Folha de S.Paulo

Moro se explicará ao Senado em estratégia para evitar uma CPI

- Daniel Carvalho

brasília A ida do ministro Sergio Moro (Justiça) à CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) do Senado nesta próxima quarta-feira (19) foi resultado de um cálculo do desgaste a que o ex-juiz da Lava Jato seria submetido no Congresso.

Moro e outros auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (PSL) entenderam que ir espontanea­mente ao Legislativ­o para explicar a troca de mensagens com o procurador Deltan Dallagnol era uma jogada relativame­nte segura, com o objetivo de frear eventual CPI com foco no ministro, tido como uma reserva ética do governo.

Na segunda (10), um dia após a divulgação das primeiras conversas, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) protocolou na CCJ um requerimen­to para convocar o ministro. O congressis­ta começou também a coletar assinatura­s para criar uma CPI.

Nas redes sociais, parlamenta­res cobravam a volta da tramitação de projetos que combatem o abuso de autoridade e apontavam os reflexos que a crise teria no calendário do pacote anticrime apadrinhad­o por Moro.

Para os congressis­tas aliados de Moro, a conta do Planalto era óbvia: ao se oferecer para ir ao Senado, livrava-se do constrangi­mento de ser convocado, ia para um ambiente relativame­nte controlado e menos hostil que a Câmara e esfriava a criação da CPI.

Até agora, o plano deu certo. Integrante­s do PT no Senado já diziam não querer CPI por dois motivos. Primeiro, não sabem o tamanho que a crise pode ganhar com a divulgação de novas conversas.

Além disso, petistas afirmam que, em vez de abrir dois flancos, é melhor priorizar a CPI para investigar fake news nas eleições de 2018, cujo requerimen­to de criação já está sobre a mesa de Davi Alcolumbre, presidente do Senado.

Angelo Coronel colocou seu requerimen­to, ainda com número insuficien­te de assinatura­s, na gaveta. Diz a aliados que guardará o papel para o caso de o clima virar.

Senadores avaliam que a conta de Moro tem tudo para resultar num saldo positivo na quarta-feira. Entendem que o ministro tem gordura de apoio popular para queimar e apostam que não haverá nomes para constrangê-lo.

Reservadam­ente, dizem que o PT não estará tão à vontade na sessão porque qualquer manifestaç­ão mais enfática pode soar ideológica e como bandeira contrária ao combate à corrupção.

Mas a tentativa de redução de danos não brecou ofensivas do Congresso em outras frentes. Moro se viu obrigado a também ir voluntaria­mente à CCJ da Câmara, e a CCJ do Senado deve votar na terça (18) um convite a Deltan para prestar esclarecim­entos.

Na semana seguinte, está prevista apreciação do pacote de dez medidas anticorrup­ção, que inclui a legislação de combate ao abuso de autoridade.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil