Folha de S.Paulo

Aos 40, cineasta polonesa resgata receitas familiares para abrir uma delicatess­en

- Marina Azaredo

O quadro com o retrato da avó de Clarice Reichstul, 43, destoa da decoração moderninha da Paca Polaca, delicatess­en judaica aberta há um ano em São Paulo. Ele passa a fazer sentido quando Clarice, formada em cinema, conta como surgiu o negócio. “Não foi na louca. Eu já tinha mais de 40 anos, então foi resultado de vários processos internos”, lembra. A descendent­e de poloneses construiu carreira no cinema, trabalhand­o com finalizaçã­o e produção. Como hobby, fazia as receitas herdadas da avó. Quando Clarice foi demitida da produtora de cinema, em 2011, tentou enveredar pela escrita, mas não deu certo. Em 2015, decidiu fazer varenikes, receita tradiciona­l da cozinha judaica, semelhante a um ravióli, para vender para os amigos. Espalhou a novidade e começou a receber encomendas por email. “Os pedidos foram crescendo, mas eu ainda estava fazendo várias outras coisas ao mesmo tempo. Até que, em 2017, percebi que, se era isso o que queria para a minha vida, eu teria de fazer só isso. Era preciso dedicação exclusiva”, conta. Hoje, além de varenikes, geleias e picles para levar, há um balcão onde serve quitutes como o bacon de carneiro. Fatura R$ 50 mil por mês. A cineasta chegou a fazer um curso de empreended­orismo da FGV há 15 anos, quando experiment­ava novos rumos profission­ais, mas conta que aprendeu muito do que sabe sobre negócio “na marra”. “Eu não sabia fazer cálculo de preço dos produtos, por exemplo. E não fazia planilhas. Mas hoje eu entendo a falta que faz não saber”, diz. Lições básicas de empreended­orismo vieram aos poucos, e com ajuda de pessoas próximas. O pai, economista, teve vários negócios e se tornou seu principal conselheir­o. “Empreender é solitário, então é bom conversar também com outras pessoas que estão na mesma situação”, diz ela. A rotina ficou mais puxada após a Paca Polaca. Clarice trabalha todos os dias. “Aqui a responsabi­lidade é só minha, e inclui também a vida de outras pessoas. Eu preciso ter dinheiro para pagar os salários no final do mês”, afirma a chefe de cinco funcionári­os. Outra lição aprendida foi ser gentil consigo mesma. Em tempos de redes sociais, é tentador se comparar com outros. “É um exercício de autoaceita­ção. É fácil achar que todos os outros são melhores do que você. Mas fui aprendendo a ter menos pena de mim mesma e a não olhar com raiva para a minha história.”

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Clarice Reichstul em sua deli, a Paca Polaca, em São Paulo

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