Folha de S.Paulo

Balsas velhas com motores precários cruzam litoral de SP

Embarcaçõe­s das décadas de 1950 e 1960 têm desgaste; serviço será concedido, diz governo Doria

- Klaus Richmond

Trinta e dois motores avaliados em situação crítica, dos quais 18 considerad­os condenados por desgaste excessivo. Balsas fabricadas nas décadas de 1950 e de 1960 com marcas aparentes de ferrugem, corrosão e pintura descascada. Cinco balsas com atividades interrompi­das por inspeção da Marinha.

O cenário resume as condições das embarcaçõe­s que realizam as duas principais travessias de balsas no litoral de São Paulo, entre Santos e Guarujá, na parte sul, e São Sebastião e Ilhabela, ao norte. Elas recebem, respectiva­mente, uma média de 25 mil e 4.000 veículos diariament­e.

“A situação das balsas está um caos. Nosso estaleiro virou uma UTI. Estamos correndo contra o tempo para salvar o que podemos”, diz o secretário estadual de Logística e de Transporte­s de São Paulo, João Octaviano Machado Neto.

No final do último ano, só 17 de 68 motores foram avaliados como em bom estado. Alguns, de 1988, têm mais de 30 anos de fabricação.

“Podemos dizer que todo o trecho opera em sistema de emergência. Não temos embarcaçõe­s reserva. A vida útil de um motor é por hora. Até 8.000 horas de uso, talvez 10 mil, podemos trabalhar. Havia alguns com mais de 15 mil”, afirma o diretor de operações da Dersa João Luiz Lopes.

A nova gestão da empresa pública controlada pelo governo estadual concluiu neste ano a compra de 30 novos motores e de peças sobressale­ntes. Foram pouco mais de R$ 10 milhões em investimen­tos e embarcaçõe­s levadas prontament­e ao estaleiro para reformas.

“Esperamos entre julho e agosto, com a liberação de três balsas em manutenção, melhorar o fluxo considerav­elmente”, afirma Lopes.

Ao todo, a empresa conta com 34 embarcaçõe­s e é responsáve­l por oito travessias no estado, a principal delas entre Santos e Guarujá.

A empresa também realiza travessias entre Guarujá e Bertioga, Ilhabela e São Sebastião, Iguape e Juréia, Cananéia e continente, Cananéia e Ilha Comprida e Cananéia e Ariri, além da travessia por lanchas de passageiro­s entre Santos e Vicente de Carvalho.

A corrida contra o tempo é para conseguir funcionar com o limite máximo de balsas por travessia e evitar o cenário de filas quilométri­cas, motoristas nervosos aguardando e muito buzinaço.

Todas as balsas com problemas estão em circulação e têm sido retiradas gradativam­ente para substituiç­ão das peças. Só neste ano, o Procon de Guarujá multou a Dersa em R$ 810 mil pelo tempo excessivo de espera e a falta de informação a usuários do serviço.

Entre janeiro e junho, a Marinha inspeciono­u 44 balsas da Dersa; 15 delas foram notificada­s por algum reparo ou pela ausência de materiais suficiente­s de salvatagem.

Atualmente, entre Santos e Guarujá, há cinco balsas em operação e duas em manutenção. Algumas já receberam motores novos e outras, motores recondicio­nados. Há embarcaçõe­s que funcionam com dois motores; outras, maiores, com quatro.

Em janeiro, no estaleiro da empresa, até mesmo a carreira, trilhos utilizados para colocar as balsas em terra para manutenção, estava desativada.

A nova diretoria da Dersa, empossada em janeiro, diz que a empresa conta hoje com uma equipe de manutenção noturna para reparos no período de menor demanda. Há, também, mergulhado­res contratado­s para visualizar situações emergencia­is.

O governo João Doria (PSDB) já disse publicamen­te que a Dersa, empresa criada em 1969, seria extinta até o fim deste ano e que a concessão das travessias de balsas seria transferid­a à iniciativa privada já no próximo ano.

“Não vamos investir além dos motores e peças, não há previsão para compra de novas balsas. Trabalhamo­s para consolidar o modelo de privatizaç­ão que, segurament­e, trará novos rumos para a travessia”, diz Machado Neto.

Em março, à Rádio Bandeirant­es, Doria disse que, após a concessão, a travessia de balsas contará com um equipament­o moderno e sistema eficiente, sem que isso se reflita em aumento da tarifa.

Procurada, a Dersa diz que ainda não há informaçõe­s sobre o que mudará, na prática, para o bolso dos usuários com a privatizaç­ão. Até o momento, a empresa não tem plano de aumento de tarifas. O último reajuste ocorreu em 1º de julho de 2018, em 2,85%.

O valor da travessia Santos-Guarujá é de R$ 12,30 para automóveis e caminhonet­es; R$ 6,20 para motociclet­as, motonetas, ciclomotor­es, carrinhos de sorvete e similares; R$ 24,70 para automóveis com reboque; R$ 43,30 para ônibus e caminhões com dois eixos; R$ 98,60 para ônibus e caminhões com três eixos; e R$ 123,40 para caminhões com reboque ou semirreboq­ue.

A frota mais recente de balsas já tem mais de seis anos, é de 2013. Em Ilhabela, a prefeitura afirmou que tem cobrado constantem­ente a Dersa por manutenção das embarcaçõe­s e melhorias no sistema de embarque e desembarqu­e. A cidade diz que formalizou ao estado em 2018 a necessidad­e de melhorias na travessia, com a aquisição de novas balsas e a recuperaçã­o de atracadour­os.

Em Santos e Guarujá, a aposta para aliviar o sistema estava em lei municipal, sancionada em abril em Guarujá, que limita em 20 minutos o tempo máximo de espera na fila da travessia. A medida, no entanto, tem sua constituci­onalidade questionad­a.

Em Santos, lei similar foi vetada pelo prefeito após aprovação pela Câmara.

“Podemos dizer que todo o trecho opera em sistema de emergência. Não temos embarcaçõe­s reserva. A vida útil de um motor é por hora. Até 8.000 horas de uso, talvez 10 mil, podemos trabalhar. Havia alguns com mais de 15 mil João Luiz Lopes diretor de operações da Dersa

 ?? Fotos Eduardo Anizelli/Folhapress ?? Vista aérea das balsas no estaleiro do governo estadual em Guarujá (SP); só 17 dos 68 motores das embarcaçõe­s estão em bom estado
Fotos Eduardo Anizelli/Folhapress Vista aérea das balsas no estaleiro do governo estadual em Guarujá (SP); só 17 dos 68 motores das embarcaçõe­s estão em bom estado
 ??  ?? Funcionári­o trabalha na manutenção de balsa no estaleiro estadual em Guarujá (SP)
Funcionári­o trabalha na manutenção de balsa no estaleiro estadual em Guarujá (SP)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil