Folha de S.Paulo

As últimas de Ipanema

- Ivan Finotti

Aqui vão as últimas notícias de Ipanema, enviadas diretament­e da areia.

A praia estava cheia na sexta-feira (14) de greve (ou será que é sempre assim?), com temperatur­as em torno de 28°C (às 11h), 29°C (14h) e 26°C (17h).

“Alô milhôôô, alô milhôôô.” “Água, Coca e cerveja. Tem Brahma latão!”

“Queijo assado na brasa. Queijo com mel, queijo com orégano.”

“Caipirinha­aaaa! Faço na hora: Velho Barreiro, 51 ou vodca.”

“Trabalho há sete meses nessa barraca e não vi nenhum arrastão esse ano”, informa o rapaz.

“Já em Copacabana tem toda hora. É onde ficam os gringos, com mais posses.”

“Alô esfirra, alô salgado árabe.” “Cala a boca e senta aí de novo! Falei pra levantar???”, grita um dos sete policiais, tocando o terror em quatro adolescent­es negros.

“Cervejaaaa­aa, três por dez. Cervejaaaa­aa.”

Um vendedor sabe que seu produto é o rei dos sete mares. Por isso, com uma voz gutural, sem apelar para exclamaçõe­s e de forma bem rápida, ele diz apenas: “Camarão.”

Não, não é bem assim. Na verdade, ele come o “A” central, como se fosse um português carioca: “Cam-rão”

Dez segundos depois, ele repete calmamente: “Cam-rão.”

E outros dez: “Cam-rão.” “Matiiiiii! Mate com limão!” “Às vezes, a gente tem que sair correndo atrás de ladrão. Rola um estresse.”

“Olha o Globôôô. Olha o Globôôô”. Globo não é o jornal, mas um bixxcoito de polvilho tradiciona­l do Rio de Janeiro, vendido nas versões salgada e doce.

A cadeira de praia custa R$ 10 por dia; o guarda-sol, R$ 15. Depois das 15h, caem para R$ 5 e R$ 10.

Em São Paulo, o inverno começa na próxima sexta (21).

Aqui, não deve acontecer.

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