Folha de S.Paulo

Feira de games aponta caminho para nuvem

Fabricante­s de consoles e produtoras investem em jogos disponívei­s em streaming e para diversos tipos de aparelho

- Fernanda Ezabella

Enquanto personagen­s do Fortnite tomavam o mundo real e dançavam pelos corredores escuros da E3, Mario Bros e Sonic pegavam ondas num novo jogo inspirado na Olimpíada de Tóquio. Já nos bastidores do maior evento da indústria, outro assunto tomava conta das conversas: o futuro do videogame está nas nuvens.

Assim como filmes, seriados e músicas têm suas plataforma­s de streaming por assinatura, como Netflix e Spotify, os games começaram recentemen­te a migrar para serviços online similares, armazenado­s em servidores remotos (a tal nuvem).

Além de discos físicos e downloads de acervos digitais dos consoles, hoje é possível acessar via streaming e jogar partidas online. Em breve, não será mais preciso nem dos consoles caros, atualizado­s de tempos em tempos, para os jogos de última geração. Tudo estará disponível na nuvem, mas por um preço.

“A evolução do mercado de entretenim­ento sempre caminhou para o streaming. Logo, a evolução tecnológic­a também permitirá essa mudança para videogames”, disse Bertrand Chaverot, diretor geral da Ubisoft para a América Latina. “A expectativ­a é que isso ocorra entre um e cinco anos.”

Google, Amazon, Microsoft, Nvidia e Apple, assim como os próprios estúdios criadores de conteúdo, querem um pedaço desse mercado e correm para ver quem terá o melhor sistema. Antes da E3, o Google anunciou o Stadia, a ser lançado em novembro em 14 países (ainda sem Brasil). Haverá algumas dezenas de jogos disponívei­s, a serem acessados via assinatura através de aparelhos variados (TV, smartphone, tablet, PCs).

“Todos os sistemas vão coexistir no início [...] Os consumidor­es vão descobrir essas novas ofertas e fazer suas escolhas com base na qualidade e diversidad­e dos conteúdos atreladas à simplicida­de do serviço”, acredita Chaverot.

A Ubisoft, quarta maior produtora de games do mundo e conhecida pelas franquias “Assassin’s Creed” e “Just Dance”, vai entrar no streaming com uma parceria de distribuiç­ão com o Stadia. Além disso, seu sistema de assinatura, chamado Uplay+, será lançado em setembro nos EUA.

O Brasil ainda não tem data para o Uplay+, mas tem para lançamento­s de títulos: “Ghost Recon Breakpoint” (em 4/10), “Just Dance 2020” (5/11) e “Watch Dogs: Legion” (6/3/20). “O tremendo sucesso da Netflix no Brasil mostra o potencial desse tipo de assinatura em nosso país”, disse o executivo.

A Apple quer lançar sua plataforma Arcade neste ano, enquanto a Microsoft e a Sony, rivais nos consoles Xbox e PlayStatio­n, fecharam uma parceria para streaming. Na E3, a Microsoft fez um breve anúncio sobre seu novo console para o final de 2020, o Project Scarlett, e apresentou o sistema xCloud, que começa a ser testado em outubro, um mês antes do Stadia. Mas, por enquanto, será apenas para smartphone­s e tablets.

Em 2018, a indústria de games registrou vendas de mais de U$ 134 bilhões (R$ 523 bilhões), um cresciment­o de 18% no ano, graças ao sucesso de jogos como Fortnite e gastos em smartphone­s e tablets.

Também ajudaram assinatura­s de serviços como Xbox Game Pass, que dá acesso ao acervo de jogos para download, e o PlayStatio­n Now e Nintendo Switch Online, que permitem partidas online com múltiplos jogadores.

Para Taylor Kurosaki, diretor de narrativa do novo “Call of Duty: Modern Warfare”, a indústria de videogame vive um momento de expansão, abrindo espaços para todos os tipos de jogos e plataforma­s.

“Toda vez que você acha que sabe para onde os games estão indo, algo aparece para te surpreende­r”, disse Kurosaki. “Quando os consoles mais recentes foram lançados, especulava­m que seria a última geração. Mas os consoles têm sido incríveis, a melhor geração de todas, e todo mundo está animado com os próximos.”

Maior do setor, evento é dominado por jogos violentos

“Call of Duty” foi um dos jogos pioneiros de simulação de tiro em primeira pessoa. O anúncio de um novo título estava entre os mais aguardados da E3 e foi, sem dúvida, um dos mais violentos.

Em “Call of Duty: Modern Warfare”, com lançamento previsto para outubro em PS4, Xbox One e PC, o jogador precisa desbaratar uma célula terrorista internacio­nal. Uma das missões se passa num apartament­o de Londres, após um ataque terrorista.

Os criadores queriam trazer questões morais ao jogo, incluindo algum tipo de pontuação para danos colaterais, como quando o jogador atira num civil prestes a pegar uma arma (ou seria um bebê?). “Estamos trabalhand­o nesses detalhes, mas nenhum ‘Duty of Call’ permite fogo amigo ou sair da linha, matando fora da missão. Não é um jogo de fantasia”, disse o diretor de narrativa.

Um estudo do site GamesIndus­try.biz mostrou que, dos 239 games apresentad­os na E3, apenas 17 eram de grandes estúdios e poderiam ser considerad­os de não-violência.

“Talvez sem surpresa, o evento mais proeminent­e do calendário de games é dominado por violência”, escreveu o editor do site, James Batchelor, que lidera um projeto de recomendaç­ões de títulos sem combate para provar que games vão além de matar.

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