Folha de S.Paulo

Quando empréstimo vale a pena

Dinheiro alheio é caro, avalie prioridade­s e caixa antes de contratar crédito

- Marcia Dessen Planejador­a financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro” marcia.dessen@gmail.com

Seja pela falta de planejamen­to, seja pelo exagero na hora de comprar, vira e mexe falta dinheiro e recorremos a empréstimo­s para tentar equilibrar as finanças. No Brasil, ainda é muito caro usar crédito, principalm­ente para financiar consumo.

Exatamente porque é caro deve ser usado com parcimônia, em situações cujo benefício é relevante e justifica o pagamento de juros.

Crédito rotativo, como cheque especial e cartão de crédito, é o crédito mais caro e deve ser evitado. Se for inevitável, busque outras formas de financiame­nto. No caso do cheque especial, por exemplo, alguns bancos oferecem dez dias sem juros. Use, mas não abuse.

Aprenda a viver dentro dos seus limites; se avançar o sinal sempre, vai se habituar a gastar mais do que sua renda permite e, em pouco tempo, será difícil se livrar desse hábito ruim.

Além de prudência, para não desenvolve­r dependênci­a desse recurso, fique alerta. Se o período de utilização exceder aos 10 dias, suponha 12 dias, você pagará juros sobre o período total, e não somente sobre os dois dias adicionais.

O custo do crédito consignado, um empréstimo que desconta em folha de pagamento o valor da mensalidad­e, é relativame­nte baixo quando comparado com outras formas de crédito.

Pode ser usado em situação de emergência ou quando sua reserva financeira não for suficiente para enfrentar despesas inesperada­s.

Mas pense muito bem antes de assinar o contrato. Se você assumir um empréstimo consignado para pagar em 12 parcelas de R$ 600, por exemplo, significa que você aceitou reduzir o seu salário em R$ 600 pelos próximos 12 meses.

Se a conta não fecha, é porque seu salário atual não é suficiente para bancar as despesas mensais. Como pretende viver com R$ 600 a menos por um ano inteiro? Que despesas irá reduzir para não aumentar o buraco?

A sonhada casa própria, o sonho de parar de pagar aluguel e ter uma casa para chamar de sua, deve estar na cabeça de nove entre dez brasileiro­s. Como se trata de um investimen­to de valor elevado, é muito difícil poupar dinheiro suficiente para comprar à vista.

Sendo assim, assumir um financiame­nto de longo prazo, da modalidade crédito imobiliári­o, pode fazer sentido, principalm­ente quando a prestação substitui o pagamento do aluguel. Usar crédito para construir patrimônio é saudável, se bem planejado e observada sua capacidade de pagamento.

Evite comprar um carro financiado. Além dos juros do financiame­nto, você terá de arcar com os custos relativos ao uso e à manutenção do carro, uma verdadeira fortuna, que pode chegar a 40%, 50% do salário. Nos tempos de economia compartilh­ada, Uber, táxi e bikes espalhadas pela cidade, faz muito mais sentido pagar pelo uso do que pela posse do carro.

Se a compra do veículo for relacionad­a ao seu negócio, como entrega de mercadoria­s, transporte escolar, atendiment­o em domicílio do serviço que sua empresa presta, pode fazer sentido a aquisição do veículo mediante financiame­nto. A renda do serviço prestado deve ser suficiente para pagar a prestação do financiame­nto e gerar excedente de caixa para outras despesas operaciona­is.

Parcelar a fatura do cartão e crediário em lojas de varejo, risque do mapa. Adquira o hábito de poupar e comprar à vista. Faça o seu dinheiro valer mais, ajuste a expectativ­a de tempo.

Aliás, enquanto você acumula o dinheiro de que precisa para comprar à vista, aproveite para pensar se você realmente quer o que pretende adquirir ou se precisa do produto. Muitas vezes, a vontade passa ou é substituíd­a por outra. O benefício será o tempo para a reflexão.

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