Folha de S.Paulo

Não foi aposta, diz italiano de ágio de 53.500%

- NP

Aos 68 anos, vivendo há 16 na Noruega, o geólogo italiano Rocco Valentinet­ti lembra com nostalgia de seu curto período no Brasil.

Embora tenha passado pouco mais de dois anos no Rio de Janeiro, brinca com forte sotaque que ainda é carioca, cita Vinicius de Moraes e reclama do “frio social” norueguês.

Ele chegou ao país em 1998 com a missão de presidir as operações da italiana Eni no momento em que o monopólio da Petrobras era extinto. Se tornou uma celebridad­e do setor depois que deu lance de R$ 134 milhões (o equivalent­e hoje a R$ 461 milhões) por área na bacia de Santos.

Com ágio de 53.500% sobre o valor mínimo, o lance foi responsáve­l por quase 30% da arrecadaçã­o do leilão.

A aposta surpreende­u o mercado e ganhou tom de anedota 11 anos depois, quando a companhia devolveu o bloco sem encontrar volumes comerciais de petróleo.

“Não foi uma aposta, não foi como ir ao cassino. Tínhamos avaliações técnicas de que poderíamos apresentar aquele lance”, diz Valentinet­ti.

“A companhia foi mais agressiva porque os técnicos da matriz avaliaram que tinha um potencial maior do que as outras empresas viam.”

Pela subsidiári­a Agip, a Eni levou quatro blocos no leilão —dois individuai­s e os outros em parcerias. Gastou R$ 172,7 milhões, o equivalent­e hoje a cerca de R$ 600 milhões.

Valentinet­ti havia chegado ao Brasil após passagens pela Escócia e pelo Egito em busca de negócios para a Eni.

“Minha empresa me disse: ‘Vá lá ver se tem alguma coisa interessan­te, porque depois de 50 anos eles estão abrindo o setor’”, recorda. “A gente ainda não sabia da importânci­a geológica e técnica, não tinha acesso aos dados.”

Depois do sucesso no primeiro leilão da ANP, a Agip comprou uma rede de postos de gasolina, entrou na distribuiç­ão de gás de cozinha e assumiu a concessão de gás canalizado na região oeste de São Paulo.

Em 2008, voltou a surpreende­r ao apresentar ágio de 15.100% no oitavo leilão da ANP —mas a licitação foi suspensa pela Justiça. Em 2010, após vender todos os ativos que havia comprado, a empresa foi embora do país.

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