Folha de S.Paulo

Atacado, Levy se demite do BNDES

Ministro da Fazenda sob Dilma, executivo foi criticado publicamen­te por Bolsonaro; é a 1ª baixa na equipe econômica

- Alexa Salomão e Bernardo Caram

Depois de ser atacado publicamen­te pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) no sábado, o economista Joaquim Levy pediu demissão da presidênci­a do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) ontem de manhã.

Foi a primeira baixa na equipe montada pelo ministro Paulo Guedes, da Economia, que não procurou defender o auxiliar.

Bolsonaro disse que Levy, titular da Fazenda no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), estava “com a cabeça a prêmio” devido a sua intenção de nomear um diretor também com passagem pela administra­ção petista.

O Palácio do Planalto também cobrava, segundo relatos, venda de ativos em poder do BNDES, devolução de recursos ao Tesouro Nacional e revelações acerca de empréstimo­s concedidos pela instituiçã­o durante os governos de Dilma e de Luiz Inácio Lula da Silva.

Joaquim Levy pediu demissão da presidênci­a do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) neste domingo (16). A decisão foi tomada após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que ele estava “com a cabeça a prêmio”.

“Solicitei ao ministro da Economia, Paulo Guedes, meu desligamen­to do BNDES. Minha expectativ­a é que ele aceda. Agradeço ao ministro o convite para servir ao país e desejo sucesso nas reformas”, afirmou Levy, em nota.

O economista enviou uma carta a Guedes para comunicar sua decisão. É a primeira baixa na equipe econômica.

Na mensagem divulgada à imprensa, Levy agradeceu pela lealdade da diretoria e dos funcionári­os do banco.

Entre os nomes cotados para a presidênci­a do BNDES estão os secretário­s especiais do ministério da Economia Carlos da Costa (Produtivid­ade, Emprego e Competitiv­idade) e Salim Mattar (Desestatiz­ação e Desinvesti­mento).

Nome de confiança de Guedes, a presidente da Susep (Superinten­dência de Seguros Privados), Solange Vieira, está entre as possibilid­ades.

No sábado (15), Bolsonaro ameaçou demitir Levy, mesmo sem a anuência de Guedes, que, posteriorm­ente, endossou críticas ao subordinad­o.

O clima piorou, segundo Bolsonaro, após Levy nomear um executivo que já havia trabalhado no banco durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O advogado Marcos Barbosa Pinto ocuparia a partir desta segunda-feira (17) a diretoria de Mercado de Capitais.

“Essa pessoa, o Levy, já vem há algum tempo não sendo aquilo que foi combinado e aquilo que ele conhece a meu respeito”, disse Bolsonaro.

A atuação de Levy no banco vinha gerando irritação também em Guedes. No BNDES, porém, a justificat­iva para a fritura de Levy apresenta incoerênci­as e é vista como uma disputa de poder dentro do Ministério da Economia.

A primeira questão foi Bolsonaro se mostrar surpreso e indignado com a posse de Barbosa Pinto, uma vez que ele fora sondado por Levy para ocupar o posto antes da posse do novo governo.

A indicação oficial chegou à Casa Civil, e o nome recebeu sinal verde. Na sequência, foi avaliado por diferentes organismos do governo. Passou pelo conselho de administra­ção do banco de fomento, aprovado por unanimidad­e.

Respeitado no mercado, ele foi sócio de Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, na Gávea Investimen­tos. O nome de Barbosa Pinto foi aprovado, seguindo o Estatuto das Estatais, em assembleia do banco.

Membros da área econômica do governo afirmaram à Folha que Levy tinha dificuldad­e de atender algumas das principais determinaç­ões do governo à frente do banco. Eram três as principais reclamaçõe­s de Guedes.

A primeira avaliação é que Levy não deu andamento a uma criteriosa revisão das grandes operações feitas pelo BNDES nos últimos anos, principalm­ente as efetuadas durante as gestões do PT.

Essa era uma das principais bandeiras de campanha de Bolsonaro e sua equipe.

O argumento, dizem fontes do banco e até do governo, não é plausível porque o BNDES é investigad­o há dois anos. Até agora, não foi aberto processo contra nenhum integrante da instituiçã­o.

Segundo relatos de integrante­s da equipe de Guedes, Levy, que foi ministro da Fazenda de Dilma Rousseff e secretário do Tesouro de Lula, não empenhou velocidade suficiente na venda de ativos em poder do banco.

Desde o começo do ano, no entanto, já foram arrecadado­s cerca de R$ 13 bilhões com a venda de participaç­ões. Era essa área que ficaria sob comando de Barbosa Pinto.

Esse tipo de operação, alegam técnicos da instituiçã­o, deve seguir a lógica de mercado, para que se tenha o melhor resultado financeiro.

A carteira do BNDESPar — braço de participaç­ões— tem mais de cem investimen­tos, mas está concentrad­a em quatro empresas: Petrobras, Vale, Eletrobras e JBS. Diferentes circunstân­cias impuseram ritmo mais lento na venda de ações desse quarteto de empresas.

No caso da Petrobras, por exemplo, havia interferên­cia do STF (Supremo Tribunal Federal) na venda da TAG, transporta­dora de gás da estatal. O negócio já foi liberado.

A venda de ações da Vale vinha bem, até que ocorreu o rompimento da barragem em Brumadinho (MG), e o preço despencou, inviabiliz­ando uma negociação racional por ora.

A equipe econômica reclama ainda de uma suposta resistênci­a de Levy em devolver recursos do BNDES ao Tesouro no ritmo desejado pelo ministro da Economia.

Guedes já disse que espera receber R$ 126 bilhões do BNDES neste ano, mas Levy não se comprometi­a com a cifra. Os recursos são tratados como necessário­s para ajudar no ajuste fiscal do governo.

A Folha apurou com fontes próximas a essa negociação que Levy de fato não estava totalmente de acordo em enviar neste ano o montante solicitado, mas discutia um cronograma dos repasses.

É forte no BNDES a leitura de que alguns integrante­s da equipe econômica estavam desgostoso­s com a velocidade das mudanças e decidiram interferir de forma mais direta.

O desejo de parte da equipe é que elas fossem aceleradas. Entre os mais queixosos, contam, está Mattar. Internamen­te no banco a percepção é que sua interferên­cia teria sido decisiva para colocar Bolsonaro contra Levy.

Integrante­s do governo ainda não estão certos de que Mattar, apesar de cotado, tenha perfil para substituir Levy. Procurado pela Folha, Mattar não respondeu.

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