Folha de S.Paulo

Não existe confiança 100%, diz Bolsonaro sobre Moro

Presidente, porém, voltou a defender legado do ministro no combate à corrupção

- Paulo Saldaña

Um dia após a divulgação de novos trechos de conversas privadas nas quais o então juiz Sergio Moro passa orientaçõe­s a procurador­es da Lava Jata, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) defendeu o legado de seu ministro da Justiça, mas disse que não existe confiança 100%.

“Eu não sei das particular­idades da vida do Moro. Eu não frequento a casa dele. Ele não frequenta a minha casa por questão até de local onde moram nossas famílias. Mas, mesmo assim, meu pai dizia para mim: Confie 100% só em mim e minha mãe”, disse Bolsonaro, em rápida entrevista na porta do Palácio da Alvorada, neste sábado (15).

Indagado se os diálogos entre o então juiz e o procurador chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, não representa­riam irregulari­dades, o presidente ressaltou os resultados da atuação de Moro no combate à corrupção.

“Tem um crime de invadir o celular do caboclo lá [Deltan]. E outra, tem programa que eu tive acesso de você forjar conversa e ponto final. O que interessa? O Moro foi responsáve­l não por botar um ponto final, mas por buscar uma inflexão na questão da corrupção”, disse o presidente.

“E mais importante: [Moro] livrou o Brasil de mergulhar em uma situação semelhante à da Venezuela. Onde estaria em jogo não o nosso patrimônio, mas a nossa liberdade”, completou.

Na mesma entrevista, Bolsonaro indicou que ninguém é inabalável no cargo e citou a situação do general Santos Cruz, militar demitido na última quinta-feira (13) da Secretaria de Governo.

“Todo mundo pode ser [demitido]. Muita gente se surpreende­u com a saída do general Santos Cruz. Isso pode acontecer. Muitas vezes, a separação de um casal você se surpreende: ‘Mas viviam tão bem!’. Mas a gente nunca sabe qual a razão daquilo. E é bom não saber. Que cada um seja feliz da sua maneira.”

O presidente não deu detalhes sobre o que motivou a saída do general Santos Cruz do governo federal.

Mensagens divulgadas desde domingo (9) pelo site The Intercept Brasil mostram que Moro e Deltan trocavam colaboraçõ­es quando integravam a força-tarefa da Lava Jato.

Segundo as conversas, Moro sugeriu ao Ministério Público Federal trocar a ordem de fases da Lava Jato, cobrou a realização de novas operações, deu conselhos e pistas e antecipou ao menos uma decisão judicial.

O pacote de diálogos inclui mensagens privadas e de grupos da força-tarefa no aplicativo Telegram de 2015 a 2018.

Segundo a legislação, é papel do juiz se manter imparcial diante da acusação e da defesa. Juízes que estão de alguma forma comprometi­dos com uma das partes devem se considerar suspeitos e, portanto, impedidos de julgar a ação. Quando isso acontece, o caso é enviado para outro magistrado.

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André Coelho/Folhapress O ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro

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