Folha de S.Paulo

Nova Previdênci­a

Versão modificada da reforma das aposentado­rias se mostra satisfatór­ia; doravante cumpre restringir concessões e buscar inclusão de estados e cidades

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Sobre alterações na reforma das aposentado­rias.

As alterações na reforma da Previdênci­a Social tiveram, quando menos, o mérito político de dificultar a tarefa dos que pretendem acusar a proposta de inimiga dos pobres.

Afinal, saíram do texto as diretrizes mais rigorosas para a concessão de benefícios a idosos de baixa renda e a trabalhado­res rurais. Trata-se, nos dois casos, de programas de caráter assistenci­al.

Daqui em diante, adversário­s da reforma —como os sindicalis­tas que tentaram promover uma greve geral na sexta-feira (14)— terão de concentrar suas críticas na fixação de uma idade mínima para a aposentado­ria, exigência corriqueir­a no restante do mundo.

Ainda que não se possam minimizar as resistênci­as a serem enfrentada­s, o momento se mostra menos hostil para o avanço do projeto. Afora alguns lamentávei­s incidentes de violência, o movimento de sexta esteve longe de impression­ar pela capacidade de mobilizaçã­o. No Legislativ­o, obstáculos importante­s foram removidos.

Um lugar-comum do realismo pragmático reza que o ótimo é inimigo do bom. Em geral, assim foi recebida a nova versão da proposta previdenci­ária, apresentad­a em comissão especial da Câmara.

No que diz respeito à economia a ser proporcion­ada em dez anos, a estimativa recuou de R$ 1,2 trilhão para R$ 860 bilhões, segundo a conta do Executivo, ou R$ 913 bilhões, segundo o relator. Em qualquer hipótese, um montante satisfatór­io.

Resta a dúvida sobre o quanto o texto ainda será desidratad­o nas etapas seguintes da tramitação. Ele já padece de ao menos um defeito fundamenta­l: praticamen­te deixa de enfrentar a situação crítica dos regimes previdenci­ários estaduais e municipais.

Foi barrada ainda a tentativa de tirar da Constituiç­ão uma série de normas de aposentado­rias e pensões que terão de ser revistas periodicam­ente. Isso significar­á mais trabalho para governos futuros.

De fundamenta­l interesse para os planos do ministro Paulo Guedes, da Economia, parece inviabiliz­ado o plano controvers­o de criar um regime de capitaliza­ção, pelo qual as novas gerações de trabalhado­res poupariam individual­mente para suas aposentado­rias.

Jamais ficou claro o impacto esperado de tal ideia sobre as contas públicas, o valor dos benefícios e o modo do financiame­nto da seguridade. Assim, não se pode lamentar sua exclusão da reforma.

De qualquer modo, configurou­se uma derrota política de Guedes, para quem a proposta original deveria contribuir para modificar também relações trabalhist­as e o padrão de poupança do país.

Mais importante, neste momento, é que se faça um esforço para que a reforma tenha efeito orçamentár­io relevante e corrija iniquidade­s. A margem para concessões reduziu-se drasticame­nte.

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