Folha de S.Paulo

Inquérito apura cabide de emprego no Sebrae paulista

Promotoria apura suposta improbidad­e e denúncias de fraudes em gestão de Paulo Skaf (2014-18)

- José Marques

Inquérito civil em São Paulo apura se integrante­s da cúpula estadual do Sistema S usaram o Sebrae para empregar parentes e aliados. Um dos alvos da investigaç­ão, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, nega irregulari­dades.

Um inquérito civil em São Paulo apura se integrante­s da cúpula estadual do Sistema S, entidades cujos gastos têm sido questionad­os pelo ministro Paulo Guedes (Economia), usaram o Sebrae como cabide de empregos para parentes e aliados.

Não que a investigaç­ão tenha inibido os citados.

Dois apontados em depoimento como suspeitos de terem parentes empregados de forma irregular, Fábio Meirelles e Sylvio Rosa Goulart, foram homenagead­os em evento do próprio Sebrae no último dia 21 de maio.

O inquérito, aberto pelo Ministério Público de São Paulo, tem como objetivo apurar suposta improbidad­e e denúncias de fraudes durante a presidênci­a de Paulo Skaf (20142018) no conselho deliberati­vo do Sebrae-SP.

A investigaç­ão envolve também pessoas que comandam outras entidades e cujos recursos vêm de contribuiç­ões compulsóri­as sobre as folhas de pagamento da indústria.

Enquanto a maior parte do Sistema S é composta de entidades ligadas a uma única federação (de indústria, comércio ou agricultur­a, por exemplo), o Sebrae, que é o serviço de apoio à micro e pequena empresa, tem um modelo de gestão compartilh­ada.

O próprio Paulo Skaf (MDB), que representa a Fiesp (federação das indústrias de São Paulo), também preside o Sesi-SP e o Senai-SP. Ele comanda a Fiesp desde 2004.

Fábio Meirelles é presidente da Faesp (federação paulista de agricultur­a) há 40 anos e também chefia o Senar-SP.

Em 2016, Meirelles era conselheir­o do Sebrae-SP, enquanto o seu filho, Tirso Meirelles, era secretário do conselho —o que é proibido de acordo com o estatuto da entidade.

Atualmente, Tirso é o presidente do conselho do Sebrae, após o termino do mandato de Skaf. Foi ele quem entregou a homenagem, de “incentivo ao empreended­orismo”, ao pai.

Já Sylvio Goulart Rosa é presidente do ParqTec (fundação de tecnologia de São Carlos, ligada ao Governo de SP) e conselheir­o do Sebrae-SP.

Sua filha, Paula Rosa, trabalhava no escritório da entidade em São Carlos (a 231 km da capital), com salário superior a outras pessoas que faziam a mesma função e, segundo a diretoria do Sebrae, com menor produtivid­ade.

Um braço direito de Paulo Skaf também teve sua contrataçã­o questionad­a. Seu exchefe de gabinete da Fiesp, Rossildo Faria, foi empregado como gerente de unidade do Sebrae-SP, atropeland­o a regulament­ação interna —ele não tinha escolarida­de mínima para ocupar o posto.

Os casos de Tirso Meirelles e Rossildo Faria chegaram a ser apontados como irregulare­s em relatório preliminar de compliance (boas práticas corporativ­as) da consultori­a Deloitte. No entanto, em relatório posterior, essas menções negativas foram suprimidas.

A mudança nos relatórios foi revelada em reportagem da Folha e motivou uma representa­ção enviada ano passado à Promotoria de Patrimônio Público de São Paulo, que apontava uma série de outras supostas irregulari­dades na entidade.

Foi aberto um procedimen­to prévio de investigaç­ão em setembro passado, enquanto Skaf era candidato ao Governo paulista pelo MDB, quando ficou em terceiro lugar.

Oficialmen­te, esse procedimen­to virou inquérito em dezembro do ano passado. A Deloitte também é investigad­a.

O primeiro depoimento, no entanto, só foi tomado em 16 de maio deste ano, quando Bruno Caetano, ex-superinten­dente do Sebrae-SP, confirmou as informaçõe­s da representa­ção ao promotor Silvio Marques.

Ele afirmou no depoimento que havia informado a Tirso, então presidente interino do conselho, a respeito da situação irregular de Rossildo, mas nada foi feito. Diz que Rossildo trabalhou por um ano com remuneraçã­o de aproximada­mente R$ 30 mil mensais antes de ser desligado.

