Folha de S.Paulo

Guedes acelera bonde do Tigrão

- Vinicius Mota

Tigrão está solto. O ministro Paulo Guedes entrou em mais um de seus transes periódicos. Rosnou para a Câmara dos Deputados e acabou de trucidar um chefe do BNDES que já havia sido crivado pela artilharia presidenci­al.

Tidos como astutos, os grandes felinos costumam ser parcimonio­sos no emprego de seu poder de destruição. Não este exemplar. Ataca quando tudo parece encaminhad­o. Investe contra carniça da própria espécie.

Meninos e meninas da Faria Lima acordarão nesta segunda (17) confusos com seu ministro de estimação. Talvez comecem a negociá-lo no preço justo, como outro foco de instabilid­ade num governo repleto deles.

Mas, se observarem bem, verão que o predador não está assim tão provido. As garras e os dentes não metem medo no Congresso, onde o apoio ao governo Bolsonaro se reduz a uma minúscula patota no jardim da infância da política.

Como administra­dor, mostra-se um bom vendedor de terreno na Lua. Fala em arrecadar R$ 1 trilhão (risos) com privatizaç­ões, misturar água e óleo na tributação e implantar um regime extemporân­eo de capitaliza­ção na Previdênci­a. Menosprezo­u a Argentina e, meses depois, deu curso à fábula da moeda única com o país vizinho.

Tigrão às vezes não é o dono do pedaço nem sequer na sua pasta. Foi ignorado no episódio em que Bolsonaro deu uma de Maduro e mandou a Petrobras cancelar reajuste. Partiu para cima de Joaquim Levy só depois que o chefe gritou “pega”.

Os percalços da aventura Paulo Guedes não surpreende­m os analistas que conheciam a sua personalid­ade e as dificuldad­es políticas de implantaçã­o de qualquer agenda reformista numa sociedade complexa e democrátic­a como a brasileira.

A redução das expectativ­as gerais quanto ao “superminis­tro” ajuda a consolidar o cenário em que as lideranças do Congresso conduzem a parte mais importante do jogo, enquanto no Executivo o baile funk não para. Quer dançar?

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