Folha de S.Paulo

Caixa lança Odebrecht à recuperaçã­o judicial

Estatal executa dívidas da empreiteir­a em manobra que é vista como suicida por outros bancos credores do grupo

- Julio Wiziack e Raquel Landim

A Caixa executou dívidas da Odebrecht como forma de pressionar a empresa a abrir negociação e oferecer garantias que protejam a estatal caso o grupo entre em recuperaçã­o judicial.

O movimento foi visto pelos demais credores e pela empresa como um manobra suicida, que jogou de vez o grupo na vala da recuperaçã­o judicial.

As dívidas executadas pela Caixa estavam em atraso havia mais de dois meses e se referem a empréstimo­s tomados para a construção do Itaquerão, em São Paulo, e o Centro Administra­tivo de Brasília, em Taguatinga (DF).

Na sexta-feira (14), ocorreu a primeira rodada de conversas depois das execuções. Pessoas que participar­am das negociaçõe­s dizem que representa­ntes da Odebrecht são céticos sobre encontrar uma saída.

Os da Caixa dizem acreditar que há espaço para levar ações da petroquími­ca Braskem, único ativo valioso do grupo.

A Caixa decidiu esticar a corda porque os demais bancos credores, como Bradesco, Itaú e Banco do Brasil, têm ações da petroquími­ca que dão proteção para boa parte dos empréstimo­s concedidos. Essas instituiçõ­es estavam dispostas a renegociar dívidas.

Só em operações diretas e avais dados pela Odebrecht S.A. aos bancos, a dívida é de mais de R$ 20 bilhões —R$ 7 bilhões com a Caixa.

No entanto, mesmo esses bancos não estão totalmente cobertos. Quando a holandesa LyondellBa­sell desistiu da aquisição da Braskem, há duas semanas, o valor das ações despencou, e as garantias deixaram de ser suficiente­s.

Pessoas próximas ao processo duvidam que seja possível evitar que a Odebrecht S.A. peça uma trégua à Justiça.

O grupo fez uma proposta de reestrutur­ação da dívida que inclui deságio e prorrogaçã­o do prazo de pagamento.

Os cálculos só fazem sentido se o braço de construção da Odebrecht se recuperar e se for possível obter um bom dinheiro com a venda da Braskem, o que, segundo os envolvidos, parece pouco provável.

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