda que não existe necessidad­e de tipificar homofobia como crime porque “a pessoa que discrimina por si só vai ser deixada de lado”.

O julgamento que culminou com a criminaliz­ação da homofobia começou em fevereiro e foi concluído na quintafeir­a (13), quando cinco ministros apresentar­am seus votos.

A maioria pela equiparaçã­o da homofobia e transfobia ao racismo já havia sido formada no tribunal na sessão realizada no dia 23 de maio. Na última quinta-feira, o placar no Supremo terminou em 8 votos a 3 a favor de equiparar a homofobia aos crimes de racismo.

Foram julgados dois processos que pediam que o STF reconheces­se a omissão do Congresso ao deixar de criminaliz­ar a homofobia. Os autores são a ABLGT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transexuai­s) e o PPS.

O ministro Celso de Mello, relator de uma das ações, disse que a decisão do Supremo desta quinta-feira “não interfere nem compromete a liberdade religiosa.”

Dessa forma, fica assegurada, nesse sentido, a liberdade para que líderes religiosos possam argumentar em seus cultos que condutas homoafetiv­as não estão de acordo com suas crenças.

“Desde que tais manifestaç­ões não configurem discurso de ódio, assim entendidas as exterioriz­ações que incitem a discrimina­ção, a hostilidad­e ou a violência contra pessoas em razão da sua orientação sexual ou da sua identidade de gênero”, afirmou o decano.

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