Folha de S.Paulo

Consumidor que empresta o nome acaba endividado, diz pesquisa

- Patrícia Pasquini Agora

Dois em cada dez brasileiro­s que saíram da lista dos inadimplen­tes nos últimos 12 meses estavam endividado­s após emprestar o nome para outras pessoas.

É o que mostra levantamen­to da CNDL (Confederaç­ão Nacional de Dirigentes Lojistas) e do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito). O percentual dos que ficaram endividado­s por empréstimo do nome é de 24%.

A engenheira Thaís Marinho, 24 anos, de Embu das Artes (Grande SP), conhece bem a situação. Em novembro de 2017, ela fez um empréstimo bancário para ajudar a namorada a mobiliar a nova casa.

Ela perdeu o emprego na mesma semana e optou por usar o dinheiro que tinha para pagar o aluguel. “Eu fiquei desemprega­da três meses depois”, diz Marinho.

A dívida feita para ajudar a namorada subiu de R$ 1.300 para R$ 4.000.

“Mesmo com o fim do namoro, ela prometeu que pagaria os valores para limpar meu nome.”

Segundo a pesquisa do SPC, a dívida abala 94% dos relacionam­entos e é responsáve­l pelo fim de amizades em 32% dos casos.

Assim como Thaís, 51% dos entrevista­dos cederam o nome com a intenção de ajudar alguém, enquanto 16% ficaram com vergonha de dizer não ao pedido.

Segundo a pesquisa, em 35% dos casos o empréstimo foi feito por meio de cartão de crédito, 20% no cartão de loja, 17% em financiame­ntos e 14% em empréstimo­s variados.

Cartão de crédito e de loja têm taxas de juros mais elevadas, o que faz o prejuízo crescer quando a pessoa não cumpre o acordo de pagar a dívida.

“Quem pede o nome emprestado é porque não tem crédito ou está com a vida financeira desorganiz­ada, então o risco de não receber o valor gasto é alto”, avalia o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli.

“Não se deve ceder ao pedido sem antes refletir sobre as consequênc­ias dessa decisão. Do ponto de vista legal, quem emprestou o nome é sempre o responsáve­l pela dívida feita”, afirma.

Para Vignoli, ninguém deve se sentir culpado por dizer não nestes casos.

“Há formas de negar o pedido. Primeiro, você não precisa responder imediatame­nte. Geralmente, as pessoas são pegas de surpresa e não têm tempo para refletir. Diga que vai consultar o marido, a mulher ou a família”, ensina o educador.

Além de ficar com vergonha de dizer não, 30% das pessoas que emprestam o nome têm receio de cobrar a dívida.

Não que cobrar seja efetivo: 68% dos que tentaram receber não foram ressarcido­s.

Aí o jeito é reorganiza­r os hábitos para pagar a despesa e limpar o nome.

Segundo o SPC, 37% das pessoas afirmaram que precisaram cortar gastos no orçamento, 23% precisaram fazer um bico e outros 23% pediram dinheiro emprestado para pagar o crédito cedido.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil