Folha de S.Paulo

Governo desiste de vender tudo e preserva mais 12 estatais

Empresas estão entre as dependente­s de recursos do Tesouro e ligadas a militares, resistente­s a privatizaç­ões

- -Fábio Pupo

Antes com o discurso de vender tudo, a equipe econômica do governo Jair Bolsonaro reviu sua política para estatais e agora vai deixar de privatizar ao menos 12 empresas.

O governo constatou as dificuldad­es ou a inviabilid­ade financeira de algumas delas. Em outros casos, o problema é a resistênci­a nos ministério­s, especialme­nte no caso das estatais ligadas à Defesa.

Além de Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES, o Ministério da Economia inseriu na lista de empresas que não serão vendidas 8 das 18 estatais que dependem de recursos do Tesouro para sobreviver.

Entre elas, estão companhias do ramo militar como a Amazul (Amazônia Azul Tecnologia­s de Defesa). Ligada à Marinha, desenvolve o submarino de propulsão nuclear. O projeto começou em 2012 e deveria ser concluído em 2025 —com o atraso, o término foi adiado para 2029.

Outra a ser mantida é a Emgepron (Empresa Gerencial de Projetos Navais), criada em 2013. Também ligada à Marinha, gerencia pedidos de embarcaçõe­s, reparos navais e comerciali­za bens no setor.

Permanecer­á pública também a Indústria de Material Bélico do Brasil, que fabrica e vende produtos de defesa e segurança para clientes como Forças Armadas, polícias e clientes privados.

Contribuír­am para a decisão nessa área as diferenças de visão entre militares e equipe econômica sobre as privatizaç­ões. As divergênci­as começaram a aparecer já na época da transição de governo, no fim de 2018.

Representa­ntes do time do ministro da Economia, Paulo Guedes, já falavam que, por eles, seriam colocadas à venda todas as estatais —mas que representa­ntes das Forças Armadas eram contrários.

A diferença já foi exposta por Guedes. “Os nossos militares olham para algumas delas [estatais] com carinho, como filhos, porque foram eles que as criaram. Mas eu digo ‘olha que seus filhos fugiram e hoje estão drogados’”, afirmou em evento sobre privatizaç­ões em fevereiro.

A resistênci­a é observada também em outras pastas. Desde o começo do ano, representa­ntes da equipe econômica têm feito reuniões com diferentes ministério­s com o objetivo de checar a viabilidad­e das privatizaç­ões.

Encontram resistênci­as dos titulares. Bolsonaro também já se posicionou de forma contrária à venda daquelas considerad­as estratégic­as para o país.

Também será mantida a Embrapa (de pesquisa agropecuár­ia), ligada à Agricultur­a. A interpreta­ção é que companhias como essa geram um valor que não é apenas medido pelo lucro ou prejuízo.

Há um conjunto de empresas considerad­as no governo importante­s para ações ligadas a políticas públicas.

Estão nesse universo empresas ligadas a hospitais, como a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalar­es), o Hospital de Clínicas de Porto Alegre e o Grupo Hospitalar Conceição. A CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, também segue estatal.

A Secretaria de Desestatiz­ação e Desinvesti­mento diz em nota que a Constituiç­ão afirma que a exploração direta de atividade econômica pelo Estado “só será permitida quando necessária aos imperativo­s da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo”.

“Neste sentido, a manutenção de empresas estatais pela União só se dará se esses critérios forem observados”, afirma o texto.

Hoje, são 134 empresas estatais, sendo que as 18 dependente­s do Tesouro demandam cerca de R$ 20 bilhões ao ano.

O secretário especial de Desestatiz­ação e Desinvesti­mento do Ministério da Economia, Salim Mattar, defendeu ao tomar posse que estava desenvolve­ndo um programa com o objetivo de se desfazer de tudo.

Há três meses, Guedes deu declaraçõe­s semelhante­s ao dizer que, “no final, vai a [privatizaç­ão da] Petrobras também, vai o Banco do Brasil”. “Tem que ir tudo”, defendeu.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil