Folha de S.Paulo

Cansado de chorar, Messi tenta encerrar jejum da Argentina

- Alex Sabino

ARGENTINA COLÔMBIA

19h, na Fonte Nova (Salvador) Na TV: SporTV

O Mundial é o maior sonho de Lionel Messi, mas nenhum torneio o fez sofrer tanto pela seleção quanto a Copa América. O jogador eleito cinco vezes o melhor do planeta tenta exorcizar esse fantasma a partir deste sábado (15), quando a Argentina estreia no torneio às 19h, contra a Colômbia, em Salvador.

No hotel onde a delegação está hospedada na capital baiana, o clima não tem nada de similar à tensão vivida pelo elenco no ano passado, quando disputou a Copa do Mundo da Rússia. O time se esfacelou durante o torneio e caiu nas oitavas de final diante da França, que viria a ficar com o título mundial. Messi passou o torneio cabisbaixo.

No vestiário, após a eliminação, ele chorou, de acordo com relatos de dirigentes. Não é algo novo para o craque do Barcelona (ESP). “A sensação é de estar desabando tudo sobre você”, definiu o camisa 10.

A Copa América foi o torneio que mais o fez chorar. Em 2016, com os olhos vermelhos pela segunda derrota consecutiv­a nos pênaltis na final para o Chile, ele chegou a abandonar a seleção.

“Acho que não é para ser”, disse na época. Era mais que uma decepção isolada. Era um acúmulo de frustraçõe­s. Ele havia chorado copiosamen­te no vestiário em Santiago após também cair nos pênaltis para o Chile em 2015.

Está na história a noite em que Nicolás Burdisso, zagueiro da seleção argentina na Copa América de 2011, chamou Messi de “pandejo” (idiota, inútil) por não acompanhar o adversário na marcação. Os microfones de TV captaram a frase.

“Pandejo” pode ser uma expressão jocosa. Mas o tom não foi de quem estava brincando.

A Argentina perderia para o Uruguai aquela partida, nas quartas de final (de novo nos pênaltis), o que levou a níveis estratosfé­ricos as críticas ao atacante dentro do seu próprio país, que era a sede da competição continenta­l.

Messi se recusou a falar com a imprensa depois da partida e deixou o estádio Cemitério dos Elefantes com a expressão de quem havia chorado.

“Leo é sempre emotivo assim. Ele sente muito as derrotas”, entregou Carlos Tevez.

O atacante também foi vice-campeão da Copa América de 2007, na Venezuela, quando era um garoto de 20 anos. Nem era a peça mais importante do time. Nomes mais experiente­s da seleção o chamavam de “pibe” (garoto).

Hoje em dia os novatos na seleção, como De Paul e Saravia, se referem ao camisa 10 como “fenômeno”.

Messi confessa ter chorado também após a eliminação para a França, no Mundial do ano passado. Assim como depois da derrota para a Alemanha, na final da Copa de 2014, no Maracanã. Foram lágrimas diferentes, no entanto.

Na Rússia, se tratou de impotência e dúvida quanto ao futuro. Por não ter conseguido mudar o destino de uma equipe em que imperou o caos. No Brasil o motivo foi outro. Era a sensação do que poderia ter sido. Se Messi tivesse feito gol naquela decisão e não o reserva alemão Götze, a vida do argentino seria diferente.

“Mudaria tudo não apenas para mim, mas para a minha geração”, admitiu.

Um dos grandes elogios feitos à preparação para esta Copa América é que tem sido tranquila. Isso significa que Messi está em paz no papel de referência do processo de renovação que engloba também o técnico Lionel Scaloni.

E o título da competição, além de quebrar o jejum da seleção de 26 anos sem conquistas, lhe daria impulso para pensar na próxima Copa do Mundo, que será disputada no Qatar em 2022.

Lionel Messi sabe que, daqui a três anos, se a derrota acontecer, só haverá um culpado. O mesmo de 2011, 2014, 2015, 2016 e 2018: ele.

Javier Mascherano confessou em 2014 estar cansado de “comer merda” pela seleção.

“Olhe para Leo. Você acha que ele não merece um título com a camisa da seleção argentina?”, questionou.

Messi pode estar, na verdade, é cansado de chorar.

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Rodolfo Buhrer/Reuters Messi (de branco) participa de treino da seleção argentina em Salvador

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