Folha de S.Paulo

Everton deve ser titular

É preciso ter coragem e botar para jogar quem tenha a ousadia de ousar jogar bola

- Juca Kfouri Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Perdão pela redundânci­a da coragem para escalar quem tem a ousadia de ousar.

Mas na gélida vitória brasileira sobre a Bolívia por 3 a 0 só a entrada de Everton aqueceu a indiferent­e plateia de 47 mil pessoas no Morumbi repleto de vazios.

Porque é preciso alegrar o torcedor, mexer com a emoção, deixar a burocracia para os burocratas e investir na balbúrdia, como faz o gremista.

Está certo que ele entrou em campo com a vitória garantida e com os bolivianos já com a língua de fora de tanto se defender, mas se há alguém que une alegria com eficácia é o cearense de Maracanaú.

Porque convenhamo­s escalar Casemiro e Fernandinh­o para treinar com a Bolívia é uma demasia que revela o recente espírito resultadis­ta do técnico Tite, que sempre pregou a busca do desempenho.

No jogo contra a Venezuela, na terça-feira (18), em Salvador, espera-se mais alegria e menos cautela, menos caldo de galinha e mais vatapá.

Porque se não for assim, não se assuste, no terceiro jogo, contra o Peru, no sábado (22), na Arena Corinthian­s, muita gente pedirá Neymar mesmo sabendo que ele não pode jogar.

Imponente

Transcorri­do quase um quarto do Campeonato Brasileiro e o Palmeiras já está cinco pontos à frente do segundo colocado.

Vantagem conquistad­a dentro de campo, que é o que vale.

Onde isso vai parar é impossível prever, mas dá toda pinta de uma campanha ao estilo da Juventus, na Itália. Palmastamb­émparaoSan­tos. Com elenco menos valioso que Flamengo, Cruzeiro, Inter, São Paulo e Corinthian­s, está no segundo lugar e jogando bem, até agradando mais aos olhos que o líder.

Só que, e sempre tem um só que, também chamado de mas, é bom lembrar que exatamente contra o Santos o Palmeiras não apenas agradou como enfiou uma sonora goleada por 4 a 0.

Sim, há muita água para rolar até dezembro, quem sabe tempo suficiente para o Santos não segurar desempenho e resultados tão bons, ou para Flamengo e Grêmio honrarem o que deles se esperava —porque ao Cruzeiro só resta sair logo do vexaminoso antepenúlt­imo lugar, já a 17 pontos do líder.

Tempo suficiente também para Felipão seguir com seu discurso de que não está nada ganho, coisa que seus comandados cansaram de ouvir antes de enfrentar o lanterna Avaí.

Porque, afinal, foi contra o também frágil CSA, penúltimo colocado, que o Palmeiras perdeu seus únicos dois pontos até aqui.

Em tempo: para quem não está familiariz­ado com o Campeonato Italiano cumpre informar que a Juve, na 33ª rodada, foi octacampeã seguida nesta temporada, com apenas quatro derrotas e seis empates em 38 jogos.

Em tempo (2): duas das derrotas e três dos empates acontecera­m nas últimas cinco rodadas, quando já era campeã. Esperado

A estreia da seleção feminina não tinha sido muito animadora e a derrota para Austrália era previsível.

O pior é que não há porque ser otimista em relação ao jogo contra a Itália na terça-feira (18).

Tomara que Marta e Cristiane suportem jogar os 90 minutos.

Tristeza

Clóvis Rossi um dia escreveu que não torcia mais pelo Palmeiras, só pelo Barcelona, desencanta­do com o futebol alviverde.

Era só desabafo.

A última coisa que fez em vida foi ver o Palmeiras e vibrar com os dois gols contra o Avaí.

Em seu caixão estavam as cores verde, branca, azul, vermelha e bordô.

Mas palmeirens­es e catalães não fazem ideia do tamanho do torcedor que perderam.

Nem o Brasil.

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