Questionário em órgão federal pede opinião sobre Bolsonaro
Perguntas de contratação tinham cunho político e ideológico, dizem funcionários
A aplicação de um questionário para funcionários terceirizados no DNIT(Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), em Brasília, provocou revolta dos funcionários que decidiram boicotar a prova.
O motivo: o cunho político e ideológico que, segundo eles, havia entre as 20 questões enviadas para 50 profissionais que atuavam em apoio à Coordenação de Operações Rodoviárias e à Procuradoria Federal especializada junto ao departamento.
A Folha teve ao questionário de conhecimento teórico que foi enviado aos funcionários, para que o Consórcio Processamento e Tecnologia (CPT), selecionasse os terceirizados que continuariam DNIT.
Em uma das perguntas, o funcionário teria que “avaliar intenção do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em retirar os equipamentos de fiscalização eletrônica de trânsito das rodovias?”.
Em outra questão, teria que responder sobre a conjuntura política da América do Sul.
‘Dê a sua opinião sobre as questões políticas e econômica dos países da América do Sul?‘, pergunta a 16ª questão.
A última pergunta pede opinião sobre a reforma da previdência, que é a principal bandeira do governo Bolsonaro.
O DNIT havia decidido demitir os 50 funcionários e recontratar apenas alguns. O motivo seria a redução de processos de multas no órgão, já que o governo federal anunciou que irá retirar todos os radares de rodovias federais, além da política de corte de gastos da máquina pública.
O questionário já foi aplicado pelo Consórcio CPT. Dos 50 que estavam selecionados, cinco funcionários decidiram participar. Outros preferiram ser demitidos e não participar do novo processo de seleção.
Além da reação, a recontratação ocorrerá com um salário cerca de 50% menor.
“Isso prova que o cunho é ideológico sim. Há uma perseguição para saber se os funcionários tem a mesma visão que o governo. Não tem lógica aplicar o mesmo questionário para pessoas com escolaridade ensino médio e superior”, disse um funcionário que não quer ser identificado. “Deveriam ter analisado a competência desses funcionários, e não querer saber a ideologia ou posicionamento político.”
Os cinco que se submeteram aos questionamentos já foram recontratados. Os outros 45 foram desligados do DNIT.
A assessoria do DNIT informou que o órgão não participou da elaboração do questionário, e que o conteúdo aplicado foi de exclusiva responsabilidade do Consórcio CTP. “O Procurador-Geral do DNIT, assim como qualquer autoridade deste órgão ou da Advocacia-Geral da União e Presidência da República, não teve qualquer participação ou influência no processo seletivo.”
O consórcio CPT disse que o objetivo era buscar um funcionário isento para trabalhar com o sistema e os processos. O consórcio CPT é formado pelas empresas Serget Mobilidade Viária Ltda, DCT Tecnologia e Serviços Ltda e EGL Engenharia Ltda.