Caixa lança Odebrecht à recuperação judicial
Estatal executa dívidas da empreiteira em manobra que é vista como suicida por outros bancos credores do grupo
A Caixa executou dívidas da Odebrecht como forma de pressionar a empresa a abrir negociação e oferecer garantias que protejam a estatal caso o grupo entre em recuperação judicial.
O movimento foi visto pelos demais credores e pela empresa como um manobra suicida, que jogou de vez o grupo na vala da recuperação judicial.
As dívidas executadas pela Caixa estavam em atraso havia mais de dois meses e se referem a empréstimos tomados para a construção do Itaquerão, em São Paulo, e o Centro Administrativo de Brasília, em Taguatinga (DF).
Na sexta-feira (14), ocorreu a primeira rodada de conversas depois das execuções. Pessoas que participaram das negociações dizem que representantes da Odebrecht são céticos sobre encontrar uma saída.
Os da Caixa dizem acreditar que há espaço para levar ações da petroquímica Braskem, único ativo valioso do grupo.
A Caixa decidiu esticar a corda porque os demais bancos credores, como Bradesco, Itaú e Banco do Brasil, têm ações da petroquímica que dão proteção para boa parte dos empréstimos concedidos. Essas instituições estavam dispostas a renegociar dívidas.
Só em operações diretas e avais dados pela Odebrecht S.A. aos bancos, a dívida é de mais de R$ 20 bilhões —R$ 7 bilhões com a Caixa.
No entanto, mesmo esses bancos não estão totalmente cobertos. Quando a holandesa LyondellBasell desistiu da aquisição da Braskem, há duas semanas, o valor das ações despencou, e as garantias deixaram de ser suficientes.
Pessoas próximas ao processo duvidam que seja possível evitar que a Odebrecht S.A. peça uma trégua à Justiça.
O grupo fez uma proposta de reestruturação da dívida que inclui deságio e prorrogação do prazo de pagamento.
Os cálculos só fazem sentido se o braço de construção da Odebrecht se recuperar e se for possível obter um bom dinheiro com a venda da Braskem, o que, segundo os envolvidos, parece pouco provável.