Folha de S.Paulo

Cotidiano Torresmo viralizado

Dono de boteco em São Caetano distribui 150 senhas por dia para o petisco

- Leonardo Zvarick

Petisco de bar em São Caetano (SP) vira hit nas redes e atrai multidão

são caetano do sul (sp) | agora Eram 10h da manhã quando chegou o primeiro cliente do boteco Zé do Brejo, na quinta-feira (13). “Ainda não estamos abertos. Volte mais tarde, daqui uma hora, e pegue uma senha para comer torresmo tranquilo”, disse Valter Baldo, o dono do bar, enquanto segurava um telefone em cada mão.

Nas duas linhas, distribuid­ores de carne suína disputavam a atenção do comerciant­e, que negociava preços. “Olha a loucura que está isso aqui! É ligação o dia inteiro”, afirmou Baldo.

Há cerca de quatro semanas, o Zé do Brejo atrai multidões de apreciador­es da culinária de boteco todos os dias. A mudança na rotina ocorreu após a divulgação de seu agora famoso torresmo de rolo na internet, principalm­ente por meio de grupos de WhatsApp.

A receita, criada pela mulher de Baldo, já existia há algum tempo, mas agora caiu no gosto popular. “Antes eu vendia entre 40 kg e 60 kg de torresmo por semana. Agora estão saindo 300 kg por dia”, disse o comerciant­e, que tirou os outros pratos do cardápio para conseguir atender à demanda pelo petisco. “Está vendo isso aqui? Dura uma meia hora”, disse, apontando para dois sacos de carne de porco de 60 kg cada.

Segundo Baldo, desde o súbito cresciment­o no movimento do bar, o assédio dos fornecedor­es é quase diário. Ele faz questão de escolher cada peça de carne que compra. “Vou todas as noites no frigorífic­o escolher a carne, que deve estar sempre fresca. A congelada não tem a mesma qualidade”, avalia.

Quem comanda a cozinha é o braço direito de Baldo, Adriano Almeida, de 38 anos, que trabalha no bar desde que ele foi inaugurado, há um ano e meio. “É trabalho que não para. Antes eu também fazia drinques, mas hoje não tem jeito”, disse o ajudante.

Para dar conta da clientela, Baldo teve que contratar quatro funcionári­os e montar uma cadeia de produção para o torresmo.

O processo é demorado e começa às 5h. A equipe do Zé do Brejo limpa, tempera e enrola as carnes. Em seguida, a pancetta é colocada em um defumador industrial, onde permanece por cerca de 5 horas antes da etapa da fritura.

“É uma receita que só eu faço. Já fiquei sabendo que tem gente querendo copiar, mas pode ter certeza que não é a mesma coisa”, afirma o comerciant­e, que vende o petisco por R$ 60 o kg.

Baldo não esconde a sua predileção pela carne suína. Antes do sucesso do torresmo de rolo, os carros-chefes do cardápio eram joelho de porco, porco no rolete e costela no bafo, entre outros cortes. “Eu fui criado na banha de porco. Antes da geladeira, minha avó usava pra conservar. Hoje, uso pra cozinhar qualquer coisa”, disse.

Segundo o chef, esse é um dos segredos para preparar um bom torresmo. “A carne tem que ser frita na banha, pois o óleo tira o gosto”, explica. Depois de meia hora na gordura fervente, o torresmo é servido pelo dono do bar.

Com uma faca afiada, Baldo fatia a pancetta frita diante de cada cliente. Sobre a porção, acrescenta apenas pimenta biquinho e fatias de limão. Segundo ele, o excesso de guarnições “polui o sabor”.

O comerciant­e garante que a melhor pancetta para fazer torresmo é aquela com muita carne e pouca gordura. “Assim temos uma carne suculenta e uma pururuca crocante.”

Quando o Zé do Brejo abriu as portas na quinta-feira, ao meio dia, a clientela já estava aglomerada na calçada. Uma fila se formou diante do balcão para a retirada das senhas.

“Distribuir senhas foi a solução que encontramo­s para conseguir atender todos. Nos primeiros dias estava tão cheio que eu não sabia quem servir”, disse o proprietár­io.

A filha Natália, responsáve­l pelo caixa, disse que foram mais de 300 senhas no dia de maior movimento. “Nunca mais! Foi muito caótico. Hoje limitamos a 150 por dia”, disse.

Em menos de 15 minutos o salão estava tomado. O primeiro a ser servido foi Wilson Moraes, de 51 anos, que aguardava desde as 10h. “É a primeira vez que venho aqui, mas tenho certeza que vai valer a pena”, disse o metalúrgic­o.

A maioria era de clientes de primeira viagem. Um grupo de amigos aproveitav­a o intervalo de almoço pra experiment­ar o petisco. “Eu moro nessa rua e sempre passo por aqui para ir ao trabalho. Quando fiquei sabendo que era esse o bar do torresmo de rolo, tive que trazer o pessoal”, disse o engenheiro Wesley Lopes.

“Dessa vez eu fico até o final, nem que me custem horas”, afirmou o representa­nte comercial Ronaldo Checa, 60, na quarta tentativa de experiment­ar a famosa pancetta.

“Tenho clientes do interior que conhecem. Dia desses, em Bauru, vieram me perguntar se eu conhecia a ‘pururuca de São Caetano’ que tinham recebido no WhatsApp”, relata.

Naquele dia, o autor do vídeo em questão estava no Zé do Brejo pela quarta vez. Régis Fiór, 43, estava com outros três amigos na ocasião. “Quando chegou o prato, todo mundo achou tão apetitoso que resolveram filmar. Aí um deles jogou num grupo e o negócio bombou”, disse.

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Fotos Eduardo Knapp/Folhapress Valter Baldo, dono do Zé do Brejo, com o petisco que se tornou famoso em vídeo nas redes sociais
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Clientes no bar em São Caetano do Sul (SP), que passou a lotar após sucesso do torresmo

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