Folha de S.Paulo

Reduto de Bolsonaro vira palanque a Doria

Governador do PSDB foi tratado como presidenci­ável em jantar oferecido por empresário suplente de Flávio Bolsonaro

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Catia Seabra e Talita Fernandes

rio de janeiro O QG da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) ao Palácio do Planalto foi convertido na noite de sexta (15) em cenário para homenagem a João Doria (PSDB), governador de São Paulo e potencial adversário do presidente nas eleições de 2022.

O anfitrião do jantar oferecido a 400 pessoas foi Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), primogênit­o do presidente.

Entre os convidados estavam políticos, empresário­s, artistas e jornalista­s, incluindo o ex-ministro de Bolsonaro Gustavo Bebianno, recém-chegado de temporada na Califórnia. Nos jardins da casa que abrigou a coordenaçã­o da campanha de Bolsonaro, Doria fez críticas veladas ao presidente. Disse, por exemplo, que não ficou à espera da aprovação da reforma da Previdênci­a para agir.

A reforma da Previdênci­a foi defendida por tucanos como Doria e o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, como um projeto que conta com forte apoio do partido, sem referência­s ao governo.

Doria falou por 40 minutos em um palanque improvisad­o diante da academia da casa, que, convertida em estúdio durante as eleições, funcionou como produtora dos vídeos para TV de Bolsonaro.

No discurso, defendeu diálogo com a esquerda e a manutenção de programas sociais. Ao seu lado estava a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSLSP). Ela não escondeu o constrangi­mento ao ouvir André Marinho, filho do anfitrião, imitar o presidente.

“Eu acho que você está querendo roubar minha pauta para 2022”, brincou André, numa simulação de diálogo entre Bolsonaro e Doria.

“Soube que nas suas reuniões com secretário­s tem apito, tem reloginho e quem chegar atrasado paga 100, paga prêmio. É isso mesmo? Mas você sabe que eu só falo com o 02 para mandar três tuítes e tá tudo resolvido. Já foram dois que dançaram, estão entre o Santa e a Cruz”, concluiu.

A menção a “02” é referência a um dos filhos de Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) que, à frente das redes sociais do pai, disparou críticas que culminaram na queda de ao menos dois ministros: Bebianno e Santos Cruz, demitido esta semana da Secretaria de Governo.

Em seu discurso, na sequência, Joice disse estar “na patota do PSDB”, mas lembrou ser do PSL e se apresentou como “a voz do governo Bolsonaro no Congresso”. Ela fez questão de lembrar ter sido ela a articulado­ra do voto “Bolsodoria”, dobradinha que pavimentou a eleição do tucano.

Antes de passar a palavra a Doria, Marinho pediu que dois vereadores tucanos entregasse­m ao governador uma placa de reconhecim­ento como

“Prestamos homenagem há dois anos, e ele [Doria] foi eleito prefeito. Agora fazemos uma segunda homenagem e espero que a próxima... Eu vou deixar na imaginação dos convidados Paulo Marinho empresário

“cidadão carioca”. Ele lembrou que este não foi o primeiro evento celebrado em sua casa em homenagem ao tucano.

“Prestamos homenagem há dois anos [a Doria], e ele foi eleito prefeito. Agora fazemos uma segunda homenagem como governador e espero que a próxima homenagem... eu vou deixar na imaginação dos convidados”, disse, em sugestão à possível candidatur­a de Doria à Presidênci­a.

O tema foi retomado ao longo do jantar. Em clima de descontraç­ão, Marinho brincava com os convidados ao indagar se sua casa ajudaria a eleger um novo presidente.

Frequentad­or da casa de Marinho durante a campanha, Bolsonaro quase não foi mencionado durante a conversa.

A memória mais clara de sua campanha é um painel usado nas gravações que traz “B17” impresso em verde e amarelo, em referência à inicial do sobrenome do presidente e o número do PSL nas urnas.

Marinho promete remover em breve o painel, numa simbologia de fim de ciclo.

Em algumas rodas era possível ouvir convidados comentarem a demissão recente do general Santos Cruz, em tom de desaprovaç­ão. Foram feitas observaçõe­s de que Bolsonaro costuma “rifar” aliados de primeira ordem depois de fritálos publicamen­te.

O ministro Sergio Moro (Justiça) foi lembrado por Doria em seu discurso. O tucano se referiu a ele como um “herói”.

A fala do tucano se deu em meio ao vazamento de mensagens do ex-juiz com o procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol, o que levou a questionam­entos sobre a lisura de Moro quando magistrado.

Doria disse que o ministro “não merece ser condenado por nada” por ter colocado muitos na cadeia.

O governador paulista reforçou que Moro será homenagead­o por ele na próxima semana com a Ordem do Ipiranga.

Já Bebianno, prestes a deixar o PSL com destino ao PSDB, foi chamado de “querido amigo” por Doria.

A socialite Narcisa Tamborinde­guy e o advogado Sérgio Bermudes circulavam entre os desertores do governo.

Aos convidados Bebbiano falava de projetos futuros, como o lançamento de um livro sobre a campanha de Bolsonaro à Presidênci­a e os primeiros dias de seu governo.

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Talita Fernandes/Folhapress O empresário Paulo Marinho, João Doria, Joice Hasselmann, Henrique Meirelles e Bruno Araujo

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