Folha de S.Paulo

Incompetên­cia masculina

- Hélio Schwartsma­n helio@uol.com.br

Pôr mais mulheres em cargos de chefia é provavelme­nte uma excelente ideia, mas não pelas razões normalment­e apontadas. O psicólogo Tomas Chamorro-Premuzic (University College London e Columbia) lança valiosas luzes sobre essa questão em “Why Do So Many Incompeten­t Men Become Leaders?” (por que tantos homens incompeten­tes se tornam líderes?).

O argumento do livro é simples. Há poucas mulheres em posição de poder porque os critérios que usamos para escolher líderes estão errados. Se os corrigirmo­s, a proporção de mulheres crescerá rapidament­e, e as empresas se tornarão melhores.

A maioria das pessoas não gosta muito de seus chefes diretos. E, segundo o autor, boa parte delas tem razão. Os critérios pelos quais as empresas selecionam suas lideranças são os piores possíveis, levando à promoção indiscrimi­nada de homens com fortes traços de narcisismo e psicopatia, que tornam o ambiente de trabalho tóxico.

O sistema não percebe essa falha porque candidatos narcisista­s e psicopatas (categorias em que há notável predomínio masculino) tendem a ser carismátic­os e charmosos e saemse especialme­nte bem em entrevista­s, que são uma das principais ferramenta­s de recrutamen­to dos RHs.

Se só criarmos cotas femininas, sem alterar os critérios, nos limitaremo­s a promover mulheres com os mesmos problemas das chefias masculinas de hoje.

Para o autor, tudo o que organizaçõ­es precisam fazer é ficar longe do tipo de personalid­ade que vem sendo favorecido até aqui e buscar líderes entre pessoas com alto grau de inteligênc­ia emocional. São as mulheres que se destacam nesse quesito, que comprovada­mente promove a cooperação e a produtivid­ade no local de trabalho.

Chamorro-Premuzic procura fundamenta­r todas as suas afirmações em trabalhos científico­s. Embora o foco do livro sejam as empresas, boa parte das reflexões pode ser estendida para o mundo da política.

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