Folha de S.Paulo

Empresário cria império noturno depois de perder R$ 10 milhões

Em uma década, Facundo Guerra abriu cerca de uma dúzia de casas que ajudaram a mudar o centro de SP

- -Bruno Fávero

Quando fala sobre seu trabalho, o empresário Facundo Guerra, 45, ora soa como um executivo focado em números e processos, ora como uma mente criativa que não liga para dinheiro. Abstêmio e avesso a baladas, diz que encarava a boate Vegas, sua primeira casa noturna, “como um produto”. Mas também que seus empreendim­entos são uma forma de se expressar e que preferiria ganhar pouco a ficar bilionário “abrindo rede de farmácia, que é tudo igual”. A dualidade reflete sua formação diversa. É um cara “de exatas”, graduado em engenharia de alimentos, e que foi executivo de empresas como Tetrapak e AOL. E também “de humanas”, já que estudou arte e jornalismo, e fez mestrado e doutorado na PUCSP sobre o impacto da tecnologia na política. “É um balanço de duas dimensões, não tem contradiçã­o”, diz. “Se você quiser montar um negócio e não souber usar uma planilha do Excel, vai fracassar.” Facundo abriu em cerca de uma década mais de uma dúzia de lugares —bares, baladas, casas de show e cafés. Atualmente, tem um faturament­o de R$ 30 milhões. Os mais recentes são o Blue Note, uma filial do bar americano de jazz, e o Arcos, um bar subterrâne­o sob o Theatro Municipal. Tudo nos bairros centrais da cidade, onde viveu desde que chegou da Argentina, ainda criança. “Eu vim pra cá e não tinha identidade, não era mais argentino, mas também não era aceito como brasileiro.” As experiênci­as que acumulou na vida o ajudaram a encarar os problemas que apareceram. A pior crise foi em 2017, quando seguidos investimen­tos malsucedid­os quase o levaram à falência. “Cheguei a ter R$ 10 milhões e perdi tudo. Me ferrei lindamente. Eu comecei a pegar um monte de negócios sem pensar. Achei que nunca errava, que minha mão estava boa. Mas errei.” Foi sua segunda grande crise profission­al. A primeira, sua demissão do AOL, o levou a abrir o Vegas. Da mais recente, ainda está colhendo as lições. “Errei ao entrar nessa coisa do maior, mais, mais. Via um cinema abandonado em qualquer lugar e ia lá tentar recuperar.” Para quem está disposto a encarar as dificuldad­es, Facundo dá dicas: primeiro, antes de abrir um negócio, pergunte-se por que está empreenden­do e quem vai ser prejudicad­o se falhar; segundo, fuja das soluções mágicas. “Esses empreended­ores de palco parecem pastores. Vêm com o papo de que ‘só depende de você’. Isso é tóxico.”

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Fotos Lucas Seixas/Folhapress O empresário Facundo Guerra, em SP

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