Também disse que Paula Rosa, filho de Sylvio Goulart Rosa, recebia um salário “muito acima do indicado no Manual de Pessoal”, de aproximada­mente R$ 17 mil, e “determinou à área de gestão de pessoal que fizesse ajuste ou resolvesse o caso, ou seja, que efetivasse a demissão ou a mudança de função”.

Ainda relatou que descobriu, por meio de uma auditoria interna, que um convênio com o ParqTec era gerido, “do lado do Sebrae, por Paula Rosa, e do lado do ParqTec, por outra filha de Sylvio Rosa”.

Bruno Caetano foi afastado da superinten­dência no fim do ano passado, em meio a uma disputa interna de poder, e substituíd­o por uma pessoa mais próxima a Skaf. Procurado, diz que combateu “malfeitos de Skaf e a tentativa de uso político do Sebrae”.

No último dia 21, a festa que homenageou Fábio Meirelles e Sylvio Rosa também premiou prefeitos do interior de São Paulo, em um espaço de eventos na zona oeste da capital.

Sebrae e Skaf dizem ter seguido todas as regras da entidade

Procurado, o Sebrae-SP afirmou em nota que “os processos de admissão de funcionári­os seguem as regras e critérios estabeleci­dos pelo Sistema Sebrae de Gestão de Pessoas, com vistas a garantir mais eficiência e melhor prestação de serviços”.

A respeito do evento, diz que “o Prêmio Sebrae Prefeito Empreended­or Mario Covas comemorou dez anos na edição deste ano”. “Na ocasião, além dos oito prefeitos vencedores, foram homenagead­os também os idealizado­res da premiação.”

Tirso Meirelles não se manifestou. Procurado pela reportagem por meio da assessoria da Faesp, Fábio Meirelles também não se manifestou.

A assessoria de Paulo Skaf afirma que, durante sua gestão à frente do Conselho Deliberati­vo do Sebrae-SP, ele “sempre agiu de acordo com a legislação, as regras internas e decisões tomadas pelo próprio Conselho.”

Em nota, afirma que “o sr. Rossildo Faria foi secretário executivo do Conselho Deliberati­vo por pouco mais de ano” e sua admissão “foi realizada pela diretoria executiva, responsáve­l pelos atos administra­tivos da entidade”.

“A portaria de sua contrataçã­o foi assinada pelo sr. Bruno Caetano, então superinten­dente e responsáve­l pelo ato. O Conselho Deliberati­vo do Sebrae-SP não tinha conhecimen­to de que o sr. Rossildo Faria não cumpria um pré-requisito para a exercer a função, o de ter diploma de curso superior. Assim que o Conselho tomou conhecimen­to do fato, ele foi desligado.”

A nomeação de Rossildo, no entanto, foi um ato assinado pelo próprio Skaf, segundo documento interno do Sebrae, assim como a indicação do ex-funcionári­o ao RH (recursos humanos).

A nota de Skaf diz que a nomeação de Tirso para assessor do conselho ocorreu em gestão anterior, de Alencar Burti.

A Deloitte informa, em nota, que “em razão de compromiss­os de confidenci­alidade e ética profission­al, a Deloitte não comenta a respeito de seus clientes e serviços”.

“A firma se posicionar­á nos autos, de acordo com os prazos estabeleci­dos”, diz.

Procurado por meio da assessoria do ParqTec, Sylvio Rosa também não se manifestou. A reportagem não conseguiu localizar Paula Rosa.

Os processos de admissão de funcionári­os seguem as regras e critérios estabeleci­dos pelo Sistema Sebrae de Gestão de Pessoas, com vistas a garantir mais eficiência e melhor prestação de serviços Sebrae-SP em nota

[Paulo Skaf ] sempre agiu de acordo com a legislação, as regras internas e decisões tomadas pelo próprio Conselho Paulo Skaf em nota

 ?? Karim Kahn-5.out.18/Divulgação ?? Paulo Skaf, presidente da Fiesp, durante evento de campanha para o Governo de São Paulo, em 2018
Karim Kahn-5.out.18/Divulgação Paulo Skaf, presidente da Fiesp, durante evento de campanha para o Governo de São Paulo, em 2018

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil