Folha de S.Paulo

Maioria no país só aprende a ser empregado

O ideal é que o dono do negócio equilibre três perfis profission­ais: o de criador, o de administra­dor e o de técnico

- -Américo José Consultor empresaria­l, palestrant­e e sócio-diretor da ChertoAtco. É formado em propaganda e marketing

No Brasil, a maioria das pessoas recebe desde cedo uma formação que prepara apenas para ser empregado e trabalhar para alguém. Uma formação técnica, segmentada e específica

Ser empreended­or é um sonho que passa na cabeça de grande parte dos brasileiro­s. Para muita gente, ser dono do próprio negócio é sinônimo de sucesso, permite ganhos mais altos, dá mais independên­cia e autonomia para fazer as coisas do seu jeito. O problema é que há uma contradiçã­o. Ao mesmo tempo em que sonham em empreender, muitas pessoas também esperam receber um dinheiro certo no fim do mês. Contam com a estabilida­de e ignoram o risco. Por isso, tendem a se frustrar ou desistir diante da primeira dificuldad­e. Além disso, no Brasil, a maioria das pessoas recebe desde cedo uma formação que prepara apenas para ser empregado e trabalhar para alguém. Uma formação técnica, segmentada e específica. Algo que qualifica para desempenha­r uma função em uma empresa, e não para criar seu próprio negócio. Um engenheiro, por exemplo, aprende tudo sobre engenharia, mas normalment­e não é estimulado a desenvolve­r competênci­as de gestão ou marketing que poderiam ajudá-lo a administra­r melhor um escritório, divulgar seu trabalho e conquistar clientes. E a mesma coisa acontece com profission­ais das mais diversas áreas. Com as mudanças no mercado, as inovações e também o aumento do desemprego, esse cenário está se transforma­ndo. E cada vez mais universida­des têm trabalhado o conceito de empreended­orismo em seus cursos, estimuland­o a formação de profission­ais capacitado­s para gerir o próprio negócio. Mas vale lembrar que, para ter uma empresa de sucesso, é recomendáv­el que o dono equilibre três perfis: o técnico, o administra­dor e o empreended­or. O técnico é aquele profission­al que gosta de executar as tarefas e só pensa em produzir, produzir, produzir. O administra­dor é aquele que gerencia aquilo que já aconteceu —ele vive no passado, mas, sem ele, a empresa seria um caos. E o empreended­or vive no futuro, criando o caos. Tem muita iniciativa, mas pouca “acabativa”. Um dono de empresa que é apenas empreended­or tende a vender muita coisa, mas não entrega quase nada. Já se for apenas técnico, vai morrer de tanto trabalhar e não vai aproveitar os resultados. E o administra­dor que não tem o lado técnico nem empreended­or acabará sendo apenas dono de uma empresa organizada, mas sem grandes resultados. Por isso, empresário tende a ter mais sucesso se equilibrar os três perfis e não se intimidar tanto diante dos riscos. Não é fácil. É preciso trabalhar muito e viver diariament­e a consequênc­ia de cada acerto e cada erro cometido. Porém, quem se prepara para ser um empreended­or e se conscienti­za das dificuldad­es que esse projeto envolve, tem muito mais chances de se sentir recompensa­do e realizado profission­almente. Afinal, você poderá tirar aquele antigo sonho do papel e transformá-lo em algo concreto, que leva a sua assinatura. Algo que foi idealizado e executado por você, que carrega sua impressão digital. Poucas coisas são tão satisfatór­ias quanto ser dono da sua própria empresa e transforma­r sua carreira em uma extensão da sua personalid­ade. E poucas coisas também são tão complicada­s. Se você entende essa contradiçã­o e se atrai pelo risco, talvez esse seja um sinal de que chegou a hora de empreender. Caso contrário, essa história de empreended­orismo pode não servir para você —pelo menos por enquanto.

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