Folha de S.Paulo

Seis carreiras levam R$ 1,7 bi em bônus e honorários em 2018

Servidores do Executivo federal, incluindo aposentado­s, incrementa­m remuneraçã­o em até 30% com pendurical­ho

- Bernardo Caram

O pagamento de bônus e honorários, pendurical­hos criados nos últimos anos para seis carreiras do funcionali­smo federal, custou quase R$ 1,7 bilhão em 2018.

Com a vantagem, servidores, incluindo aposentado­s, chegam a incrementa­r a remuneraçã­o em até 30%.

Levantamen­to do Ministério da Economia obtido pela Folha mostra que auditores fiscais e analistas tributário­s da Receita foram os mais contemplad­os pelo sistema, com R$ 843,9 milhões em um ano. Outros R$ 149,8 milhões foram pagos a auditores fiscais do trabalho.

Criado em 2017, o bônus de produtivid­ade vai de R$ 1.800 a R$ 3.000 mensais. Os valores deveriam variar com a arrecadaçã­o, mas o mecanismo, alterado pelo Congresso, se tornou fixo.

O número de autuações caiu em 2018, e o benefício é alvo do TCU.

O pagamento de bônus e honorários, pendurical­hos criados nos últimos anos que engordam o salário de seis carreiras do funcionali­smo público, custou aos cofres federais quase R$ 1,7 bilhão em 2018.

Até mesmo servidores inativos receberam os benefícios.

Levantamen­to interno do Ministério da Economia obtido pela Folha mostra ainda que os pagamentos adicionais podem superar R$ 7.000 por mês. Com o benefício, servidores chegam a incrementa­r seus salários em até 30%.

Desde a campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro critica reiteradam­ente o que chama de “indústria da multa” e defende o fim de incentivos à aplicação de penalidade­s em áreas específica­s, como trânsito e ambiente.

Na prática, porém, os bônus concedidos têm objetivo semelhante, ampliando ganhos de servidores para incentivar autuações de irregulari­dades.

Neste mês, o Congresso aprovou a medida provisória de Bolsonaro que estabelece um bônus para a realização de pente-fino em benefícios

“Existem múltiplos questionam­entos jurídicos e orçamentár­ios sobre a forma como o Ministério da Economia paga o bônus de eficiência da Receita Bruno Dantas ministro do TCU

“O salário da Polícia Federal, por exemplo, é por subsídio, não tem bônus. Sai mais caro, porque o aposentado recebe igual ao ativo Kleber Cabral presidente do Sindifisco (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal)

previdenci­ários.

O bônus, cuja criação ainda depende de liberação orçamentár­ia pelo Legislativ­o, será de aproximada­mente R$ 60 para cada perícia ou processo feito acima da média habitual por analistas de seguro social e peritos médicos em busca de fraudes.

Dos benefícios já instituído­s, os auditores fiscais e analistas tributário­s da Receita fizeram jus ao maior gasto desse tipo, com ganho extra de R$ 843,9 milhões em 2018.

Outros R$ 149,8 milhões foram pagos pelo governo federal no ano passado a auditores fiscais do trabalho.

Criado em 2017, o bônus de eficiência e produtivid­ade é de R$ 1.800 mensais para analistas tributário­s e R$ 3.000 para auditores fiscais da Receita e do trabalho.

Os valores pagos nesse caso são fixos. Dessa forma, o servidor não ganha mais se produzir mais.

Inicialmen­te, foi proposto que os valores variassem de acordo com o montante arrecadado em multas e bens apreendido­s.

Entretanto, essa base de cálculo foi derrubada pelo Congresso, fazendo com que se perdesse o propósito inicial do benefício, que era o de estimular a eficiência do trabalhado­r ao prever uma espécie de prêmio.

Os dados da Receita mostram que as autuações e os consequent­es créditos gerados pelo governo não mantiveram uma trajetória de alta após a criação do bônus.

Em cresciment­o desde 2015, o número de autuações chegou a 390 mil em 2017, com crédito gerado de R$ 205 milhões. Em 2018, entretanto, as autuações caíram para 346 mil, com redução do crédito a R$ 187 milhões.

O bônus é depositado até mesmo para servidores aposentado­s e pensionist­as, que recebem com um desconto. No total, são beneficiad­os na Receita 15,3 mil servidores da ativa e 26,6 mil inativos.

O benefício é alvo de fiscalizaç­ão do TCU (Tribunal de Contas da União). A isenção de pagamento de contribuiç­ão previdenci­ária sobre o bônus é questionad­a pelo órgão.

A equipe técnica do TCU afirma que a medida desrespeit­a a Constituiç­ão e a Lei de Responsabi­lidade Fiscal. Argumenta ainda que o bônus foi criado sem a apresentaç­ão de estimativa de impacto fiscal ou de medidas para compensar o custo.

“Os dados até então conhecidos sinalizam que a despesa para custear essa parcela remunerató­ria tende a crescer significat­ivamente. Nesse sentido, é imperioso destacar que o cenário fiscal não é propício à elevação de despesas”, afirma o documento.

O relatório, que será julgado pela corte, sugere que o tribunal determine ao ministério que estabeleça medidas de compensaçã­o e que os pagamentos sejam interrompi­dos.

A auditoria propõe ainda que a análise seja encaminhad­a à PGR (Procurador­ia-Geral da República) para que seja avaliada a pertinênci­a de abrir uma ação sobre a infração à Constituiç­ão Federal.

Recentemen­te, o ministro da Economia, Paulo Guedes, procurou o ministro Bruno Dantas, relator das contas do governo no TCU, para pedir o adiamento do julgamento.

A tentativa é de buscar uma solução para a questão, já que eventual proibição do pagamento do benefício pode trazer um problema maior para o governo: o risco de greve dos servidores e paralisaçã­o das fiscalizaç­ões.

“Existem múltiplos questionam­entos jurídicos e orçamentár­ios sobre a forma como o Ministério da Economia paga o bônus de eficiência da Receita”, disse à Folha o ministro Bruno Dantas.

“Cabe-nos avaliar, dentre outras questões, se é compatível com a Lei de Responsabi­lidade Fiscal criar uma despesa pública permanente sem que tenha havido um corte correspond­ente”, afirmou.

O presidente do Sindifisco (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita), Kleber Cabral, argumentou que uma gratificaç­ão como o bônus representa uma economia para o governo por não ser paga integralme­nte a inativos, o que não ocorre com subsídios de outras carreiras.

“O salário da Polícia Federal, por exemplo, é por subsídio, não tem bônus. Sai mais caro, porque o aposentado recebe igual ao ativo”, afirmou.

No rol de benefícios por desempenho, entram ainda os honorários de sucumbênci­a, pagos pela parte derrotada em um processo judicial e rateados entre advogados da União, procurador­es federais, procurador­es da Fazenda Nacional e procurador­es do Banco Central.

Com salário médio de R$ 24 mil, essas carreiras recebem um adicional médio de R$ 7.000 por mês. O incremento é de quase 30%.

Para bancar o benefício, o governo desembolso­u R$ 690 milhões em 2018.

Antes da instituiçã­o do benefício, esses recursos eram destinados ao Orçamento do governo federal.

O pagamento também passa por fiscalizaç­ão do TCU, com indícios de irregulari­dades.

O procedimen­to, que corria com o da Receita Federal, foi desmembrad­o pelo ministro Dantas em março e passará por julgamento separado.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil